Flagrantes

O dia em que o cliente não teve razão

Autor: Luis Carlos de Almeida Oliveira - GPS


Diz o ditado que o Cliente sempre tem razão. Mas isto nem sempre é verdade, senão, vejamos:

Tínhamos um Cliente, daquele tipo dedicado, comprometido, inteligente, de raciocínio rápido, conhecedor da matemática e hábil no seu uso, empreendedor, entusiasmado e inovador. Tinha, enfim, tudo o que se pode esperar de um excelente Cliente (e também de um grande amigo), apesar de ter uma característica: era, digamos assim, um pouco distraído.

Tinha um hábito de cumprimentar as pessoas todas as vezes que as encontrava. Era comum ser cumprimentado por ele meia dúzia de vezes ao dia. A explicação era simples: como ele era distraído, e sabia disto, na dúvida se já havia cumprimentado ou não as pessoas, preferia repetir o cumprimento a passar pela situação de encontrar uma pessoa e não cumprimentá-la. Até aí tudo bem.

O fato mais pitoresco, merecedor de registro nesta coluna, foi um dia, um fatídico dia no seu retorno para casa. Saiu do local de serviço, envolvido com as questões do dia-a-dia. Certamente estava projetando novas soluções, definindo novas fórmulas de cálculos, pensando nas metas para o próximo semestre, enfim, estava completamente absorvido pelas suas prioridades. Despediu-se de alguns colegas (também várias vezes), chegou no estacionamento, pegou seu carro e seguiu para casa. Nas ruas próximas ao trabalho, já de carro, encontrou seus colegas também indo para casa e os cumprimentou de forma entusiástica.

Alguns quilômetros à frente, ainda a caminho de casa, percebeu que, num ponto de ônibus, uma pessoa acenou com bastante ênfase. Ele não teve dúvidas, retribuiu o aceno com a mesma empolgação e seguiu para casa, ainda envolvido em seus pensamentos.

Ao chegar em casa, seus filhos logo perguntaram: "e a mãe, não veio junto"? Foi neste momento que ele pensou: "Era ela!". Lembrou-se então que havia combinado pegar a esposa num determinado lugar e mais, e pior que isto, que aquela pessoa que acenou de forma tão enfática e desesperada num ponto de ônibus era a própria esposa, na vã tentativa de conseguir uma carona para casa.

Consta que, alguns instantes depois, sua esposa também chegou, de ônibus, em casa. Não tivemos maiores detalhes sobre a conversa que houve na seqüência, mas acreditamos que neste dia o Cliente, o nosso dedicado e comprometido Cliente, não teve razão!