Fábrica de sonhos

Nathan Wilson

 

Responsável pelo uso do Linux em “Shrek” e “Madagascar", uma das atrações do Latinoware

Uma ótima notícia para os entusiastas do Linux. Madagascar, o novo filme de animação que estreou recentemente, foi feito inteiramente em computadores usando o Linux. Isto se deu graças a Nathan Wilson, conhecido no mundo da tecnologia da informação como o homem que conseguiu migrar todos os sistemas da DreamWorks, um dos maiores estúdios cinematográficos do mundo, para software livre. Nathan Wilson será uma das principais atrações da Conferência Latino-Americana de Software (Latinoware Mercosul). Há 8 anos ele é o líder do projeto de distribuição de software, gestão de configuração e da transição do estúdio para Linux e para GNOME. Além de Madagascar, Nathan também possui créditos no fabuloso Shrek 2 e em outros títulos como “Spirit, o corcel indomável”, “O príncipe do Egito”, “O caminho para Eldorado”, “Sinbad”, “O Espanta Tubarões” e “Over the Hedge” (título sem versão nacional) que só chegará às telas do cinema no próximo ano e cuja exibição fará parte de sua palestra na Latinoware.

Antes de trabalhar na DreamWorks, Nathan foi fundador do Departamento de Mídia Digital Domain, atuou em ambiente de desenvolvimento de multimídia na Apple, foi um dos precurssores da Teleos Research e trabalhou nos setores de robótica e pesquisa em inteligência artificial na SRI Internacional. Mestre em ciência da computação pela Universidade da Califórnia Santa Cruz e em psicologia experimental pela Universidade da Pennsylvania, desde 1984 ele defende o desenvolvimento e o uso do software livre.

Com sua ascensão na indústria cinematográfica, o Linux prova ser o sistema operacional que tem mais usos práticos comparado ao clássico servidor de arquivos e impressão.

Depois que se descobriu como fixar uma imagem na câmera escura, logo todo mundo estava querendo animar as fotos, ou seja, dar movimento às imagens. Oficialmente, o cinema nasceu no dia 28 de dezembro de 1895, quando Louis Lumière apresentou suas imagens em movimento ao público no Salão Indiano do Grand Café, no Boulevard des Italiens, em Paris. Algumas das 33 pessoas que assistiam ao filme "La Sortie des Usines" quiseram se esconder, com receio de serem atingidas pelo trem em movimento”. Para Marshall Mcluhan “a câmera enrola num carretel um mundo exterior. Consegue-o através de rápidas fotografias estáticas. O projetor desenrola este carretel como uma espécie de tapete mágico que transporta instataneamente o espectador para qualquer parte do mundo. A câmera grava e analisa o mundo à luz do dia com intensidade maior do que a humana, devido ao ângulo de quarenta e cinco graus do seu olho. O projetor revela esse mundo à luz do dia sobre uma tela escura, onde ele se torna um mundo de sonhos".

Das primeiras imagens em movimento de Louis Lumière até os dias atuais muita coisa aconteceu. Produções como as da Dreamwork até fazem pensar que do jeito que as coisas andam não é difícil imaginar que em breve o Oscar vá para o programador de computadores. Seria pouco surpreendente se na próxima festa do cinema de Hollywood, um dos grandes vencedores fosse mesmo esse profissional cada vez mais presente e indispensável na criação de filmes. A utilização da informática no cinema está cada vez mais radical, levando a tecnologia da animação digital ao estado da arte para criar um mundo 100% virtual, embora suas personagens e cenários, muitas vezes, se confundam com a realidade, tal a sua perfeição.

Software livre agiliza a produção de Madagascar

Para dar vida ao longa-metragem Madagascar, os produtores da Dreamworks utilizaram estações xw8000 de alta performance da HP. Elas têm sistema operacional Red Hat Linux 3, processadores duplos Intel Xeon 2,8 Ghz, placa de vídeo nVidia Quadro 4 XGL, 2 GB de memória RAM e monitores duplos. Entre os servidores estão o HP 425 ProLiant DL-360 (com processador duplo 2,8 GHz P4 com 4 GB de RAM) e o HP 250 ProLiant DL-145 (com processador duplo 2,4 GHz AMD Opteron com 4 GB de RAM). Com essas máquinas, os desenvolvedores ganharam autonomia para testar seqüências curtas sem ter de mandá-las para os servidores. Isso fez com que economizassem tempo, pois antes tinham de esperar até o dia seguinte para ver o resultado das simulações.

A DreamWorks se conectou ao HP Labs, em Palo Alto (Califórnia), para administrar os recursos de tecnologia do filme. No local, foram utilizados diversos servidores que tinham sua capacidade computacional ampliada ou reduzida, de acordo com a necessidade do estúdio de animação.

Em Madagascar, o leão Alex, principal personagem do filme, tem cerca de 50 mil pêlos na juba e 1,7 milhão deles espalhados por todo o corpo. A existência desses e outros elementos, como milhões de plantas, exigiu que a velocidade das estações de trabalho gráficas do filme fossem duas vezes superior àquelas utilizadas em "Shrek 2". Para se ter uma idéia da complexidade da animação, esses milhões de pêlos do leão podem aparecer em uma cena com outros milhões de folhas balançando simultaneamente, além de milhares de animais peludos em movimento. Também há seqüências no mar e na praia que demandam efeitos minuciosos de água e areia. Os estúdios têm de contar com soluções flexíveis, pois esse setor é marcado pela criatividade. Quando uma nova idéia causa mudanças na fase final de produção, é necessário aumentar a capacidade de processamento para que o filme não saia do cronograma. Isso aconteceu durante o desenvolvimento da animação "O Espanta Tubarões", que teve de adiantar seu lançamento para participar de um festival. "Se a animação utilizasse a mesma tecnologia de 'Shrek 2' seu tempo de execução seria inviável, pois as máquinas utilizadas em 'Madagascar' precisavam de muito mais memória que o filme anterior", afirma Luis Albuquerque, gerente de produtos para workstation da HP Brasil. Do conceito inicial à conclusão do filme foram quatro anos de trabalho.

Do mesmo modo que na fotografia, a presença da informática no cinema também é uma realidade: a edição já está toda informatizada, a filmagem é assistida por vídeo, quando não é gravada diretamente em meio magnético, a maioria dos efeitos de pós-produção são gerados eletronicamente, o roteiro e o storyboard são editados em microcomputadores. Quem presenciar a palestra de Nathan Wilson no Latinoware vai ampliar seus conhecimentos sobre o uso da informática nesta verdadeira fábrica de sonhos.