Comunicação sem Fronteiras (Rumo à Aldeia Global)


Autor: Jorge Sucaria Leonel - Analista de Suporte de Rede na PUC-PR

É membro da ACM (Association for Computing Machinery) e do SIGCOMM (Special Interest Group on Data Communications).
Nenhum computador é uma ilha. Por isso, temos observado de alguns anos para cá uma tremenda revolução no que tange à conectividade. Em busca de aperfeiçoar a comunicação e compartilhar recursos, surgem tecnologias e soluções que começam a possibilitar uma visão mais concreta daquilo que seria a tão falada e sonhada "aldeia global".

Primeiro foram as redes locais. Usando um cabo de cobre coberto de conectores, foi possível interligar os microcomputadores, entre si e a um computador mais poderoso, o servidor, que disponibilizava aos usuários espaço para armazenamento de informações e recuperação de dados. Passou-se a compartilhar impressoras e modens para comunicação externa. Surgiram os primeiros pacotes de software para o chamado controle remoto - a operação de uma estação da rede remotamente.

Com a popularização dos laptops e notebooks, cresceu o mercado dos servidores de acesso, permitindo a comunicação bi-direcional entre os computadores componentes da rede e os elementos em trânsito. Enquanto isso, os minis e mainframes remanescentes de outrora iam encontrando seu lugar ao sol graças ao
uso dos gateways. Agora, a infra-estrutura de rede também ganhava novos contornos com o emprego das técnicas de cabeamento estruturado, fazendo uso do cabo de par trançado, multirepetidores de sinal e painéis de distribuição ("patch panels").

Neste meio tempo, começou a crescer a necessidade de segmentar e interligar redes distintas. Vieram as bridges e os routers, e os projetistas passaram a lidar mais de perto com as dificuldades de interconexão usando linhas telefônicas, que por terem sido originalmente desenhadas para a transmissão analógica. da voz, ofereciam baixa largura de banda e alta taxa de erros. A configuração dos dispositivos de roteamento não raro apresenta alto grau de dificuldade, e já existem configurações onde mantém-se um equipamento mais robusto no site central, distribuindo-se nós de acesso nos locais distantes. Com isto, toda a administração e gerenciamento fica mais facilitada, eliminando a necessidade de se manter equipes técnicas especializadas, em todos os pontos.

As aplicações também cresceram em tamanho e complexidade. Com a explosão da multimídia, que prega a integração de imagens, vídeo, áudio e texto, buscam-se agora respostas para o problema de baixa capacidade de tráfego das redes. Já há disponibilidade de produtos FDDI (tecnologia de comunicação baseada em anel duplo de fibra óptica, que possibilita sinalização de até 100 milhões de bits por segundo), e entram em testes as primeiras soluções baseadas no 10OBaseT / 10OBaseVGAnyLAN (padrões para transmissão em 100mbits/s sobre par trançado). O correio eletrônico também se tornou uma ferramenta indispensável neste mundo, e com a massificação das interfaces gráficas devido ao sucesso de mercado do Windows da Microsoft, apareceram ferramentas com recursos de integração total com outros aplicativos do office automation, como editores de texto e planilhas. Já é possível enviar mensagens contendo gráficos e tabelas, e já existe um padrão (MIME) para tal tráfego na Internet, a mega-rede de computadores que liga universidades, centros de pesquisa e grandes corporações pelo mundo, e que cresce a uma taxa de cerca de 150.000 novos usuários/mês.

Atualmente, o governo norte-americano apóia fortemente a construção do que está sendo chamado de "information highway" (auto-estrada de informação), uma rede que utilizará parte da tela de ramificações de fibra, cabos coaxiais, ondas de rádio e satélites que já cobrem os EUA, provendo interconexão entre-redes onipresente (clientes ligados com fornecedores, funcionários conectados às empresas, alunos e escolas, etc). Aplicações facilitadas pela auto-estrada, como o compartilhamento de documentos distribuídos e a videoconferência, poderiam reduzir enormemente custos com deslocamentos e viagens, encorajando a telecomutação. A auto-estrada será construída e operada pela iniciativa privada - o governo encorajará o desenvolvimento com financiamentos, padronizações e mudanças em legislação. É provável que a info-hi (como também é conhecida) herde a linguagem, cultura e costumes reinantes na Internet

Um esforço grande está sendo feito para se definir como será o "portal" de entrada para a info-hi, a fim de permitir que qualquer cidadão, em última instância, de sua residência, possa ter acesso a todas estas facilidades. Uma idéia é utilizar a tecnologia ISDN (Integrated Services Digital Network), que suporta transferência de voz e dados, em forma digital, a altas velocidades, sobre linha telefônica. Apresenta baixo custo (pois tarifa somente por tempo de conexão) e alto desempenho; a demora para o emprego do ISDN em larga escala é a necessidade de a malha telefônica ter característica digital. O emprego desta técnica está a passos rápidos principalmente na Europa e no Japão, com crescimento acelerado nos EUA.

Uma alternativa seria utilizar o cabeamento existente dos sistemas de TV a cabo (coaxial); suportaria um tráfego de até 150mbit/s (perfeito para multimídia), formando uma infra-estrutura de rede tecnicamente conhecida como B-ISDN (Broadband ISDN). A tecnologia de transmissão usada é o ATM (Assynchronous Transfer Mode), que usa sinalização síncrona de células de dados, com alocação de largura de banda assíncrona. É isto que permite a prioritização do tráfego de voz, por exemplo, por ser um elemento isócrono (não tolera atrasos de transmissão).

E, para que pessoas em trânsito, localidades mais distantes ou de acesso dificultado possam usufruir desta "tecnoaldeia global", alianças estão sendo feitas para unir as tecnologias de empresas de computação e de telefonia, a fim de disponibilizar rapidamente serviços de comunicação sem fio em largas áreas. Através de CDPD (Cellular Digital Packet Data) já se pode transmitir dados sobre malha de telefonia celular. Já surgem o TDMA e o CDMA, que terão a mesma facilidade, com maior eficiência ainda.

Com todo esse arsenal tecnológico sendo colocado à disposição para formar esta estrutura, fica até difícil prever de que forma a sociedade como um todo se comportara a partir da disponibilização destes serviços em um futuro próximo. Mas, independente disto, é certo que os chamados consumidores de informação (eventualmente, todos nós hoje em dia) terão um mar de novas oportunidades aberto à sua frente.