Flagrantes: Hiroshima e Nagasaki, versão celepariana

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro

Os participantes desta história – quase todos – já não estão mais trabalhando conosco. Portanto, é hora de contar a verídica epopéia e, porque não, de rir um pouco com nossas próprias desgraças, que afinal esta vida não deve ser levada muito a sério mesmo.

A Empresa, como todo organismo vivo, às vezes precisa conviver com algumas faltas e carências. Quem já precisou fazer regime, sabe do que falo. Pois vai se contar aqui o episódio do dia em que faltou ... papel higiênico. Imagine, prezado leitor, 600 e poucas pessoas trabalhando durante 8 horas absolutamente sem nenhuma segurança, rede de proteção, ou espaço para descuidos. Qualquer (censurado) seria fatal.

Tudo começou quando houve um consumo anormal do dito insumo. Razões há de as ter havido, mas não se descobriu até hoje quais foram. O almoxarife, pessoa responsável, ao ver aquela pilha normalmente enorme diminuir, tratou de alertar seus superiores. Risco de situação potencialmente perigosa. Imediatamente, entrou em ação o mecanismo de aquisição – em regime de urgência. Editais... a pilha diminuindo, tomadas de preços, ...diminuindo... aquisição... a pilha já no mico e finalmente (ufa, que alívio), a entrega prometida: próxima terça-feira. É batata!

Mas, se há uma lei verídica na natureza, é a lei de Parkinson (se algo pode dar errado, dará). Pois não é que na fatídica terça o caminhão que trazia a – nessas alturas – preciosa mercadoria, não sofreu um pequeno acidente? Esse foi o pano de fundo, agora corte rápido para o dia em questão.

Já na véspera havia algo estranho. Pessoas portando o indefectível sorriso amarelo já contrabandeavam rolos, meio escondidos no meio de pastas e listagens, de sala a sala (ou melhor, de banheiro a banheiro). Nesse dia, ocorreram alguns episódios hilários, mas foram poucos e localizados, nada que se comparasse à verdadeira hecatombe nuclear do dia seguinte.

No dia D, cedo, os telefones da área de suprimentos começaram a soar estridentemente. Alguns telefonemas educados, outros irônicos, enquanto outros, francamente desesperados. Rapidamente as brincadeiras e os deboches naturais nessas situações, começaram a ser substituídos por algo bem mais aterrorizante; em uma palavra, pânico. Mas o pior estava reservado para depois do almoço. Afinal, já dizia Lavoisier: na natureza nada se cria, tudo se transforma. E a lei das pressões em vasos comunicantes de Bernouilli também deu o ar de sua graça. A pressão (concretamente falando) era cada vez maior.

O gerente administrativo, enfureceu-se, subiu nas tamancas. Batia com a mão aberta na mesa, gritando (censurado), (censurado) e (censurado). Os funcionários reunidos, não sabiam se baixavam a cabeça pela espinafrada, ou se caiam na gargalhada. De fato, nunca um palavrão foi tão bem empregado: literalmente era um problema de (censurado).

O que teve de gente indo visitar uma tia, na farmácia, na quitanda ou indo em casa buscar um repentinamente importante guarda-chuva esquecido (não chovia há mais de 30 dias, o céu era de brigadeiro). Teve uns mais práticos, ou apressados que se socorreram no boteco aqui da esquina mesmo. Quem tinha um pouco de papel guardado, rapidamente o trancou a sete chaves. Surgiu até um mercado negro: algumas folhinhas em troca de uma lapiseira, caneta, agenda nova, micro, moto, até carro entrou na jogada. Houve rumores de que um gaiato chegou a oferecer fraldas descartáveis para adulto.

Como terminou a história?

As 15:00, diante do verdadeiro estado de calamidade pública potencial que se armou, o gerente administrativo, ele próprio, se rendeu: às favas a lei de licitações públicas, às calendas os prazos e ritos regimentais, que com essas coisas não se brinca. Pegou grana do próprio bolso e correu ao supermercado vizinho da Celepar. Teria sido divertido vendo-o chegar com 8 enormes fardos de papel higiênico. Teria sido, porque naquela situação, foi mesmo é ... um imenso alívio.

Ficou uma lição: nunca subestime a capacidade e a necessidade do ser humano de produzir (censurado). Pode ser fatal.