Conhecimento sem fronteiras

Com a Wikipédia começou a era do conhecimento livre na web. Até hoje ela é o projeto de maior sucesso no setor. A enciclopéida compila 1,8 milhão de textos em 100 diferentes idiomas. Outros projetos semelhantes juntaram-se a ela, o que levou à criação do conceito abrangente de "wikimídia". Agora, os colaboradores da enciclopédia querem expandir seu conteúdo para idiomas falados em países em desenvolvimento. A expansão foi o principal tema de um encontro internacional de wikipedianos - como são chamados os colaboradores da enciclopédia - realizado na cidade de Frankfurt, na Alemanha, que reuniu 400 colaboradores da enciclopédia, vindos de mais de 50 países. A principal característica do projeto iniciado em janeiro de 2001 por dois norte-americanos é que, além das consultas grátis ao conteúdo, todo mundo pode contribuir, graças a um software especial, seja por meio de textos de autoria própria, seja por meio da edição de conteúdos já postados na rede.

A idéia do conhecimento gratuito ao alcance de todos entusiasma e contagia. "Nós nos financiamos só com doações", esclarece Kurt Jansson, que preside a Associação de Amigos da Wikipédia. Sempre que se torna necessário comprar um novo servidor, o grupo lança na internet um apelo por novas doações. Com sucesso. Muitas vezes os cheques vêm acompanhados de comentários dos doadores do tipo: "Vocês são o melhor projeto da internet", ou "vocês me ajudaram muito no trabalho de conclusão do curso". Além disso, Jannson já está negociando com patrocinadores comerciais. A Yahoo, por exemplo, pretende disponibilizar um servidor num centro de processamento de dados na Ásia, sem exigir em troca espaço para publicidade. "Queremos uma enciclopédia livre para todas as pessoas deste planeta", descreve Jimmy Wales, um dos mentores da Wikipédia e que continua sendo a alma do projeto quatro anos e meio após sua criação.

Fazer a wikimídia chegar aos países em desenvolvimento é um dos temas prediletos dessa comunidade. O tema também estava na agenda da conferência de Frankfurt, que debateu, por exemplo, sobre a possibilidade de levar a Wikipédia ao Mali e Uganda. Para chegar lá, seria preciso, no entanto, primeiro criar na internet páginas em línguas como o bambara e o suaíle apesar das altas taxas de analfabetismo reinantes na região e das lacunas nas possibilidades de acesso à internet. O sonho é conseguir que professores universitários que falem algum dos idiomas africanos se tornem adeptos da wikimídia e passem a colaborar com a Wikipédia. A conferência de Frankfurt começou a concretizá-lo.