Chegou o Word 6.0

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro- GPT


Finalmente a MICROSOFT ouviu os reclamos da enorme comunidade de usuários do Microsoft WORD de todo o mundo, e está liberando a nova versão do WORD.

Para que o leitor possa acompanhar a razão da chiadeira (e entender porque alguém passa da versão 2.0 para a 6.0. com a maior cara lavada do mundo), é conveniente um pequeno histórico sobre as diversas versões do WORD.

A primeira foi a 1.0, que lançava dois conceitos revolucionários: a utilização de interface gráfica, muitos anos antes de que o WINDOWS fosse sequer conhecido, permitindo o chamado WYSIWYG (what you see is what vou get), isto é, o itálico aparecia como itálico, o negrito como tal e assim por diante. Foi uma revolução e tanto para os WORDSTAR da vida com seus ^P^H.

O outro conceito bombástico foi o uso de estilos. Muito já se escreveu (a favor e contra) os estilos, mas é inegável que separar forma de conteúdo é um dos maiores incrementos na produtividade de qualquer produtor de textos. Muita gente seguiu este carro: aí está o VENTURA que não deixa mentir.

O WORD 1.0 foi um fracasso de público (embora não de crítica) - era muita novidade. Esta versão não chegou ao Brasil.

A 2.0 foi a primeira que veio até aqui. No mercado americano surgiu com um corretor ortográfico, o que foi outra inovação e tanto. Corrigiram-se os defeitos mais gritantes.

A 3.0 trouxe os organizadores de índice e sumário, mas também não chegou ao nosso País. Apresentou ainda a possibilidade de classificação e a realização de cálculos.

A 4.0 foi uma das mais férteis e duradouras. Nessa altura o WORD já era respeitado como um senhor programa, embora ainda perdesse a liderança de mercado para o WORD PERFECT. Trouxe outlines, melhorou o suporte para as impressoras laser que recém despontavam no mercado, e finalmente chegou ao amadurecimento. Seus erros mais boçais já haviam sido corrigidos. Pode parecer fácil, mas não é. Nesta altura os fontes do WORD 4.0 já somavam 80.000 linhas de código C, No Brasil. passamos direto da 2.0 para a 4.0.

A 5.0 trouxe mudanças cosméticas (mas muito agradáveis: perguntem para as mulheres o que elas acham dos cosméticos), melhorou a performance - aliás, uma observação: até este ponto, usar o WORD equivalia a um exercício de paciência, com a versão 5.0 ele ficou lépido e ligeiro.

Um software digno e bom de ser usado. A história acabaria aqui, se não estivesse acontecendo uma revolução, que teve nome e sobrenorne: o WINDOWS 3.1 estava estourando o mercado com vendas semanais de 30.000 unidades só nos EUA. As pessoas se deram conta que GUI era melhor do que CUI (gráfico é melhor que caractere). Os usuários imploravam um WORD for WINDOWS, e a MICROSOFT não se fez de rogada, largou logo o WORD for WINDOWS, que os íntimos conhecem como W4W, versão 1.0.

Leitor, se você tem amor a sua saúde mental, passe longe desta versão. Tudo que de ruim ela podia ter, tinha e mais um pouco. A propósito, dizem os estudiosos da engenharia de software que qualquer produto versão 1.0 é inutilizável. Não é à toa que o DBASE começou com a versão II. Nunca houve um DBASE I.

Rapidamente saiu a versão 1.1, que ainda era uma lástima. Com o amadurecimento do mercado do WINDOWS, e com um pouco mais de tempo (escrever software complexo demora para quem ainda não se apercebeu), a MICROSOFT liberou a versão 2.0, nessa altura um programa de 400.000 linhas de C.

Esta eliminava os erros mais estúpidos das versões 1.x, mas francamente, ainda era, e é, um software verde. (Nada a ver com ecologia. Chamo verde um software que ainda precisa amadurecer para que ofereça toda a sua doçura para quem o usa.) Caracterizam um software verde, aparentes loucuras, maus humores, ranhetices e idiossincrasias diversas. Por exemplo, usar estilos em W4W 2.0 é mais ou menos como subir uma escadaria de joelhos para pagar uma penitência bem braba.

Neste ponto, o fabricante deve ter ficado contente. Tinha dois campeões, um em cada mercado: a versão 5 no mundo DOS e a versão 2 no universo WINDOWS. Mas havia um problema: eram dois programas completamente distintos e não apenas na interface - o que de resto seria de esperar. Os conceitos só eram vagamente parecidos. A decisão estratégica da MICROSOFT foi: vamos ficar com um único WORD, no máximo com duas interfaces. Adivinhe leitor quem foi que dançou?

A versão DOS é claro. Esta é a razão do lançamento da versão 5.5. uma verdadeira excrescência: foi até batizada de Geni. De fato ela fez o contrário do que se propõe qualquer nova versão de software: manteve a funcionalidade e modificou (virou de cabeça para baixo) a interface, ou como se diz em programação, o sotaque do produto (... como é que eu faço para ... ). Até hoje, sempre que há uma nova versão de qualquer coisa, ela tenta fazer o contrário: expandir a funcionalidade e manter o sotaque.

Então a 5.5 serviu para unificar as caras do produto, e preparar o terreno da versão 6.0. Que chegou em duas opções: for DOS e for WINDOWS, mas é praticamente o mesmo produto - quem souber usar um, usará o outro, naturalmente com as devidas adaptações: por exemplo, a versão DOS faz todo o tratamento de impressoras, e este aspecto é ignorado na versão WINDOWS, já que é este que se preocupa com as impressoras.

