Análise semântica

Autor: Alberto Pucci Junior


ANÁLISE SEMÂNTICA

A análise semântica é uma técnica que faz parte do método MEASUR- Método para identificar, Analisar e Especificar necessidades do Usuário. Este método foi desenvolvido dentro do projeto LEGOL/NORMA na London School Of Economics and Political Science da Universidade de Londres sob a coordenação de Ronald Stamper de 1973 até 1988 e a partir desta data o projeto vem sendo conduzido na School of Managemente Studies da Universidade de Twente na Holanda.

O método MEASUR enfoca, primariamente a especificação de requerimentos, aos invés de destacar a construção do sistema computadorizado, como os métodos tradicionais, que, além disso, enfatizam o movimento das mensagens e o armazenamento e recuperação de registros e lidam com a organização como se esta fosse um grande sistema de encanamentos por onde corre a informação. Ao contrário disto, o método MEASUR se concentra nas pessoas e em seus grupos sociais.

A base da filosofia do método vem das ciências sociais e considera os sistemas de informação como sistemas sociais e acredita que somente quando conseguirmos inserir correta e adequadamente o sistema computadorizado no sistema social é que os dados que este contém passarão a ter algum sentido, expressarão conhecimento ou suportarão comportamento inteligente.

A análise semântica é a principal técnica do método MEASUR, cujo desenvolvimento procurou responder a quatro questões fundamentais:

* Como podemos descrever um sistema social como um sistema de informação, com o máximo de precisão formal compatível com a intrínseca natureza informal das interações sociais?
* Como podemos lidar analiticamente com os problemas semânticos que devem ser resolvidos pelo analista de sistemas e o projetista com o usuário sempre que um sistema computadorizado é desenvolvido?
* Como podemos escapar da armadilha da Análise de Sistema onde metodologias atuais parecem gerar um pesadelo burocrático em forma de documentação obscuras e onde nós perdemos de vista os problemas essenciais do negócio?
* Como podemos aperfeiçoar as metodologias para analisar e especificar as necessidades do negócio antes que a tarefa de engenharia de software seja iniciada?

Desde o início ficou bem claro que as linguagens tradicionais baseadas na lógica clássica eram inadequadas para a representação das normas dos sistemas sociais, de negócio ou do direito (legislação). Foi necessário que se desenvolvesse uma lógica que levasse em consideração a interpretação subjetiva da realidade. LEGOL( LEGally Oriented Language), considerada como a linguagem de manipulação do conhecimento, foi desenvolvida, principalmente, aplicando-se à confecção e interpretação das leis. NORMA (NORMs and Affordances) é considerada a linguagem de representação do conhecimento e parte do princípio que os agentes constroem sua realidade através de suas ações. No lugar da noção de verdade usada pela lógica tradicional, NORMA utiliza a noção de responsabilidade. Esta linguagem de representação considera também que nós só temos acesso ao aqui-e-agora; o tempo é tratado como uma noção cultural como outra qualquer e, para terem os acesso ao passado ou futuro, necessitamos de uma construção semiológica (sinais) . A colaboração da semiótica (principalmente a teoria de Charles Morris) para o método, portanto, é fundamental e nos permite entender a comunicação entre os agentes.

NORMA nos permite descrever como o agente (uma pessoa, um grupo social, uma companhia) age e sofre a ação do ambiente. Este relacionamento propicia um comportamento estável e previsível e permite que haja comunicação entre os agentes. Em um certo nível de abstração, estas noções invariáveis persistem como no exemplo de idéia de que uma cadeira é utilizada para suportar uma pessoa que se senta, e não envolve o número de pernas, o material empregado, ou se tem apoio para o braço ou não. O agente no seu relacionamento com o meio ambiente tem uma séria de modos de se comportar ou agir estáveis e previsíveis. Para indivíduos, estes são chamados de “affordances” ( teoria de J.J.Gilbson), enquanto que para grupos de agentes este comportamento é uma norma.

A dependência ontológica é outra noção básica para o método e garante a integridade de modelo; temos que saber o que deve existir para que outras entidades existam. O tempo, como uma noção cultural, é também tratado pelo método e todas as entidades têm um início e um fim e este início e fim é determinado por um agente responsável.

