Entrevista do mês

Paulo Roberto de Mello Miranda, 40 anos, Engenheiro civil, Superintendente regional do Serpro, no Rio Grande do Sul, de 87 a 88, e em São Paulo em 88. Diretor Administrativo financeiro da Secretaria de Educação do RS. Secretário Executivo da Comissão de Informática do RS. Diretor técnico do Procergs de 90 a 91. Funcionário de carreira de SER PRO, trabalha com informática há 21 anos, Atualmente, Diretor Presidente da Celepar.

BB8 – Considerando que houve inclusive troca de cidade, qual foi o fator preponderante de cidade, qual foi o fator preponderante na sua decisão em aceitar a Presidência da Celepar?

O primeiro deles é o desafio de dirigir uma empresa do seu porte, da sua importância no cenário nacional de informática pública.

O segundo, o convite do Maurício Fruet, pessoa pela qual eu tenho o maior respeito, pelo seu histórico, coerência em sua atividade política, na defesa de interesses maiores na defesa de interesses maiores da sociedade, muitas vezes em áreas de tecnologia e mesmo da informática.

E o terceiro, é a preservação do espaço para discussão da questão da informática pública no Brasil.

BB8 – Ao aceitar o cargo senhor tinha uma imagem da Celepar. Qual era? Hoje, já conhecendo um pouco melhor a Empresa, como está isso?

Paulo Miranda – Sim, eu tinha uma imagem a respeito da Celepar; tenho essa imagem ainda hoje. Uma empresa muito bem estruturada, com grande densidade técnica na sua equipe, capaz de gerar soluções em sistemas estaduais, com grande qualidade, pelo fato da Celepar historicamente ser uma empresa pioneira e exportadora de sistemas nessa área de informática pública.

Hoje, conhecendo melhor a Empresa, essa imagem se confirma. O que mudou foi o conhecimento melhor da sua realidade e uma avaliação de que ela sofreu bastante, com uma série de mudanças na sua gestão.

Independente da capacitação e da seriedade das pessoas que estiveram a estiveram a frente da CELEPAR, o fato de termos tido em torno de 15 composições de diretoria nos últimos 8 anos, leva a uma desestabilização uma desorganização, principalmente nas questões mais estratégicas da empresa, da visão de mais longo prazo, dos planos de investimentos e de desenvolvimento.

As trocas constantes de diretoria levaram a trocas constantes de prioridades, formas de enfocar o papel da Celepar. Isso acarretou sérios problemas e até reforça aquela imagem inicial de que, se a empresa não fosse bem estruturada, com consistência técnica e profissional ela possivelmente até seria se desorganizado completamente.

Então isso é uma constatação; acho que esses fatos que ocorreram com a Celepar exigem que a administração atual busque retomar essas questões de mais longo prazo na Empresa, definir uma linha diretiva no sentido de podermos identificar claramente os rumos aos quais nós estamos nos dirigindo.

BB8 – Qual o ponto forte da CELEPAR como prestadora de serviços ao ESTADO, e qual ao maior problema com relação a isso?

PAULO MIRANDA – Eu já comentei alguma coisa de pontos fortes da CELEPA, acho que existem vários outros, e a pergunta aparentemente contém um paradoxo.

Então eu destacaria um ponto forte que realmente tem trazido problemas. Pelo fato da Celepar ter equipes alocadas dentro de clientes, faz com que essas suas equipes tenham uma visão muito profunda, um domínio grande da atividade do cliente , do seu negócio.

Isto é um ponto forte que tem nos acarretado algumas dificuldades: a falta de flexibilidade na alocação de recursos técnicos para tarefas de desenvolvimento; a descaracterização da criação de projetos da empresa. Nas equipes alocadas dentro de clientes, o trabalho assume uma característica de serviço contínuo, que não tem início, meio e fim. Ele está sempre em desenvolvimento. Isso cria uma dificuldade no gerenciamento da utilização desses recursos e pelo fato das equipes estarem presas, alocadas em alguns clientes, nos tira a flexibilidade também na realocação desses recursos.

BB8 –Qual deve ser a postura ética de um profissional de informática de empresas estatais?

PAULO MIRANDA – Ser um profissional de informática já implica em uma questão ética. O fato de nós lidarmos com sistemas de informação que envolve a privacidade das pessoas, sigilo das informações etc, exige do profissional de informática uma postura ética que nem sempre está clara.

Além disso, sendo um profissional na área de informática pública, nós temos uma questão maior, que é – a serviço de quem nós estamos trabalhando. As empresas de informática estaduais, municipais, federais, em geral tiveram a mesma gênese, foram criadas a partir de 1964, dentro de um modelo centralizador do poder política e também sob um controle igualmente centralizado dos sistemas de informação.

Nós temos já vários anos no Brasil, um processo que caminha no sentido da plenitude democrática do País e isso forçosamente tem de nos levar a uma revisão de alguns conceitos, alguns princípios, na criação de sistemas de informação na área pública.

O acesso do cidadão a essas informações, a responsabilidade que nós temos no tratamento, na veracidade, na qualidade desses dados e em geral, como profissional de informática na área pública, deve resultar em melhoria da qualidade do serviço no Estado ao cidadão. Isso é uma questão que é ética e importante e que eu acho que vale a pena ressaltar.

Uma outra questão que também é ética, é o fato de nós, profissionais, e dirigentes de uma empresa pública, não estarmos aqui defendendo interesses de uma família, de uma família, de uma pessoa ou de um grupo econômico. Nós estamos defendendo, no caso da CELEPAR, o interesse, o patrimônio público do Paraná.

A CELEPAR foi construída com recursos do contribuinte paranaense e nosso esforço tem que estar voltado na devolução disso para a sociedade.

BB8 – Como conciliar restrição orçamentária com investimento, indispensável a uma empresa dee tecnologia de ponta?

PAULO MIRANDA – Essa questão de investimento exige realmente muito de nós. No governo, nós somos uma área meio. Nós estamos a serviço da atividade governamental. Então volto aqui a questão do planejamento da empresa: nós precisamos ter planos de ação (em que áreas nós vamos atuar, como nós vamos atuar e quais os seus projetos) que necessariamente têm que estar afinados, com prioridades do Estado, e definir quais são os recursos tecnológicos que nós necessitamos.

A partir daí, devem ser gerados os nossos projetos de tecnologia, de investimentos em tecnologia, de investimentos em tecnologia e equipamentos.

E se eles estiverem fundamentados a partir dessa forma como coloquei, nós temos condições de viabilizá-los. Mas isto realmente exige um esforço maior de nossa parte, muita competência, na conclusão de nossos projetos de investimentos.

Nós não podemos comprar um sistema de editoração eletrônica, simplesmente porque isto é moda. Devemos comprar, porque dentro das atividades do Estado, ele pode ser aplicado em várias atividades, e que estas devem ser suportadas pela CELEPAR e portanto ela tem que dominar essa tecnologia. Por essa linha de raciocínio, a gente consegue viabilizar investimentos.

BB8 – Como o Sr. vê a reserva de mercado: acaba ou não?