Então o caminho para usuários WINDOWS, é migrar da versão 2.0 para a versão 6.0 WINDOWS, e dos usuários DOS da 5.5 (ou da 5.0 - muita gente se recusou a usar a versão 5.5, mas estes vão ter que sofrer uma readaptação: não há como escapar) para a 6.0 DOS.

Antes de falar da 6.0 (para WINDOWS, é claro, ou alguém duvida que a 6.0 DOS está condenada a um cenário insignificante? Ainda há dúvida de qual é a interface do futuro?), vamos àquela abordagem tradicional: Temos aqui boas e más notícias: por qual começamos?

Comecemos com a má noticia. Se você tem uma máquina com menos de 40 MHz, esqueça, ou se arme de uma paciência beneditina. O W4W 6.0 é um glutão. Vou lhe mostrar um exemplo real. Estava tomando o café da manhã enquanto brincava no software. Para chamar, só chamar, um WIZARD (veja adiante), enquanto o programa se preparava e o cursor era uma ampulheta, pude comer cinco biscoitos, tendo passado geléia em todos eles, e sem nenhum atentado aos bons modos à mesa. Meu micro é um 386 de 25 Mhz.

Outro problema do programa é a sua complexidade. Mas aqui não há o que fazer se você quer usar muita coisa, tem que aprender a usar essa muita coisa.

Agora as coisas boas:

1 - OLE 2.0. O WORD faz uso do novo protocolo OLE, o que trocando em miúdos significa o seguinte: Agora quando você chamar um desenho dentro do WORD, você não vai sair do programa (como era antes). Simplesmente, uma nova barra de botões típica de um programa de desenho vai surgir na tela. O WORD se transforma num desenhador. Idem idem para os demais programas do ambiente WORD.

2. ESTILOS. Alguém ouviu preces dos usuários. Os estilos foram completamente redesenhados e voltaram a ser racionais como o eram nas versões DOS. Ficaram fáceis, intuitivos e poderosos.

A propósito: A MICROSOFT tem um sofisticado serviço de comunicação com usuários através de BBS. Dizem que mais de 10.000 sugestões foram feitas para esta versão. Nada como ouvir o cliente. Isso é QT.

3. WIZARDS. Ajudantes que, mediante perguntas e respostas, montam documentos complexos. Se você quiser fazer um diploma - daqueles de dia das mães. por exemplo você chama o AWARD (prêmio) WIZARD. Ele lhe pergunta: Qual o estilo: moderno ou tradicional? O diploma é do quê? Quem o assina? Para quem? etc etc. Ao final, surge um documento lindo e pronto, que naturalmente pode ser alterado à vontade. Existem WIZARDS para jornal, memorando, processo judiciário, fax etc etc.

4. TEMPLATES. O arquivo que guarda os estilos, as macros, as barras, enfim que permite personalizar o W4W. Ficaram mais robustos e paradoxalmente, mais fáceis de usar.

5. FÓRMULAS e WORD ARTS. As fórmulas ficaram mais fáceis. Os WORD ARTS estão mais robustos. As opções cresceram em quantidade e qualidade.

6. BOTÕES COM SINALIZADORES. E tanto botão na tela (são até 8 barras de botões, inclusive a do W4W 2.0, para os saudosistas) que o usuário pode se perder. Se você levar o pointer até um botão e demorar mais de 1 segundo sem apertar, o programa imagina que você esteja indeciso ou não saiba o que é aquilo, e lhe desenha o significado do botão. Isso às vezes assusta os mais desavisados, pois a tela fica piscando coisas: parece uma árvore de Natal. Naturalmente dá para desabilitar os ToolTips.

7. DICA DO DIA. Típica idéia simples, mas engenhosa. Como o WORD demora um bocado para se autocarregar (são 3.8 Mbytes de executável) durante o processo de carga o WORD desenha uma dica: como proceder para fazer alguma coisa. A cada dia, a dica é diferente. Hoje por exemplo foi: para inserir a data em um documento, tecle ALT-SHIFT-D. Assim, sem querer, você vai fazendo um cursinho sobre W4W 6.0.

8. DESENHOS COM PREVIEW. Agora você pode (pre)ver o desenho antes de importá-lo. Isso fazia uma falta...

9. AUTOFORMAT. Uma idéia revolucionária. 90 % dos textos em WORD usam 4 ou 5 estilos: em geral 2 ou 3 cabeçalhos, texto normal e notas de rodapé. Nestes casos, você pode digitar o texto corrido, e pedir ao W4W que (auto) formate o texto para você. Ele vai percorrer o texto (demora) e mediante algo próximo da inteligência artificial, vai pegar, parágrafo a parágrafo e se perguntar: este parágrafo tem jeitão do quê? Deve ser um título nível 1. E dá-lhe a formatação do nível 1. E isto ele faz sozinho, enquanto você toma café. Naturalmente, no fim, você pode aceitar ou rejeitar o que ele fez, mas é urna facilidade no mínimo instigante.

10. AUTOCORRECT. Você pode criar um dicionário contendo entradas erradas e a sua maneira correta de escrever. Sempre que você escrever o termo errado (e o Autocorrect estiver ativo), ele será corrigido. Por exemplo, posso fazer uma entrada como Parana levando a Paraná. Escrevendo a primeira (sem acento), o W4W escreve a palavra certa com acento.

Enfim são dezenas (certamente mais de uma centena) de novas coisas. Esta é só uma lista bem parcial. Até porque, para ganhar intimidade com um programa deste tamanho, vão ser gastos alguns meses. Mas, certamente, você e eu deveremos ter em breve algo em comum, que não será um certo cigarro. Nós dois vamos usar este novo paradigma em editores de texto: WORD FOR WINDOWS 6.0.