Outra vantagem adicional do método é que este evita o problema da atualização destrutiva. Nenhum registro é destruído, quando um agente ou sua realização cessa de existir; apenas registramos o seu fim e entre registro continua armazenado. Críticas podem surgir a respeito, dizendo que logo esgotaríamos os recursos de memória secundária ou os custos de armazenamento seriam muito grandes. Em resposta podemos dizer que a decisão para passar os registros para off-line deve ser uma decisão pró-ativa da organização e não se pode permitir que limitações dos sistemas de computador destruam dados importantes. Este tipo de atitude pode trazer grandes vantagens para a auditoria e aperfeiçoamento dos sistemas de informação.

Ao desenvolvermos o esquema semântico, procuramos atender os seguintes princípios:

1 – Analisar todos os termos usados para representar os fenômenos do mundo do usuário como candidatos para o esquema semântico sem modificar as palavras. Não criar um vocabulário estranho ao usuário.

2 – O sistema objeto da análise pode ser decomposto em substantivo, de comunicação e de controle, sendo que o subsistema substantivo é o mais importante.

Apresentação gráfica do esquema semântico se chama quadro ontológico (Ontology Chart) e pode ser visto na figura que se segue. Cada nó representa uma unidade semântica que tem como atributos seus antecedentes ontológicos, seu início, seu fim e a autoridade que determina seu início ou seu fim. Esta autoridade pode ser um conjunto de leis ou regras, mas mesmo assim sempre teremos uma pessoa com a responsabilidade de interpretar estas leis ou regras.

No exemplo, representamos o relacionamento da CELEPAR com seus clientes e o mercado de informática. Pessoa Jurídica encontra-se repetida por questões estéticas, mas é a mesma unidade semântica. O símbolo @ representa a autoridade responsável pela existência e significado daquela unidade semântica. As expressões entre parênteses representam o papéis desempenhados pelos agentes naquele relacionamento.

Caso a CELEPAR estivesse prestando um serviço ao cliente, esta assumiria o papel de prestador no lugar da pessoa jurídica I enquanto que o cliente estaria no papel de recebedor no lugar da pessoa jurídica II. Quanto uma terceira empresa entra no processo prestando serviços ao cliente, a CELEPAR assume o papel da pessoa jurídica III que administra ou assessora a prestação do serviço.

O retângulo embaixo de “Presta Serviços de Informática” representa um relacionamento genérico-específico onde os serviços específicos encontram-se dentro do retângulo. Nesta etapa do levantamento, não há necessidade de definirmos todos os serviços ou produtos da CELEPAR, pois a qualquer momento poderemos incluir um novo serviço ou produto no modelo: existe, sim, a necessidade de identificarmos um responsável, seja ele/ela o Diretor Presidente, o Diretor Técnico, ou qualquer outra pessoa ou grupo de pessoas que assuma a responsabilidade de dizer que a empresa está a prestar determinado serviço. Outras ferramentas como a modelagem participativa ou o modelo de entidades e relacionamento têm desperdiçado o tempo dos gerentes em infindáveis reuniões onde se tenta definir todos os produtos e serviços da CELEPAR, ao invés de buscar identificar a essência do negócio da empresa. Na minha opinião, esta deficiência é do método quando permite este tipo de desvio.

Como conclusão, podemos dizer que a análise semântica possui um grande potencial de aplicação na Administração de Dados e na Metodologia de Desenvolvimento de Serviços, principalmente nas fases de Investigação da Situação-Problema (RGENT/IP E RASCS/IP) e Modelagem da Essência da Solução (RGEN/PS E RACS/MS), pois permite compreendermos as funções essenciais do negócio e a sua natureza substantiva sem nos preocuparmos com detalhes operacionais ou de implementação.

Bibliografia

Gibson, J.J. (1977) "The Theory of Affordances" in RE Shaw and J Bransford (eds), Perceiving, Acting and Knowing, Hillsdake, N J. Lawrence Eribaum Associates.

Morris, C. (1964) "Signification and Significance", MIT Press, Cambridge, Mass.

Pucci Jr. A. (1992) "The use of Semantic Analysis in the Specification of Information Systems - Case Study". M. Sc. Report. London School of Economics. London.

Stamper, R. (1989) "MEASUR - Method for Eficiting, Analysing and Specifying User Requirements" In Computerized Assistance During the Information Systems Life Cycle. t. W. Olle (ed), North Holland.