PAULO MIRANDA – A reserva de mercado acabou. Ela já tem uma legislação aprovada no Congresso que fixa o final em 1992, mas na prática essa reserva já está terminando.

A reserva de mercado teve aspectos muito importantes, muito positivos. Pelo envolvimento com movimentos de profissionais de informática, eu tive a oportunidade de participar de toda a mobilização em torno da Lei de Informática e da fixação da reserva de mercado.

Tenho absoluta convicção que ela desempenhou um papel histórico importantíssimo. Nós usuários, podemos ter aquela fascinação, vontade, de poder estar trabalhando com um micro de última geração, que está a disposição hoje numa loja lá em Taiwan.

Mas isso vale para outras coisas também. Nós gostaríamos muito de estar dirigindo automóveis japoneses recém saídos da fábrica, que o nosso vídeo cassete em casa, fosse de última geração com todos os recursos.

Quer ver uma coisa mais simples e corriqueira, nós gostaríamos muito que nossas canetas esferográficas escrevessem até o fim, não borrassem e tivessem boa qualidade; que as tintas que nós usamos dessem melhor cobertura e tivessem mais durabilidade e por aí vai. Gostariámos que a aspirina que nós tomamos fizesse tanto efeito como faz uma comprada nos Estados Unidos.

Existem uma questão que nunca é bem tratada, no caso da informática. O fato de haver5 defasagem tecnológica dos produtos consumidos dentro do Brasil, não é culpa da reserva de mercado na área de informática.

Em todas as áreas em que há produção de bens no nosso País e no terceiro mundo em geral, eles têm pior qualidade e defasagem tecnológica dos produtos em geral, porque a decisão tecnológica não é dos países. A decisão de distribuição nos mercados e onde colocar determinados produtos, é dos fabricantes. Nós estamos sendo submetidos a isso, e vamos continuar. Mesmo nas áreas que não havia restrições para importação, nós sempre, no Brasil, tivemos defasagem tecnológica.

Tivemos também pior qualidade nos produtos nacionais e produtos mais caros ou produtos que importados são mais caros do que lá fora. Tudo tem taxação etc.

Geralmente quando comparamos os produtos de informática nacional com os lá de fora, em termos de preço a comparação é feita ou com o preço lá fora ou com o preço de contrabando. Aí essa comparação é falsa; nós temos que comparar com produtos regularmente importados.

Mas, esses anos todos de reserva (um pouco mais de 10) trouxeram resultados bastante significativos na área de informática. Comparada com outros segmentos industriais, e a que tem menor defasagem internacional, porque como nós desenvolvemos capacidade de projetos em informática, conseguimos mais rapidamente reproduzir aqui algum produto lançado lá fora, do que em outras em que nós não temos tradição em desenvolvimento tecnológico.

A reserva de mercado cumpriu o seu papel. Existem hoje mais de 300 indústrias no Brasil em diversas áreas de eletrônica profissional, desde comunicação de dados, microinformática, médio porte, automação bancária e industrial, geração de software para esses equipamentos, desenvolvendo uma capacidade não só de projeto, mas de engenharia de produto e de produção.

As dificuldades na competição a nível internacional decorre também por uma decisão política mais antiga. Quando nos comparamos hoje com os tigres asiáticos, perdemos longe porque a decisão lá entregou a alguns grupos nacionais, todo o segmento de eletrônica.

Então a mesma indústria que fabrica o joguinho eletrônico, o rádio, a televisão e o vídeo, fabrica o microcomputador. Isto dá uma vantagem de escala violentíssima que nós não temos no Brasil.

A nossa eletrônica de entretenimento foi toda entregue as multinacionais, via Zona Franca de Manaus. Isso destruiu a indústria nacional neste segmento.

E nós pagamos o preço na área da informática porque não temos escala nas indústrias nacionais nem para compra e produção de componentes, nem para tecnologia básica.

A tecnologia de básica de eletrônica é muito próxima, nas diversas aplicações. Por exemplo: um monitor de vídeo é muito aparecido com uma televisão. Estes ganhos de escala na produção, no desenvolvimento tecnológico, nós não temos na indústria de informática nacional.

Agora, o final da reserva vai levar a um rearranjo nesse mercado, que começa pelas indústrias. Podemos ter certeza que as empresas, principalmente as mais competentes, já se arrumaram, já têm seus parceiros internacionais, vão se transformar em joint-ventures e seu problema está resolvido.

Em minha opinião, quem perde mesmo é o desenvolvimento tecnológico nacional e por conseqüência o profissional de informática, como um todo. Talvez os nossos programadores de micro passem a ter mais facilidade, mais micros disponíveis, com maior sofisticação, mas eu acho que a longo prazo nós voltaremos a situação que tínhamos nos início dos anos 70. Algumas multinacionais decidiam qual equipamento nós íamos usar no Brasil, qual o software, etc porque elas controlam esse mercado internacionalmente e determinam o que é vendido em cada um.

Se nós olharmos o mercado na Argentina que é aqui do lado do Brasil, e não tem a reserva de mercado, constatamos que esse paraíso que nos é vendido, onde todo pode informatizar, ter facilidade de comprar o que quer – não existe - porque há restrição econômica. O nível de informatização da Argentina é inferior ao do Brasil.

Não existe dinheiro aqui para comprarmos todas essas maravilhas e nos transformarmo numa sociedade informatizada de Primeiro Mundo. Nós somos um País pobre e vamos continuar sendo, agora mais dependentes tecnologicamente do exterior, do que estávamos antes.

O fato de ter se definido a legislação nessa área, eu acho positivo. A indefinição que já vinha há alguns anos, sobre a questão da reserva, somada a crise econômica do País, levou a um total desinvestimento nessa área. Ninguém mais estava aplicando,nenhum projeto andando, porque não se sabia o que ia acontecer.

Então, pelo menos se definiu por esse caminho, tudo bem, retoma-se os investimentos e nós vamos produzir aqui no Brasil e vamos importar equipamentos que dão possibilidade de continuidade no uso da informática.

O modelo precisava mudar, não podia continuar como estava, porque deu espaço para picaretagem, mas o simples cancelamento do projeto de informática nacional, na minha opinião, a longo prazo, traz prejuízos para o País.

BB8 – O modelo de empresas estatais estaduais de PD está esgotado? Ele foi bom para o País? No que pode ser melhorado?

PAULO MIRANDA – Essa é uma ótima pergunta. Como eu comentei antes, essas empresas foram geradas dentro de um mesmo modelo de centralização de poder, de controle dos sistemas de informação. Isso foi natural na época, porque a tecnologia disponível levava a isso; nós tínhamos grandes máquinas centrais – CPDs centrais.

Aqui no Brasil, por coincidência, as mudanças andaram juntas. Ao mesmo tempo em que nós tivemos uma descentralização do poder, um processo de democratização no País., tivemos também um período da democratização da informática via tecnologia. Hoje, com a evolução dos micros e a banalização da informática, qualquer lugar que você vá, ela está presente, está participando, principalmente no exterior, até mais que aqui no Brasil.

