Flagrantes: Bem vindos á OSSOPAR



Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro– GAC


Histórias da CELEPAR dos tempos de antanho. Bota antanho nisso, estamos falando da década de 60. Os Beatles ainda nem existiam, o fusca era o carro mais moderno que havia no País, o muro de Berlim recém havia sido erguido.

Trabalhava na CELEPAR um bando de gozadores, alguns dos quais eram bem de vida, ou pelo menos investiam suas ricas economias em belos carrões. Assim, por exemplo, o Antoninho Jimenes, que colecionava carros antigos, tinha um belíssimo Ford Fairlane, lustroso, limpo e lindo, mais lindo do que quando saiu da fábrica. Outro que caprichava era o Heinz, que por sua vez habitava um vistoso Simca Chambord. Aliás, quem nasceu depois de 1970, não deve saber o que era o Simca Chambord, mas era um carrão, tinha um rabo de peixe que hoje pode ser (e é) cafoníssimo, mas que na época arrancava suspiros de ambos os sexos.

Uma das brincadeiras preferidas desse povo era cercar o recém-admitido e confessar a ele (ou ela) que, embora o salário não fosse aquela Brastemp, boa parte dos funcionários tinha uma segunda atividade que rendia muito mais do que trabalhar. Era batata, dinheiro líquido pingando a todo instante. Não era imoral, nem ilegal e muito menos engordava. O recém-admitido estava interessado?

Claro que todo o mundo estava interessado. Eis aí uma boa explicação para o que seja a cobiça humana. Ninguém dizia: não estou interessado ou não precisa, eu ganho bem. Nada disso, todos esfregavam as mãos e brilhavam os olhos lúbricos: o que é que eu tenho que fazer?

Daí havia uma simulação: uns queriam admitir o novato no negócio, outros negaceavam e diziam que tanta gente ia acabar matando a galinha dos ovos de ouro. Tudo encenação para passar o conto do paco no recém-admitido, que nada sabia e a tudo acompanhava com interesse crescente, passando a língua nos beiços.

Finalmente, ele era admitido no segredo. A mina de dinheiro era procurar animais de grande porte (vacas, cavalos) que tivessem morrido nos pastos dos arredores de Curitiba. Encontrado um, ele era logo enterrado e o lugar marcado. Três meses depois, era só ir lá desenterrar os ossos do bicho e vender para fábricas de botões. Negócio super-rentável, não tinha erro.

A pobre vítima às vezes desconfiava de que aquilo era uma peta, e acabava mostrando uma pequena desconfiança, que era imediatamente calada com o argumento final: o Simca do Heinz era resultado de 2 vacas que foram vendidas inteirinhas pra fábrica de botões que tem alí em Gaspar, perto de Blumenau. Pagamento à vista, deu pro Simca e ainda sobrou um baita troco que foi dividido entre todos.

Convencido e mais que convencido, querendo começar logo, o novato era avisado de que – para sorte dele – no próximo sábado às 8 horas da manhã, ia sair uma expedição para recuperar os ossos de um cavalo que fora enterrado alí perto, na rodovia dos minérios, atrás da fábrica da Brahma, um pulinho só. O novato deveria vir de roupa de briga, com botas e não podia esquecer: uma enxada daquelas grandes.

O fim da história: acompanhar no sábado pela manhã a vinda do programador ou analista contratado, vestido de caipira e com um baita enxadão nas costas.

É mole, ou quer mais?