Discursos Paralisantes

Autor: Rogério Ribeiro da Fonseca Mendes - GAC
Nos últimos vinte anos trabalhei na área pública e na iniciativa privada, sempre em atividades ligadas à informática. Decorrente destas atividades fiquei conhecendo órgãos públicos e empresas na área de indústria, comércio e prestação de serviços, tanto no Paraná quanto em Santa Catarina. Existem coincidências no que falam os diretores, gerentes, funcionários e empregados desta amostra que conheço, das quais passo a escrever neste espaço.

Tentando minorar a possibilidade de entendimento incorreto do tempo empregado, recorri ao "Mestre Aurélio" buscando significado:

Paralisação. S.f. 1. Ato ou efeito de paralisar(-se) 2. Suspensão, interrupção, pausa, parada.

Então, PARALISANTE é o que leva à paralisação. No caso em questão, um discurso - proferido por quem quer que seja - composto do que chamarei de mentiras-padrão ou de frases encobridoras; que, por ser habitualmente aceito como verdade, tem efeito de paralisação. Daí, o título, discursos paralisantes.

Existem mentiras-padrão, formatadas como discursos-verdade, com ampla utilização e circulação e que, por assim ser, "autorizam", "endossam", e deixam impune a paralisia no processo produtivo. Então, nestes momentos, nada se faz, nada (de útil, de necessário) se produz, não se atua e o problema que requer solução continua presente, "fisgando" os que se posicionam como "distraídos". Não posso deixar de apontar que, mesmo em ambientes onde há muito movimento, a paralisia do processo produtivo pode ser encontrada e que, nestas situações, estes ambientes podem ser ditos como "onde tudo se faz para que nada aconteça".

Por não me posicionar assim ("distraído"), portanto responsável pelos meus atos, apresento uma pequena coletânea - pequena enquanto quantidade mas com grande impacto enquanto atuação - de mentiras-padrão, procurando melhor dizê-las, de forma a alertar os que não são "incautos profissionais". Até para não causar um choque paralisante, vou desmascarar as mentiras-padrão uma a uma, em doses homeopáticas. Dos que não são "incautos profissionais", que não são ingênuos, espero que sejam guerreiros incansáveis na luta contra a paralisia, atuando como interventores em todos os momentos em que presenciarem mentiras-padrão em ação.

A mentira-padrão que quero abordar hoje é o velho e tradicional "RUIM COM ELE, PIOR SEM ELE". Esta frase, na sua "ingenuidade", fala de uma "desculpinha" para que o administrador não se sinta constrangido por não administrar. Ser administrador não é para quem quer e sim para quem pode. Não é para quem quer uma sala mais ampla, secretária exclusiva, vaga na garagem, gratificação de função, ... E para quem pode suportar a pressão - para não falar ódio - que existe em ambientes não administrados, mas que trata-se apenas de uma situação inicial, que será degradada na continuidade da ação do administrador: a tensão é sensivelmente menor em ambientes onde existe administração.

Para melhor dizer da significação da desculpinha "RUIM COM ELE, PIOR SEM ELE" é necessário iniciar por uma verdade, que é o sábio dito popular "UM GRUPO SE NIVELA POR BAIXO". Fazendo uma extrema simplificação de um ser humano (sujeito, sistema complexo composto por vários subsistemas complexos) vou pensá-lo como composto por apenas duas partes. Uma que chamarei emocionabilidade, que diz respeito ao estado emocional do sujeito, das emoções que são produzidas nele. A outra é a capacidade para atividade mental. Os sujeitos, enquanto sós (em solidão), têm estas duas partes em proporções diversas, mais ou menos emotivo, mais ou menos capacidade para atividade mental. Acontece que quando os sujeitos se reúnem em grupos é observado um incremento da sua emocionabilidade e uma redução da sua capacidade para atividade mental. E mais, os sujeitos acabam ficando muito parecidos quanto aos graus de emocionabilidade e de capacidade para atividade mental, daí o dito de que um grupo se nivela por baixo. Um exemplo extremado disto e das conseqüências danosas que pode ocorrer é o que aconteceu alguns anos atrás, quando o pastor Jim Jones induziu sua platéia ao suicídio coletivo.

Portanto, manter um sujeito pseudo-trabalhando na empresa, afirmando que é ruim com ele, mas pior sem ele, só é cabido se não se quer administração: não se quer administrador. Há exceções, no sentido de que se mantenha tal sujeito, porém, existe administrador e a manutenção do sujeito está sob atuação contínua deste. Esta manutenção está sob intencionalidade orientada do administrador para que o empregado se otimize em relação ao que se espera dele. Estas exceções estarão, sempre, condicionadas ao cálculo prévio do custo X benefício da manutenção do empregado (custo e prazo de treinamento de novo empregado para a função, por exemplo) e a avaliação contínua dos resultados obtidos com a intervenção do administrador sobre o sujeito.

Recomenda-se, então, aos guerreiros incansáveis na luta contra a paralisia do processo produtivo da empresa, que atuem como interventores sempre que alguém, quem quer que seja, manifeste que é ruim com ele e pior sem ele. E o momento de dizer: isto é uma farsa. Se após dizer isto é uma farsa ninguém manifestar interesse em saber por que, cale-se: não há o que fazer neste instante, resta intervir na próxima ocorrência. Se ao contrário, alguém, quem quer que seja, manifestar interesse em saber por que, eis aí a possibilidade de um novo guerreiro na luta contra a paralisia do processo produtivo: é o momento de dizer e sustentar que o discurso verdadeiro, em relação ao empregado ruim é RUIM COM ELE, MUITO MELHOR SEM ELE.

A extirpação do empregado-ruim traz efeito imediato ao grupo que, embora continue nivelado por baixo, terá este piso num patamar superior, alcançado pela simples eliminação do degrau que estava atolado na ausência de administração. O que este empregado-ruim produzia, e que era muito pouco, o novo grupo que se estabelece compensa, naturalmente, seja pelo incremento da capacidade para atividade mental, seja pelo decremento da emocionabilidade.

Senhores guerreiros incansáveis na luta contra a paralisia do processo produtivo da empresa, no próximo número vamos desmascarar a farsa SOMOS MUITO BONS DE DIAGNOSTICO, MAS NÃO CONSEGUIMOS IMPLEMENTAR.