Isso começou a gerar uma pressão muito grande sobre o modelo tradicional de “birô estadual de processamento de dados'. Esse modelo, está esgotado. E aqui no Paraná, a CELEPAR já se deu conta disto há muito e gerou uma série de mudanças na prestação de serviços da Empresa. Outras empresas no Brasil também estão adiantadas, um pouco menos, um pouco mais que a CELEPAR.

Existem várias etapas nesse processo. Algumas não se deram conta disto e têm problemas sérios, porque sofrem uma pressão violenta e não estão tecnicamente habilitadas a mudar o seu perfil de prestação de serviço. Aquele modelo esta esgotado, não o modelo de empresa estadual de prestação de serviço, porque nós identificamos as mudanças que existem nas demandas do mercado 'GOVERNO ESTADUAL', associadas ao que se tem disponível na tecnologia, nós começamos a mudar o perfil das empresas, por esse modelo, que não é estanque, é um modelo em mutação.

Nós começamos a passar daquele grande birô de PD para empresa de informática. O que é uma empresa de informática? È uma empresa capaz de gerar soluções em informática. Isto não significa desenvolver um sistema em Assembler, em Cobol, em Natural, rodar no CPD central aqui e entregar o resultado ao cliente, quer em papel, quer via terminal etc.

Temos hoje a possibilidade de interligar ambientes heterogêneos e disponibilizar a informação para o cliente, mudando o modelo. Ele está com mais acesso aos sistemas e aos recursos de informática. Além disso, o próprio papel das empresas muda um pouco, porque a gente começa a avançar o processo de informatização do Estado e começa a ter cada vez problemas mais complexos para resolver na integração das bases de dados, a nível do próprio planejamento das ações de informatização dos serviços do Estado.

Assim muda um pouco a característica da empresa , em vez de ter aquele analista “bom de bit”, nós precisamos de pessoas que tenham uma visão mais estratégica do Estado, precisamos enxergar mais as interrelações entre a s atividades de Governo, as integrações que existem e que caminhos, nós devemos buscar, para disponibilizar sistemas de informação dentro desse quadro.

As empresas passam também por um perfil de consultoria em planejamento e sistemas de informação. Talvez continuemos eternamente tendo algumas rotinas em batch. Mas na verdade começamos a ter um perfil bem mais amplo de atuação da empresa e ela tem que se preparar para isso.

Então, não acaba o modelo, ele muda, modifica-se o perfil das empresas estaduais de informática. E muda para melhor porque no sentido de estar mais próxima da solução dos problemas do nosso cliente, da capacidade de gerar soluções de informática que venham a melhorar a qualidade dos serviços. O objetivo final sempre é esse.

BB8 - Quais seus projetos imediatos para CELEPAR?


PAULO MIRANDA – Nós temos muitos projetos, alguns sendo tocados já e outros nós talvez tenhamos que ir fazendo aos poucos. Uma questão importante foi a de se buscar na data-base a assinatura e um acordo que conciliasse os interesses e a capacidade da Empresa, com os interesses do seu conjunto de seus empregados.

Acho que houve entendimento e maturidade de todas as partes nós conseguimos assinar o acordo que coloca o horizonte de agosto, para que busquemos novamente convergir em várias questões, do ponto de vista econômico; que novamente acordemos sobre essas questões, esse era um objetivo.

Nos da diretoria temos trabalhado bastante em algumas linhas. Uma delas é a relação da CELEPAR com seu mercado. Encontramos uma situação, lá fora da CELEPAR, dentro dos diversos órgãos do governo, no nível estratégico e até mesmo no nível de dirigentes, alguns pontos de questionamento em relação a CELEPAR, seu papel, sua forma jurídica, enfim a posição da Empresa nesse mercado.

Temos buscado discutir isso tanto interna como externamente, identificar as razões e buscar soluções para isso. Nosso projeto hoje é definir exatamente qual é o mercado em que a CELEPAR vai atuar, como ele está segmentado e que tipo de solução nós podemos apresentar para cada segmento desse mercado.

Isso deve ficar muito claro, bem negociado lá fora w aqui dentro também. Cada um de nós que tem que tomar decisões técnicas dentro de empresa, precisa saber dentro de que escopo, dentro de que regras estamos tomando estas decisões.

No passo seguinte, nós devemos trabalhar na nossa linha de produtos e serviços; definido nosso mercado e a forma de trabalho no mercado, nós temos que rediscutir, analisar e definir melhor a nossa linha de produtos e serviços.

Quais são esses produtos e serviços, como eles são prestados, que características ele têm, como é a sua constituição, sua base técnica, como são comercializados e como são produzidos. Este é um esforço grande, nós precisamos definí-los melhor até para ficar mais claro também para o nosso mercado e para nossos clientes.

A partir daí, necessitamos discutir nossas plataformas tecnológicas. Quais vão suportar essa linha de produtos e serviços.

Rever, discutir um pouco nossos projetos em andamento em cima de algumas plataformas tecnológicas, talvez iniciar outros em cima de novas plataformas, e a partir daí também direcionar os nossos investimentos em tecnologia baseados nestas definições.

Eu digo que esse encadeamento é um projeto que envolve grande parte da empresa. Ela deve consumir bastante esforço, tempo nosso, mas ele dá uma linha, uma direção de longo prazo para a CELEPAR, uma estabilidade também de atuação nesa área. Começamos a trabalhar dentro de planos mais consistentes.

Existem alguns outros projetos que são subdisi´arios a eses e que são fundamentais. A normalização das relações da CELEPAR, com o Governo. Já financeiro o das regras de gestão de recursos humanos. Hoje estamos muito atados nisso, a nossa capacidade de gerar eventos, como promoções contratação, recrutamento de pessoal, está impedida por decretos e regras. Então nós temos que recuperar isso, para que possamos resgatar a relação com o nosso corpo de empregados.

Acho que do ponto de vista político essa relação está recuperada. A prova disso foi um acordo fechado na data-base. Mas, em relação a perspectiva profissional e carreira, a adesão a uma proposta da Empresa passa por nós termos acesso aos mecanismos de gerenciamento de recursos humanos, a avaliação de desempenho, promoções, punições etc.

Essa autonomia da empresa tem que ser recuperada pra que se possa realmente trabalhar a questão de pessoal com critérios de justiça e de valorização das pessoas.

BB8 – Como o senhor pretende conduzir as políticas e estratégias da empresa para que a informática e conseqüentemente a CELEPAR possa contribuir, de fato, com o aprimoramento e desenvolvimento da máquina do Estado?

PAULO MIRANDA – Esta questão já de alguma forma foi abordada nas outras respostas, mas eu vou falar mais da maneira como isso pode acontecer. Nós temos hoje no nosso mercado, em algumas situações, forças antagônicas.

Temos o cliente descontente com a CELEPAR, a CELEPAR preocupada em segurar aquele cliente, achando que ele está querendo de alguma forma prejudicar a empresa e sair fora.

Temos também a iniciativa privada que fica tentando entrar e pegar um pedaço disso para ela.

E acho que essas forças podem atuar se somando. Isso não é muito fácil, mas eu tenho certeza que pode acontecer. Há que se ter muito claro quais as áreas que nós vamos atuar e das quais não abrimos mão. Existem áreas no mercado que certamente podem e algumas até eventualmente devem ser atendidas por outras entidades ou empresas da iniciativa privada.

