Flagrantes: Haja pressão

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro

 

Mais uma história verídica para a coleção. É uma meio escatológica, assim, olhos e ouvidos (e olfatos) mais sensíveis devem parar a leitura por aqui. Aos corajosos, vamos aos fatos.

Meses atrás, tivemos um problema hidráulico num dos banheiros da sede. O banheiro, que era muito usado, sem mais nem menos entupiu-se. Não sei se o prezado leitor concorda, mas qualquer coisa entupida já é um abacaxi. Sendo um banheiro então, tem-se quase uma tragédia. Se uma casa fosse viva e os canos fossem suas artérias, estaríamos diante de um autêntico enfarte do miocárdio.

Pois foi bem isso que aqui aconteceu. Quando o problema foi detectado, imediatamente convocou-se à presença, os setores capacitados a lidar com o ocorrido. Logo agendou-se uma visita daquelas empresas que têm aquele treco parecido com uma broca gigante de dentista e que adentra nas veias das casas desentupindo tudo. Só que, por azares do destino, o dono da broca gigante estava com muito serviço e só podia vir aqui na sexta feira, enquanto ainda estávamos na manhã de quarta.

O problema não estava mais restrito às quatro paredes do banheiro, ele já causava um certo desconforto nos que trabalhavam próximos. A grita começou braba, e como sói ocorrer quase sempre, eis que surge o candidato a salvador da pátria. Bateu no peito e garganteou: "deixa comigo".

Por mistérios do além, junto com o herói surgiu no ar aquela sensação de "vai dar..." oops, preciso cuidar com os termos, pois era bem isso que aparentemente ia dar.

Monopolizando as atenções, o nosso herói entrou no banheiro acompanhado de um extintor de incêndio gigante, o maior do andar. Entrou e a porta trancou, ninguém ia poder acompanhar a odisséia. Do lado de cá só se podia ouvir os fortes jatos de pó branco sendo emitidos lá dentro. Uma fumacinha branca começou a vazar por baixo da porta e pelas frestas da janela. Enquanto isso os barulhos e os jatos continuavam.

Mais alguns minutos e o silêncio se fez presente. Todos já estavam ansiosos, quase com o coração na mão e nada da porta se abrir. Até que um mais corajoso foi lá e bateu toc, toc, toc na porta. Necas de resposta. Animado pela já nessas alturas grande assistência, avançou cuidadosamente, dois passinhos e cléc, abriu a porta.

Amigos, é preciso calma para descrever o que se viu lá: as paredes que eram brancas antes do entupimento e da tentativa de desentupimento, agora estavam amarelo-marronzadas, ou seria melhor marrom-amareladas, mas de qualquer jeito estavam imundas. O cheiro que já não era nada bom antes, agora ficou insuportável: parecia que as portas de Armagedon haviam sido abertas. Finalmente, nosso pobre herói estava já sem camisa, tentando se lavar e quase começando a chorar de raiva e ódio.

Não me perguntem o que ele fizera: não sei a resposta. Só sei que não é uma boa idéia tentar desentupir algo com jatos de extintor. Pode dar... encrenca!