1ª conferência do Paraná foi 10

Autor: Julian Carlo Fagotti

 

Com mais de 1.500 pessoas, a 1ª Conferência Internacional de Software Livre realizada no Paraná foi um sucesso. Haviam participantes de todas as regiões do Paraná e de vários pontos do Brasil. Foram 46 palestras e debates divididos entre os dias 5, 6 e 7 de novembro de 2003. A abertura do evento foi feita pelo Ministro das Cidades, Olívio Dutra, o Secretário Especial para Assuntos Estratégicos do Paraná, Nizan Pereira, o presidente da Companhia de Informática do Paraná - Celepar, Marcos Mazoni, Djama Valois, Jon MadDog Hall, e Denis Galvão, representando o Movimento Software Livre Paraná, além de contar com a presença do Secretário de Comunicação do Paraná, Airton Pisseti, e outras autoridades locais. Entre os palestrantes, nomes internacionais e nacionais de peso, ou mesmo mais leves, do mundo do software livre:

- Jon “MadDog” Hall - Diretor executivo da Linux Internacional

- Timothy Ney - Diretor Executivo da Gnome Fundation

- Dajalma Valois - Diretor do Comitê de Incentivo à Produção do Software GNU e Alternativo - Cipsga

- Rogério Santana - Secretário de Logística e Tecnologia da Informação (Ministério do Planejamento)

- Sérgio Amadeu - Presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (Casa Civil)

As palestras variavam o enfoque, indo do técnico ao jurídico, passando pela questão de gênero da comunidade de software livre - “Software Livre é coisa para macho” das Gnurias.

A grade de programação foi composta competentemente por Cesar Brod, da Solis.

Hipócritas e Microsoft

Dias antes do evento surgiu uma polêmica sobre o patrocínio da Microsoft. Gerou algumas listas de discussões da comunidade nacional de software livre. Foi a primeira vez que a Microsoft patrocinou um evento de software livre no país, e pode-se dizer que foi um marco.

Segundo MadDog foi correta a participação da Mircosoft no evento, pois a comunidade de software livre não pode ser hipócrita (inclusive, produtos como o Open Office e o Mozilla, por exemplo, são feitos para funcionarem tanto no Linux como no Windows). O Guru americano, ainda argumentou que a Microsoft deveria aceitar a participação dos produtos de software livre nos seus eventos, porque se não aceitasse, a hipocresia seria da Microsoft.

O sucesso do evento acabou definitivamente com a polêmica. Apesar da nota da Folha de São Paulo que alguns técnicos do governo federal boicotariam o evento. Resta saber se foi boicote ou falta de dinheiro para a passagem para Curitiba.

O Movimento Software Livre Paraná

Lançado pelo Governador do Paraná, Roberto Requião, no dia 27 de maio de 2003, num evento com mais de 900 pessoas, o Movimento Software Livre Paraná, abriga todos que queiram ajudar a divulgar, usar e desenvolver o software livre. O Movimento não tem caráter partidário, mas sim ideológico, pois o software livre tem, na sua formulação, princípios que se não cumpridos descaracterizam sua distribuição e desenvolvimento. O nome movimento, em vez de projeto, deu-se pelo fato do Paraná ter-se organizado antes das iniciativas do Governo Federal, antes de ter um Projeto Software Livre Brasil, e sua dissiminação pelos estados. Em favor do software livre o Paraná, sempre que possível, articular-se-á e apoiará com outros estados e com o governo federal, sendo o nome apenas um detalhe.

Inclusão digital no Paraná é com software livre

Uma das palestras mais concorridas foi a que tratava sobre inclusão digital no Paraná. Os projetos dos Telecentros Paranavegar e dos laboratórios de informática nas escolas da rede pública estadual são as ações mais significativas para minimizar a diferença entre conectados e não conectados à rede mundial de computadores.

Os Telecentros Paranavegar são de iniciativa da Secretaria Especial para Assuntos Estratégicos do Paraná. São convênios entre o Estado e a Sociedade para montar e manter espaços com computadores e conexão à Internet de acesso gratuito para a população.

Os laboratórios de informática para as escolas têm como início do projeto o Portal da Educação. Neste portal, os professores da rede pública estadual serão os primeiros a serem inclusos digitalmente e poderão exercer uma série de atividades preparatórias às suas aulas, fiscalizar os recursos das escolas, acrescentar conteúdos. Em seguida virá a instalação dos laboratórios para acesso aos alunos. Ambos os projetos são executados pela Companhia de Informática do Paraná - Celepar e parcerias, como a Universidade Federal do Paraná, prefeituras e associações.

Timothy Ney: o futuro é voltar ao passado

Diretor-executivo da Gnome defende espírito de colaboração e elogia telecentros de São Paulo. O diretor-executivo da Gnome Foundation, Timothy Ney, defendeu durante a palestra que fez nesta quinta-feira para os mais de 1500 participantes da Conferência Internacional Software Livre Brasil, em Curitiba, que o espírito de colaboração e compartilhamento do saber que havia nos primórdios da informática e que fundamenta o software livre é o melhor caminho para o desenvolvimento tecnológico. “O futuro é voltar ao passado”, resumiu. Segundo Ney, a licença pode ser boa como negócio, mas é ruim para os usuários e desenvolvedores, e fechou as portas da tecnologia para muitos que não tinham como pagar por ela.

Ney disse ter ficado encantado com a visita que fez esta semana a telecentros de São Paulo. “A verdadeira liderança no software livre está no Brasil. Não temos projetos como o dos telecentros nos EUA. Nesse sentido, vocês estão muito à frente”, disse.

Segundo o diretor-executivo da Gnome, o desafio, agora, para o software livre é desenvolver aplicações de acordo com as necessidades de cada tipo de serviço. “O uso do Linux cresce cada vez mais nas empresas. A fronteira agora está em descobrir necessidades e criar as aplicações adequadas”, disse.

“Brasil é estrela cintilante do software livre”

O presidente da Linux International, Jon ‘Maddog’ Hall, fez uma das palestras mais aguardadas da conferência.Maddog, um dos embaixadores mais festejados do software livre em todo o mundo, relatou algumas experiências que conheceu em suas incontáveis viagens e elogiou o cenário brasileiro: “O Brasil é uma estrela cintilante do software livre, com projetos envolvendo governo, empresas e escolas”, disse. Maddog disse reconhecer o direito ao copyright, mas ressaltou que ele não pode durar décadas. “Um software de cinco anos de idade pode ser considerado antigo”, explicou. Para Maddog, o software livre é uma revolução sem volta: “Cedo ou tarde as empresas que não quiserem continuar no mercado terão de se adaptar ao software livre. O software proprietário ficará restrito a pequenos grupos de usuários que lidarão com programas muito específicos e caríssimos”, disse.


Jornalista: Karina Bueno
Informações e fotos do evento em: www.softwarelivreparana.org.br

Foto 1. Jon MadDog Hall, Presidente da Linux International com
representante do Movimento Software Livre Paraná.
Ambos segurando o símbolo do movimento.

Foto 2. Mais de 1500 pessoas na conferência

Foto 3. Jon MadDog Haal, Sérgio Amadeu (Presidente do ITI),
Jorge Ereda (Secretário Nacional da Habitação), Nizan
Pereira (Secretário Especial para Assuntos Estratégicos),
Marcos Mazoni (Presidente da Celepar), Djalma Valois
(fundador da CIPSGA) e Denis Galvão (representando o
Movimento Software Livre Paraná), durante a palestra
do Ministro das Cidades, Olívio Dutra.

Foto 4. Mazoni assiste palestra de Thimoty Ney, da Gnome Foundation.