A verdade que nós não conseguimos atender todo esse mercado, nós próprios executando o serviço. Precisamos formar parcerias para que o processo de informatização do Estado se dê com tranqüilidade, e possa ser acelerado.

Se a CELEPAR fosse executar todos os serviços de todos os órgãos da administração direta e indireta do Estado, precisaríamos de uma empresa de alguns milhares de empregados e provavelmente seríamos menos eficiente do que hoje. Temos que conciliar os interesses dos nossos clientes clientes, com a nossa capacidade de atendimento, não abrindo mão do poder de decisão do Estado, do que deve ou não estar sob seu controle.

Isso estabelece uma relação com os clientes da CELEPAR, uma forma de trabalho junto ao Conselho de Informática do Estado, em que se nós temos que definir diretrizes e políticas da informatização e num processo mais amplo, de planejamento, definindo as bases de dados, as necessidades de integração etc.

Consolidar o papel da CELEPAR como gestora das grandes bases de dados do Estado e como gerenciadora da rede estadual de comunicação de dados. Também garantir a capacidade para definir e planejar os processos de informatização e coordená-los, mesmo quando eles são desenvolvidos fora, até por uma empresa privada.

Nós precisamos manter a integridade das bases de dados e a capacidade de interligação desses sistemas. Esse é o modelo e as integrações que eu vejo, isso passa por interação com o Governo, com o Conselho de Informática, com as entidades na área de informática, tanto na ASSESPRO, SUCESU como também, as entidades geradoras de tecnologia nessa área, nas Universidades que têm aqui no Paraná.

Eu tenho certeza que nós vamos ter possibilidade de fazer uma série de trabalhos integrados aí nessa área.

BB8 – O principal (mais importante) vendedor de serviços numa empresa de estilo da CELEPAR deve ser a sua diretoria executiva, dada as facilidades de acesso aos níveis governamentais. Como o senhor vê isso na CELEPAR?

PAULO MIRANDA – É. Eu concordo com isso e a gente já tem trabalhado nesse pouco tempo dessa forma, toda a diretoria e não só ela, o corpo gerencial também. A diretoria tem que estar sempre lá na frente buscando abrir portas, romper barreiras e respaldada pelo corpo técnico de empresa.

BB8 – Ao final de sua gestão o que gostaria de comemorar como vitória?

PAULO MIRANDA – Eu não vejo a questão desse lado, nós chegarmos lá no fim e comemorarmos vitórias. Nós estamos tendo vitórias no dia-a-dia, acho que uma grande foi a receptividade que nós, pessoal ou profissionalmente, tivemos aqui na CELEPAR.

Estamos tendo adesão interna de nosso corpo técnico e gerencial, as propostas que temos feito. Há adesão externa também dos nossos clientes. Essas mas sim da Empresa, porque elas possibilitam o crescimento, o desenvolvimento da CELEPAR.

Durante a gestão nós temos uma série de projetos, de propostas e a consolidação dessas questões em termos da CELEPAR em relação ao seu mercado, aos seus produtos e serviços, e as suas plataformas tecnológicas.

Outra questão é o reconhecimento pelo conjunto da administração estadual da efetividade da nossa prestação de serviços.

Outro ponto, um pouco mais específico mas que tem surgido como muito importante. É a questão da metodologia de desenvolvimento de serviços. Essa questão eu destaco até porque eu não comentei antes.

Tenho muito claro que uma empresado porte da CELEPAR, que lida com problemas complexos e variados como lidamos, se não tiver uma unidade metodológica, terá como tem hoje, dificuldades no desenvolvimento e na consolidação dos seus produtos dentro do mercado.

Nós temos hoje pelo que a gente já tem acompanhado, uma total despadronização das soluções apresentadas. Despadronização não no sentido de que todas têm que ser iguais, obviamente, mas mas no sentido de que o tipo de solução, a forma de abordagem do problema, varia de pessoa por pessoa. Nós não temos um padrão metodológico na CELEPAR.

Isso nos leva a soluções de alta qualidade e a soluções de qualidade muito discutível. O padrão metodológico ajuda muito nisso. Ajuda na qualidade do desenvolvimento dos sistemas e ajuda também em questões acessórias como qualidade da documentação que implica futuramente na facilidade da manutenção daquele sistema a custos menores e com melhor qualidade.

Esse é um ponto que nós reputamos como extremamente importante e vamos brigar bastante, no bom sentido, brigar junto com o corpo técnico da CELEPAR para implantar e consolidar uma metodologia, um conjunto de ferramentas de suporte ao desenvolvimento de sistemas de empresa.

BB8 – Gostaria de enviar uma mensagem aos funcionários?

PAULO MIRANDA – Eu gostaria de fazer uma convocação. Porque eu fui convidado pelo Maurício Fruet, em função certamente da minha biografia, do meu curriculum. Eu conhecia o Maurício muito mais do que ele a mim. Nós tínhamos tido muito pouco contato. Sei que fui recomendado à ele por pessoas que me conhecem e conviveram comigo, em função de algumas características de passado profissional.

Eu sou um profissional da área há 21 anos, tive algumas passagens já na direção de empresas públicas e com uma característica de trabalho.

Eu não vim aqui para o Paraná com qualquer outro objetivo que não seja um bom trabalho como Presidente da CELEPAR. Não tenho carreira política aqui no Estado. Tenho uma missão que me foi confiada pelo Secretário Maurício Fruet. Enquanto eu merecer a confiança dele eu vou desempenhá-la da melhor maneira possível.

Isso significa que nós vamos buscar para a CELEPAR a sua consolidação, a sua recolocação no lugar onde ela sempre esteve ao longo de sua história. Não por uma volta ao passado,mas por um avanço na direção ao futuro. A CELEPAR nesses últimos anos, sofreu, como nós conversamos antes, mas nós temos que fazer um grande esforço para recuperar isso.

Esse esforço não é feito pela diretoria unicamente. Embora precise muito dela, necessita essencialmente da adesão do corpo de empregados da empresa. Por isso eu faço essa convocação.

Nós temos uma trabalho grande pela frente e esse trabalho necessitará que todos se somem. Sabemos que temos uma série de problemas no nosso conjunto, enquanto empresa, do ponto de vista de treinamento, de remuneração, de condições de trabalho, de recursos a disposição. Nós temos que enfrentá-los passo a passo, e a solução não está fora de nós, está dentro da CELEPAR.

Eu queria com todos os empregados da CELEPAR e acho que nós não vamos, como equipe, como grupo, nos desviar desses objetivos, e temos certeza de que vamos atingí-los.

Eu queria agradecer a oportunidade que o Bate Byte me dá de conversar através desta entrevista, com os empregados da CELEPAR, e esclarecer o fato de ter havido algumas complicações burocráticas na minha cedência do SERPRO para o Governo do Estado do Paraná. Elas retardaram todo esse processo de posse, e de alguma forma retardara também a criação de alguns espaços para que nós pudéssemos conversar.

Mas eu espero ter muitas outras oportunidades de conversar com o conjunto dos empregados da CELEPAR.

