Discursos Paralizantes

Autor: Rogério Ribeiro da Fonseca Mendes

ADMINISTRAR É UMA ARTE!

Ouve-se por aí, dito dos administradores: "Administrar é uma arte!" Uma busca no dicionário, embora traga um nível de elucidação sobre esta arte, traz também a possibilidade de deturpação desta arte de administrar, pois o emprego desta palavra é muito amplo, como nestes exemplos: Arte abstrata. Arte concreta. Arte culinária. Arte de vanguarda. Arte dramática. Arte mágica. Arte moderna. Arte plumária. Arte publicitária. Arte rupestre. Artes aplicadas. Artes de reprodução. Artes do espetáculo. Artes gráficas. Artes liberais. Artes mecânicas. Artes plásticas. A sétima arte. Por artes de berliques e berloques. Por artes do Diabo. Fazer arte de. ... E, se destas amplas significações, o dito administrador, ao proferir que "Administrar é uma arte!" esteja, "Por artes do Diabo", explicitando que administrar é somente uma arte e que esta arte é possível "Por artes de berliques e berloques"?

E quem é que faz arte? Entre muitos, cabe destaque aos principais: os artistas e os falsificadores. E quem é que se dispõe a avaliar este tipo de arte? De início são os críticos e, na seqüência - embalados nas ondas do que disseram os críticos -, os espectadores. Mas, também, os adultos dizem que as crianças fazem "arte" e as crianças expectam a "arte" dos adultos. E, afinal, administrar é termo cuja correlação é mais próxima com a arte ou com a ciência? São os prolegômenos da administração que podem funcionar como instrumentos de aferição destas distâncias.

E por que, neste espaço, alguém vem articular alguns conceitos? É, tão somente, porque este espaço também está inserido no campo da ação administrativa. Então, desta forma - nesta delimitação -, o que se escreve aqui não tem seu valor fora deste campo, do campo da cientificidade na ação administrativa? Não é possível não falar que o que é falado neste espaço tenha seu valor fora do campo da cientificidade na ação administrativa mas, "neste mundo cheio de ilusões", se podemos nos ater ao âmbito empresarial, já nos é de grande valia. Afinal, um dos impulsionadores do dito mundo, do mundo econômico, é o salário, termo sempre vinculado ao empregado e ao empregador e, portanto, à empresa.

Então é necessário delimitar: o que se escreve radicalmente aqui é radical para o "mundo empresarial" e as empresas (particulares e públicas - pertencentes e destinadas ao povo -) estão, desta forma, incluídas neste contexto. Fora deste contexto, entanto espectadores de outras empresas, nos Teatros, nos Museus, nos Clubes, nos Bares, nas Festas, nos Circos, nos Pontos de Ônibus, nas Praças e, entre os muitos tantos outros - por que não dizer? - nas Igrejas e Reuniões familiares; o que se escreve aqui não tem seu emprego como recomendado, pelo menos não radicalmente.

Feito este aparte, retorna a questão: administrar é uma arte? Os artistas que a si perdoem mas, no campo empresarial, a ciência é fundamental. Algo que, em cheio de si, entre si, de per si, que por si para si, em si mesmo, fora de si e para si, parece difícil de aceitar. Entretanto, assim o é. Por outro lado, o dos cientistas - e que a si perdoem -, no campo da administração dos recursos humanos a arte também é requerida. Assim, uma das maneiras de reduzir a questão é "A Cientificidade na Ação Administrativa - Ciência e Arte" que, para os que gostam de escrever livros, é um tema que não se esgota.

Dos tais prolegômenos(), se estamos no campo da ação administrativa, temos que abordar o princípio fundamental desta ação, ou seja: o administrador. Sem administrador não há ação administrativa, não há ato administrativo. A prolegómena do administrador é a de que ele é marcado. Tal qual a marca que se faz no gado - com ferro em brasa - diz do seu proprietário, a marca do administrador diz que ele não é mais escravo, é senhor, absolutamente assujeitado ao resultado esperado, que é o referencial, que é o senhor absoluto. Ao administrador é requerido fazer uso dos conceitos da ciência e dos conceitos da arte, para que o processo produtivo sob sua administração - em nível ótimo de produção: a produção possível - apresente o resultado esperado.

O administrador é marcado. Esta marca, esta diferença, requer ser mantida sempre visível, pois é o referencial para os demais operadores de um processo produtivo, é o representante do que foi dito como senhor absoluto: o resultado esperado. O administrador é diferente e seu ato é o que faz distinção. Se o seu ato se dá no campo da ação administrativa há administrador. Por outro lado, se a sua atuação não se dá no campo da ação administrativa, embora exista um diferente - diferença esta representada, por exemplo, por um título de administrador, uma secretária exclusiva, sala ampla, vaga na garagem, e tantas outras artes plumárias - não há administrador, não há distinção.

Há, ao menos, um administrador para que todos os elementos humanos integrantes de um determinado processo produtivo possam ser ditos como operadores deste processo. Este administrador é também um operador, porém marcado como um operador diferente, um operador que vai administrar, ou seja: o objeto de sua operação é distinto dos demais operadores. Administrar é, antes de tudo, fazer com que o outro faça. Este administrador deve ser mestre na utilização do verbo FAZER que, via enunciados, vai mobilizar a produção. Não é, tão simplesmente, fazer e sim, propriamente, fazer-fazer. Significa dizer que o administrador, se verdadeiramente o é, estará freqüentemente habitando o campo do PENSAR, do FAZER COGNITIVO, muito embora, aos demais operadores, isto possa parecer uma inatividade, distante do FAZER PRAGMÁTICO, ao qual a dita humanidade está muito freqüentemente habituada e que, por este hábito, se afasta do que parece, por preconceito, ser um campo incômodo: o campo do pensar. Ao que se diz administrador mas que, por não suportar esta posição substantiva de ter que pensar, me

lhor chamá-lo por outros adjetivos bastante conhecidos, tal qual, como exemplo, "este chefe é uma verdadeira mãe", contrapondo radicalmente com a posição requerida ao administrador, no caso, a de "pai". Administrar não é fazer por alguém, é fazer com que este alguém faça por si.

É neste ponto que podemos conceber que "Administrar é uma arte!".