Cultura, ignorância, erudição, afinal qual é o problema?

Autor: Manoel Flávio Leal

 

Certo dia, em uma calorosa discussão em sala de aula, conceitos tais como o que é moral, imoral, ético, etc. foram apresentados, e surgiu-me uma dúvida para acalorar a discussão: afinal, o que é cultura? Quem já não ouviu expressões do tipo: “Este povo não tem cultura”, “Este povo não tem memória”, “Este povo não sabe o que é boa música”, este povo isto, este povo aquilo... Afinal, você sabe o que é? Você tem a sua posição sobre isto? Ou é mais um que aceita o que é mostrado pela mídia como cultura?

Como todo estudante que se preze, ou melhor, qualquer pessoa deveria fazer isso, fui buscar a definição no famoso “Pai dos Burros”, também conhecido carinhosamente entre nós por Aurélio, e lá estava: “Ato, efeito ou modo de cultivar; cultivo”. Estas definições com ato ou efeito são.... deixa para lá.

Como em boa parte das vezes, quando se busca um entendimento profundo de algo, o dicionário não é uma grande fonte de explicação, mas não deixa de ser o ponto de partida, pois explica ao menos o significado da palavra, um sinônimo - sendo assim a solução foi filosofar. Quando digo filosofar, quero dizer deixar as idéias fluírem e depois ordená-las e criar uma definição. Foi o que eu fiz, consegui uma definição para cultura. Agora tinha de discuti-la com alguém, pois, quem sou eu para criar uma definição? Precisava discuti-la, e melhor lugar eu não poderia ter: a aula de Filosofia.

Para não querer aparecer “joguei verde”, - Professor; afinal, o que é cultura? - Por que dizemos, me incluo nesta informação, esse aí ouve pagode e toma cerveja em boteco - salve o grande Zeca Pagodinho, me desculpe usá-lo como exemplo - não tem cultura? - Por que cultura é ouvir Tom Jobim, Vinicius de Moraes e tomar vinho tinto? Desculpe o extremismo, mas precisava arrancar alguma opinião daquelas pessoas presentes na sala. - E a Eguinha Pocotó não é cultura também?

Pronto: a confusão estava formada, todos falando ao mesmo tempo até que o professor falou a seguinte frase - “Vamos devagar, oito de cada vez”. Isto causou um silêncio total. Bem, chegou onde eu queria, o “homem” falou e como um bom filósofo não poderia dar uma resposta melhor. - “Por acaso não estamos confundindo cultura com erudição?” - filósofo só poderia responder com outra pergunta.

Aí todos pararam, mas por pouco tempo, novamente começaram a falar... bem, acho que a pergunta do filósofo, professor, respondeu tudo. Cultura é a forma de se expressar de um povo, e sendo assim não podemos julgar o que é bom ou ruim. O que não podemos dizer é que ERUDIÇÃO é cultura.

O bem da verdade é ignorância, isto sim, ignorância de todos nós, e eu me incluo. Precisamos perder a mania de sair de casa com uma máquina “rotuladora”, rotulando as pessoas, dizendo que elas são isso ou aquilo, que não têm “curtura”; quantas vezes você já ouviu isso? Precisamos entender sobre o que pretendemos falar para não sair por aí falando o que não sabemos.

Então você deve estar se perguntando: o autor falou, falou e não disse nada. Pelo contrário, disse e muito. Agora eu sei, você sabe, nós sabemos, tudo envolvendo pessoas, manifestações por meio de música, dança, hábitos alimentares, até mesmo a língua falada, com seus sotaques e gírias, é cultura. Erudição é outra coisa. Deixo um desafio aqui: procure saber o que é erudição.

Engraçado, pensamos que somos “cheios de cultura” e acabamos por descobrir que dentre os problemas o maior não é este, mas sim aceitar que todos somos ignorantes, só a única diferença é que somos ignorantes em coisas diferentes.