Muito obrigado.

batebyte@celepar.pr.gov.brPaulo Roberto de Mello Miranda, 40 anos, Engenheiro civil, Superintendente regional do Serpro, no Rio Grande do Sul, de 87 a 88, e em São Paulo em 88. Diretor Administrativo financeiro da Secretaria de Educação do RS. Secretário Executivo da Comissão de Informática do RS. Diretor técnico do Procergs de 90 a 91. Funcionário de carreira de SER PRO, trabalha com informática há 21 anos, Atualmente, Diretor Presidente da Celepar.

BB8 – Considerando que houve inclusive troca de cidade, qual foi o fator preponderante de cidade, qual foi o fator preponderante na sua decisão em aceitar a Presidência da Celepar?

O primeiro deles é o desafio de dirigir uma empresa do seu porte, da sua importância no cenário nacional de informática pública.

O segundo, o convite do Maurício Fruet, pessoa pela qual eu tenho o maior respeito, pelo seu histórico, coerência em sua atividade política, na defesa de interesses maiores na defesa de interesses maiores da sociedade, muitas vezes em áreas de tecnologia e mesmo da informática.

E o terceiro, é a preservação do espaço para discussão da questão da informática pública no Brasil.

BB8 – Ao aceitar o cargo senhor tinha uma imagem da Celepar. Qual era? Hoje, já conhecendo um pouco melhor a Empresa, como está isso?

Paulo Miranda – Sim, eu tinha uma imagem a respeito da Celepar; tenho essa imagem ainda hoje. Uma empresa muito bem estruturada, com grande densidade técnica na sua equipe, capaz de gerar soluções em sistemas estaduais, com grande qualidade, pelo fato da Celepar historicamente ser uma empresa pioneira e exportadora de sistemas nessa área de informática pública.

Hoje, conhecendo melhor a Empresa, essa imagem se confirma. O que mudou foi o conhecimento melhor da sua realidade e uma avaliação de que ela sofreu bastante, com uma série de mudanças na sua gestão.

Independente da capacitação e da seriedade das pessoas que estiveram a estiveram a frente da CELEPAR, o fato de termos tido em torno de 15 composições de diretoria nos últimos 8 anos, leva a uma desestabilização uma desorganização, principalmente nas questões mais estratégicas da empresa, da visão de mais longo prazo, dos planos de investimentos e de desenvolvimento.

As trocas constantes de diretoria levaram a trocas constantes de prioridades, formas de enfocar o papel da Celepar. Isso acarretou sérios problemas e até reforça aquela imagem inicial de que, se a empresa não fosse bem estruturada, com consistência técnica e profissional ela possivelmente até seria se desorganizado completamente.

Então isso é uma constatação; acho que esses fatos que ocorreram com a Celepar exigem que a administração atual busque retomar essas questões de mais longo prazo na Empresa, definir uma linha diretiva no sentido de podermos identificar claramente os rumos aos quais nós estamos nos dirigindo.

BB8 – Qual o ponto forte da CELEPAR como prestadora de serviços ao ESTADO, e qual ao maior problema com relação a isso?

PAULO MIRANDA – Eu já comentei alguma coisa de pontos fortes da CELEPA, acho que existem vários outros, e a pergunta aparentemente contém um paradoxo.

Então eu destacaria um ponto forte que realmente tem trazido problemas. Pelo fato da Celepar ter equipes alocadas dentro de clientes, faz com que essas suas equipes tenham uma visão muito profunda, um domínio grande da atividade do cliente , do seu negócio.

Isto é um ponto forte que tem nos acarretado algumas dificuldades: a falta de flexibilidade na alocação de recursos técnicos para tarefas de desenvolvimento; a descaracterização da criação de projetos da empresa. Nas equipes alocadas dentro de clientes, o trabalho assume uma característica de serviço contínuo, que não tem início, meio e fim. Ele está sempre em desenvolvimento. Isso cria uma dificuldade no gerenciamento da utilização desses recursos e pelo fato das equipes estarem presas, alocadas em alguns clientes, nos tira a flexibilidade também na realocação desses recursos.

BB8 –Qual deve ser a postura ética de um profissional de informática de empresas estatais?

PAULO MIRANDA – Ser um profissional de informática já implica em uma questão ética. O fato de nós lidarmos com sistemas de informação que envolve a privacidade das pessoas, sigilo das informações etc, exige do profissional de informática uma postura ética que nem sempre está clara.

Além disso, sendo um profissional na área de informática pública, nós temos uma questão maior, que é – a serviço de quem nós estamos trabalhando. As empresas de informática estaduais, municipais, federais, em geral tiveram a mesma gênese, foram criadas a partir de 1964, dentro de um modelo centralizador do poder política e também sob um controle igualmente centralizado dos sistemas de informação.

Nós temos já vários anos no Brasil, um processo que caminha no sentido da plenitude democrática do País e isso forçosamente tem de nos levar a uma revisão de alguns conceitos, alguns princípios, na criação de sistemas de informação na área pública.

O acesso do cidadão a essas informações, a responsabilidade que nós temos no tratamento, na veracidade, na qualidade desses dados e em geral, como profissional de informática na área pública, deve resultar em melhoria da qualidade do serviço no Estado ao cidadão. Isso é uma questão que é ética e importante e que eu acho que vale a pena ressaltar.

Uma outra questão que também é ética, é o fato de nós, profissionais, e dirigentes de uma empresa pública, não estarmos aqui defendendo interesses de uma família, de uma família, de uma pessoa ou de um grupo econômico. Nós estamos defendendo, no caso da CELEPAR, o interesse, o patrimônio público do Paraná.

A CELEPAR foi construída com recursos do contribuinte paranaense e nosso esforço tem que estar voltado na devolução disso para a sociedade.

BB8 – Como conciliar restrição orçamentária com investimento, indispensável a uma empresa dee tecnologia de ponta?

PAULO MIRANDA – Essa questão de investimento exige realmente muito de nós. No governo, nós somos uma área meio. Nós estamos a serviço da atividade governamental. Então volto aqui a questão do planejamento da empresa: nós precisamos ter planos de ação (em que áreas nós vamos atuar, como nós vamos atuar e quais os seus projetos) que necessariamente têm que estar afinados, com prioridades do Estado, e definir quais são os recursos tecnológicos que nós necessitamos.

A partir daí, devem ser gerados os nossos projetos de tecnologia, de investimentos em tecnologia, de investimentos em tecnologia e equipamentos.

E se eles estiverem fundamentados a partir dessa forma como coloquei, nós temos condições de viabilizá-los. Mas isto realmente exige um esforço maior de nossa parte, muita competência, na conclusão de nossos projetos de investimentos.

Nós não podemos comprar um sistema de editoração eletrônica, simplesmente porque isto é moda. Devemos comprar, porque dentro das atividades do Estado, ele pode ser aplicado em várias atividades, e que estas devem ser suportadas pela CELEPAR e portanto ela tem que dominar essa tecnologia. Por essa linha de raciocínio, a gente consegue viabilizar investimentos.

BB8 – Como o Sr. vê a reserva de mercado: acaba ou não?

