Flagrantes: O Presente

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro - GAC - Ramal 381

Temos um colega e amigo entre nós que errou de profissão. Devia ter escolhido a medicina e não a análise. Seus textos escritos a mão são ininteligíveis. Quando ele escreve algo, só ele e Deus entendem o que está "esgruvinhado". Dois dias depois, só Deus entende, nem ele mais é capaz de decifrar seus próprios hieróglifos.

Fui testemunha. Dia desses ele escreveu (ou melhor, pensou em escrever) CONHAQUE DE ALCATRÃO É BOM PRA TOSSE, e o máximo que o resto da massa conseguiu entender foi CULATRA DO CANHÃO É BOM PRA POSSE.

Nada temos contra a letra garranchosa de nossos companheiros, mas tem uma de nós que sofre literalmente o problema: é a nossa secretária da GAC. Embora competente, ágil e esperta, os escritos desse colega são demais para ela. Ao transcrever algo que ele "escreveu" nossa assistente precisa se travestir de Confúcio (haja paciência), de Sherlock Holmes (elementar, meu caro Watson), de vestibulando mal preparado (será que isso é um "a", um "b", um "c" ou n.d.a. - vou chutar) e até de eflúvios Freudianos (o que será que ele tentou - mas não conseguiu - escrever aqui?)

Bom, mas essa é a vida. Nada como um dia após o outro. Tanto sofreu que nossa assistente preparou uma treta. Demorou, mas, já dizia alguém: a vingança é um prato que se come melhor frio. Um belo dia nosso colega chegou e viu um belíssimo pacote de presente, luxuoso e exuberante sobre sua mesa. Como ele bobo não é, logo sentiu o cheiro inconfundível da sacanagem. Mas, levantando os olhos viu toda a equipe reunida, esperando o desfecho.

Aliás, um parêntese: não há nada melhor para juntar a turba do que o processo de se armar uma grossa aprontada, todos cheiram(-mos) a coisa e ela nos atrai como mel atrai moscas. Não é mesmo? Fim do parêntese.

Ao ver o sorriso ambiauricular (ou seja, de orelha a orelha) da secretária, o herói da história logo se arrependeu por tantos garranchos no passado. Mas que remédio, a única saída foi fazer cara de bobo e começar a abrir o pacote.

Lentamente, para dar substância à cerimônia, e - afinal, entrando na brincadeira - o dito cujo foi retirando as sucessivas camadas de papel, umas 5 ou 6, e uma mais linda que a outra.

Finalmente o pacote se desfez e brilhou reluzente o presente da secretária para o analista. O que era? Um caderno de caligrafia bem grande, daqueles que a gente usava no 1º. ano primário, encapado, etiquetado e no qual se podia ler: "meu companheiro inseparável".

Não temos registro se o caderno foi ou não usado (e para quê, um detalhe importante) mas houve um final feliz. Nosso colega agora só escreve via Notes, e todos podem ler e entender o que ele quer dizer.