PAULO MIRANDA – A reserva de mercado acabou. Ela já tem uma legislação aprovada no Congresso que fixa o final em 1992, mas na prática essa reserva já está terminando.

A reserva de mercado teve aspectos muito importantes, muito positivos. Pelo envolvimento com movimentos de profissionais de informática, eu tive a oportunidade de participar de toda a mobilização em torno da Lei de Informática e da fixação da reserva de mercado.

Tenho absoluta convicção que ela desempenhou um papel histórico importantíssimo. Nós usuários, podemos ter aquela fascinação, vontade, de poder estar trabalhando com um micro de última geração, que está a disposição hoje numa loja lá em Taiwan.

Mas isso vale para outras coisas também. Nós gostaríamos muito de estar dirigindo automóveis japoneses recém saídos da fábrica, que o nosso vídeo cassete em casa, fosse de última geração com todos os recursos.

Quer ver uma coisa mais simples e corriqueira, nós gostaríamos muito que nossas canetas esferográficas escrevessem até o fim, não borrassem e tivessem boa qualidade; que as tintas que nós usamos dessem melhor cobertura e tivessem mais durabilidade e por aí vai. Gostariámos que a aspirina que nós tomamos fizesse tanto efeito como faz uma comprada nos Estados Unidos.

Existem uma questão que nunca é bem tratada, no caso da informática. O fato de haver5 defasagem tecnológica dos produtos consumidos dentro do Brasil, não é culpa da reserva de mercado na área de informática.

Em todas as áreas em que há produção de bens no nosso País e no terceiro mundo em geral, eles têm pior qualidade e defasagem tecnológica dos produtos em geral, porque a decisão tecnológica não é dos países. A decisão de distribuição nos mercados e onde colocar determinados produtos, é dos fabricantes. Nós estamos sendo submetidos a isso, e vamos continuar. Mesmo nas áreas que não havia restrições para importação, nós sempre, no Brasil, tivemos defasagem tecnológica.

Tivemos também pior qualidade nos produtos nacionais e produtos mais caros ou produtos que importados são mais caros do que lá fora. Tudo tem taxação etc.

Geralmente quando comparamos os produtos de informática nacional com os lá de fora, em termos de preço a comparação é feita ou com o preço lá fora ou com o preço de contrabando. Aí essa comparação é falsa; nós temos que comparar com produtos regularmente importados.

Mas, esses anos todos de reserva (um pouco mais de 10) trouxeram resultados bastante significativos na área de informática. Comparada com outros segmentos industriais, e a que tem menor defasagem internacional, porque como nós desenvolvemos capacidade de projetos em informática, conseguimos mais rapidamente reproduzir aqui algum produto lançado lá fora, do que em outras em que nós não temos tradição em desenvolvimento tecnológico.

A reserva de mercado cumpriu o seu papel. Existem hoje mais de 300 indústrias no Brasil em diversas áreas de eletrônica profissional, desde comunicação de dados, microinformática, médio porte, automação bancária e industrial, geração de software para esses equipamentos, desenvolvendo uma capacidade não só de projeto, mas de engenharia de produto e de produção.

As dificuldades na competição a nível internacional decorre também por uma decisão política mais antiga. Quando nos comparamos hoje com os tigres asiáticos, perdemos longe porque a decisão lá entregou a alguns grupos nacionais, todo o segmento de eletrônica.

Então a mesma indústria que fabrica o joguinho eletrônico, o rádio, a televisão e o vídeo, fabrica o microcomputador. Isto dá uma vantagem de escala violentíssima que nós não temos no Brasil.

A nossa eletrônica de entretenimento foi toda entregue as multinacionais, via Zona Franca de Manaus. Isso destruiu a indústria nacional neste segmento.

E nós pagamos o preço na área da informática porque não temos escala nas indústrias nacionais nem para compra e produção de componentes, nem para tecnologia básica.

A tecnologia de básica de eletrônica é muito próxima, nas diversas aplicações. Por exemplo: um monitor de vídeo é muito aparecido com uma televisão. Estes ganhos de escala na produção, no desenvolvimento tecnológico, nós não temos na indústria de informática nacional.

Agora, o final da reserva vai levar a um rearranjo nesse mercado, que começa pelas indústrias. Podemos ter certeza que as empresas, principalmente as mais competentes, já se arrumaram, já têm seus parceiros internacionais, vão se transformar em joint-ventures e seu problema está resolvido.

Em minha opinião, quem perde mesmo é o desenvolvimento tecnológico nacional e por conseqüência o profissional de informática, como um todo. Talvez os nossos programadores de micro passem a ter mais facilidade, mais micros disponíveis, com maior sofisticação, mas eu acho que a longo prazo nós voltaremos a situação que tínhamos nos início dos anos 70. Algumas multinacionais decidiam qual equipamento nós íamos usar no Brasil, qual o software, etc porque elas controlam esse mercado internacionalmente e determinam o que é vendido em cada um.

Se nós olharmos o mercado na Argentina que é aqui do lado do Brasil, e não tem a reserva de mercado, constatamos que esse paraíso que nos é vendido, onde todo pode informatizar, ter facilidade de comprar o que quer – não existe - porque há restrição econômica. O nível de informatização da Argentina é inferior ao do Brasil.

Não existe dinheiro aqui para comprarmos todas essas maravilhas e nos transformarmo numa sociedade informatizada de Primeiro Mundo. Nós somos um País pobre e vamos continuar sendo, agora mais dependentes tecnologicamente do exterior, do que estávamos antes.

O fato de ter se definido a legislação nessa área, eu acho positivo. A indefinição que já vinha há alguns anos, sobre a questão da reserva, somada a crise econômica do País, levou a um total desinvestimento nessa área. Ninguém mais estava aplicando,nenhum projeto andando, porque não se sabia o que ia acontecer.

Então, pelo menos se definiu por esse caminho, tudo bem, retoma-se os investimentos e nós vamos produzir aqui no Brasil e vamos importar equipamentos que dão possibilidade de continuidade no uso da informática.

O modelo precisava mudar, não podia continuar como estava, porque deu espaço para picaretagem, mas o simples cancelamento do projeto de informática nacional, na minha opinião, a longo prazo, traz prejuízos para o País.

BB8 – O modelo de empresas estatais estaduais de PD está esgotado? Ele foi bom para o País? No que pode ser melhorado?

PAULO MIRANDA – Essa é uma ótima pergunta. Como eu comentei antes, essas empresas foram geradas dentro de um mesmo modelo de centralização de poder, de controle dos sistemas de informação. Isso foi natural na época, porque a tecnologia disponível levava a isso; nós tínhamos grandes máquinas centrais – CPDs centrais.

Aqui no Brasil, por coincidência, as mudanças andaram juntas. Ao mesmo tempo em que nós tivemos uma descentralização do poder, um processo de democratização no País., tivemos também um período da democratização da informática via tecnologia. Hoje, com a evolução dos micros e a banalização da informática, qualquer lugar que você vá, ela está presente, está participando, principalmente no exterior, até mais que aqui no Brasil.

Isso começou a gerar uma pressão muito grande sobre o modelo tradicional de “birô estadual de processamento de dados'. Esse modelo, está esgotado. E aqui no Paraná, a CELEPAR já se deu conta disto há muito e gerou uma série de mudanças na prestação de serviços da Empresa. Outras empresas no Brasil também estão adiantadas, um pouco menos, um pouco mais que a CELEPAR.

Existem várias etapas nesse processo. Algumas não se deram conta disto e têm problemas sérios, porque sofrem uma pressão violenta e não estão tecnicamente habilitadas a mudar o seu perfil de prestação de serviço. Aquele modelo esta esgotado, não o modelo de empresa estadual de prestação de serviço, porque nós identificamos as mudanças que existem nas demandas do mercado 'GOVERNO ESTADUAL', associadas ao que se tem disponível na tecnologia, nós começamos a mudar o perfil das empresas, por esse modelo, que não é estanque, é um modelo em mutação.

Nós começamos a passar daquele grande birô de PD para empresa de informática. O que é uma empresa de informática? È uma empresa capaz de gerar soluções em informática. Isto não significa desenvolver um sistema em Assembler, em Cobol, em Natural, rodar no CPD central aqui e entregar o resultado ao cliente, quer em papel, quer via terminal etc.

Temos hoje a possibilidade de interligar ambientes heterogêneos e disponibilizar a informação para o cliente, mudando o modelo. Ele está com mais acesso aos sistemas e aos recursos de informática. Além disso, o próprio papel das empresas muda um pouco, porque a gente começa a avançar o processo de informatização do Estado e começa a ter cada vez problemas mais complexos para resolver na integração das bases de dados, a nível do próprio planejamento das ações de informatização dos serviços do Estado.

Assim muda um pouco a característica da empresa , em vez de ter aquele analista “bom de bit”, nós precisamos de pessoas que tenham uma visão mais estratégica do Estado, precisamos enxergar mais as interrelações entre a s atividades de Governo, as integrações que existem e que caminhos, nós devemos buscar, para disponibilizar sistemas de informação dentro desse quadro.

As empresas passam também por um perfil de consultoria em planejamento e sistemas de informação. Talvez continuemos eternamente tendo algumas rotinas em batch. Mas na verdade começamos a ter um perfil bem mais amplo de atuação da empresa e ela tem que se preparar para isso.

Então, não acaba o modelo, ele muda, modifica-se o perfil das empresas estaduais de informática. E muda para melhor porque no sentido de estar mais próxima da solução dos problemas do nosso cliente, da capacidade de gerar soluções de informática que venham a melhorar a qualidade dos serviços. O objetivo final sempre é esse.

BB8 - Quais seus projetos imediatos para CELEPAR?


PAULO MIRANDA – Nós temos muitos projetos, alguns sendo tocados já e outros nós talvez tenhamos que ir fazendo aos poucos. Uma questão importante foi a de se buscar na data-base a assinatura e um acordo que conciliasse os interesses e a capacidade da Empresa, com os interesses do seu conjunto de seus empregados.

Acho que houve entendimento e maturidade de todas as partes nós conseguimos assinar o acordo que coloca o horizonte de agosto, para que busquemos novamente convergir em várias questões, do ponto de vista econômico; que novamente acordemos sobre essas questões, esse era um objetivo.

Nos da diretoria temos trabalhado bastante em algumas linhas. Uma delas é a relação da CELEPAR com seu mercado. Encontramos uma situação, lá fora da CELEPAR, dentro dos diversos órgãos do governo, no nível estratégico e até mesmo no nível de dirigentes, alguns pontos de questionamento em relação a CELEPAR, seu papel, sua forma jurídica, enfim a posição da Empresa nesse mercado.

Temos buscado discutir isso tanto interna como externamente, identificar as razões e buscar soluções para isso. Nosso projeto hoje é definir exatamente qual é o mercado em que a CELEPAR vai atuar, como ele está segmentado e que tipo de solução nós podemos apresentar para cada segmento desse mercado.

Isso deve ficar muito claro, bem negociado lá fora w aqui dentro também. Cada um de nós que tem que tomar decisões técnicas dentro de empresa, precisa saber dentro de que escopo, dentro de que regras estamos tomando estas decisões.

No passo seguinte, nós devemos trabalhar na nossa linha de produtos e serviços; definido nosso mercado e a forma de trabalho no mercado, nós temos que rediscutir, analisar e definir melhor a nossa linha de produtos e serviços.

Quais são esses produtos e serviços, como eles são prestados, que características ele têm, como é a sua constituição, sua base técnica, como são comercializados e como são produzidos. Este é um esforço grande, nós precisamos definí-los melhor até para ficar mais claro também para o nosso mercado e para nossos clientes.

A partir daí, necessitamos discutir nossas plataformas tecnológicas. Quais vão suportar essa linha de produtos e serviços.

Rever, discutir um pouco nossos projetos em andamento em cima de algumas plataformas tecnológicas, talvez iniciar outros em cima de novas plataformas, e a partir daí também direcionar os nossos investimentos em tecnologia baseados nestas definições.

Eu digo que esse encadeamento é um projeto que envolve grande parte da empresa. Ela deve consumir bastante esforço, tempo nosso, mas ele dá uma linha, uma direção de longo prazo para a CELEPAR, uma estabilidade também de atuação nesa área. Começamos a trabalhar dentro de planos mais consistentes.

Existem alguns outros projetos que são subdisi´arios a eses e que são fundamentais. A normalização das relações da CELEPAR, com o Governo. Já financeiro o das regras de gestão de recursos humanos. Hoje estamos muito atados nisso, a nossa capacidade de gerar eventos, como promoções contratação, recrutamento de pessoal, está impedida por decretos e regras. Então nós temos que recuperar isso, para que possamos resgatar a relação com o nosso corpo de empregados.

Acho que do ponto de vista político essa relação está recuperada. A prova disso foi um acordo fechado na data-base. Mas, em relação a perspectiva profissional e carreira, a adesão a uma proposta da Empresa passa por nós termos acesso aos mecanismos de gerenciamento de recursos humanos, a avaliação de desempenho, promoções, punições etc.

Essa autonomia da empresa tem que ser recuperada pra que se possa realmente trabalhar a questão de pessoal com critérios de justiça e de valorização das pessoas.

BB8 – Como o senhor pretende conduzir as políticas e estratégias da empresa para que a informática e conseqüentemente a CELEPAR possa contribuir, de fato, com o aprimoramento e desenvolvimento da máquina do Estado?

PAULO MIRANDA – Esta questão já de alguma forma foi abordada nas outras respostas, mas eu vou falar mais da maneira como isso pode acontecer. Nós temos hoje no nosso mercado, em algumas situações, forças antagônicas.

Temos o cliente descontente com a CELEPAR, a CELEPAR preocupada em segurar aquele cliente, achando que ele está querendo de alguma forma prejudicar a empresa e sair fora.

Temos também a iniciativa privada que fica tentando entrar e pegar um pedaço disso para ela.

E acho que essas forças podem atuar se somando. Isso não é muito fácil, mas eu tenho certeza que pode acontecer. Há que se ter muito claro quais as áreas que nós vamos atuar e das quais não abrimos mão. Existem áreas no mercado que certamente podem e algumas até eventualmente devem ser atendidas por outras entidades ou empresas da iniciativa privada.

A verdade que nós não conseguimos atender todo esse mercado, nós próprios executando o serviço. Precisamos formar parcerias para que o processo de informatização do Estado se dê com tranqüilidade, e possa ser acelerado.

Se a CELEPAR fosse executar todos os serviços de todos os órgãos da administração direta e indireta do Estado, precisaríamos de uma empresa de alguns milhares de empregados e provavelmente seríamos menos eficiente do que hoje. Temos que conciliar os interesses dos nossos clientes clientes, com a nossa capacidade de atendimento, não abrindo mão do poder de decisão do Estado, do que deve ou não estar sob seu controle.

Isso estabelece uma relação com os clientes da CELEPAR, uma forma de trabalho junto ao Conselho de Informática do Estado, em que se nós temos que definir diretrizes e políticas da informatização e num processo mais amplo, de planejamento, definindo as bases de dados, as necessidades de integração etc.

Consolidar o papel da CELEPAR como gestora das grandes bases de dados do Estado e como gerenciadora da rede estadual de comunicação de dados. Também garantir a capacidade para definir e planejar os processos de informatização e coordená-los, mesmo quando eles são desenvolvidos fora, até por uma empresa privada.

Nós precisamos manter a integridade das bases de dados e a capacidade de interligação desses sistemas. Esse é o modelo e as integrações que eu vejo, isso passa por interação com o Governo, com o Conselho de Informática, com as entidades na área de informática, tanto na ASSESPRO, SUCESU como também, as entidades geradoras de tecnologia nessa área, nas Universidades que têm aqui no Paraná.

Eu tenho certeza que nós vamos ter possibilidade de fazer uma série de trabalhos integrados aí nessa área.

BB8 – O principal (mais importante) vendedor de serviços numa empresa de estilo da CELEPAR deve ser a sua diretoria executiva, dada as facilidades de acesso aos níveis governamentais. Como o senhor vê isso na CELEPAR?

PAULO MIRANDA – É. Eu concordo com isso e a gente já tem trabalhado nesse pouco tempo dessa forma, toda a diretoria e não só ela, o corpo gerencial também. A diretoria tem que estar sempre lá na frente buscando abrir portas, romper barreiras e respaldada pelo corpo técnico de empresa.

BB8 – Ao final de sua gestão o que gostaria de comemorar como vitória?

PAULO MIRANDA – Eu não vejo a questão desse lado, nós chegarmos lá no fim e comemorarmos vitórias. Nós estamos tendo vitórias no dia-a-dia, acho que uma grande foi a receptividade que nós, pessoal ou profissionalmente, tivemos aqui na CELEPAR.

Estamos tendo adesão interna de nosso corpo técnico e gerencial, as propostas que temos feito. Há adesão externa também dos nossos clientes. Essas mas sim da Empresa, porque elas possibilitam o crescimento, o desenvolvimento da CELEPAR.

Durante a gestão nós temos uma série de projetos, de propostas e a consolidação dessas questões em termos da CELEPAR em relação ao seu mercado, aos seus produtos e serviços, e as suas plataformas tecnológicas.

Outra questão é o reconhecimento pelo conjunto da administração estadual da efetividade da nossa prestação de serviços.

Outro ponto, um pouco mais específico mas que tem surgido como muito importante. É a questão da metodologia de desenvolvimento de serviços. Essa questão eu destaco até porque eu não comentei antes.

Tenho muito claro que uma empresado porte da CELEPAR, que lida com problemas complexos e variados como lidamos, se não tiver uma unidade metodológica, terá como tem hoje, dificuldades no desenvolvimento e na consolidação dos seus produtos dentro do mercado.

Nós temos hoje pelo que a gente já tem acompanhado, uma total despadronização das soluções apresentadas. Despadronização não no sentido de que todas têm que ser iguais, obviamente, mas mas no sentido de que o tipo de solução, a forma de abordagem do problema, varia de pessoa por pessoa. Nós não temos um padrão metodológico na CELEPAR.

Isso nos leva a soluções de alta qualidade e a soluções de qualidade muito discutível. O padrão metodológico ajuda muito nisso. Ajuda na qualidade do desenvolvimento dos sistemas e ajuda também em questões acessórias como qualidade da documentação que implica futuramente na facilidade da manutenção daquele sistema a custos menores e com melhor qualidade.

Esse é um ponto que nós reputamos como extremamente importante e vamos brigar bastante, no bom sentido, brigar junto com o corpo técnico da CELEPAR para implantar e consolidar uma metodologia, um conjunto de ferramentas de suporte ao desenvolvimento de sistemas de empresa.

BB8 – Gostaria de enviar uma mensagem aos funcionários?

PAULO MIRANDA – Eu gostaria de fazer uma convocação. Porque eu fui convidado pelo Maurício Fruet, em função certamente da minha biografia, do meu curriculum. Eu conhecia o Maurício muito mais do que ele a mim. Nós tínhamos tido muito pouco contato. Sei que fui recomendado à ele por pessoas que me conhecem e conviveram comigo, em função de algumas características de passado profissional.

Eu sou um profissional da área há 21 anos, tive algumas passagens já na direção de empresas públicas e com uma característica de trabalho.

Eu não vim aqui para o Paraná com qualquer outro objetivo que não seja um bom trabalho como Presidente da CELEPAR. Não tenho carreira política aqui no Estado. Tenho uma missão que me foi confiada pelo Secretário Maurício Fruet. Enquanto eu merecer a confiança dele eu vou desempenhá-la da melhor maneira possível.

Isso significa que nós vamos buscar para a CELEPAR a sua consolidação, a sua recolocação no lugar onde ela sempre esteve ao longo de sua história. Não por uma volta ao passado,mas por um avanço na direção ao futuro. A CELEPAR nesses últimos anos, sofreu, como nós conversamos antes, mas nós temos que fazer um grande esforço para recuperar isso.

Esse esforço não é feito pela diretoria unicamente. Embora precise muito dela, necessita essencialmente da adesão do corpo de empregados da empresa. Por isso eu faço essa convocação.

Nós temos uma trabalho grande pela frente e esse trabalho necessitará que todos se somem. Sabemos que temos uma série de problemas no nosso conjunto, enquanto empresa, do ponto de vista de treinamento, de remuneração, de condições de trabalho, de recursos a disposição. Nós temos que enfrentá-los passo a passo, e a solução não está fora de nós, está dentro da CELEPAR.

Eu queria com todos os empregados da CELEPAR e acho que nós não vamos, como equipe, como grupo, nos desviar desses objetivos, e temos certeza de que vamos atingí-los.

Eu queria agradecer a oportunidade que o Bate Byte me dá de conversar através desta entrevista, com os empregados da CELEPAR, e esclarecer o fato de ter havido algumas complicações burocráticas na minha cedência do SERPRO para o Governo do Estado do Paraná. Elas retardaram todo esse processo de posse, e de alguma forma retardara também a criação de alguns espaços para que nós pudéssemos conversar.

Mas eu espero ter muitas outras oportunidades de conversar com o conjunto dos empregados da CELEPAR.

Muito obrigado.