Flagrantes: Ô bichinho inconveniente, esse celular...

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro

Esta história é quente. Ocorreu há poucos dias e teve gente que passou mal de rir. Fiquei em dúvida se contava ou não o causo. Afinal, ele envolve colega vizinho de sala, e além de colega, amigo. Com essas manias de escrafunchar na vida alheia e contar tudo o que ocorre, acabo me arriscando a enfrentar turbulências. Paciência, posso perder um amigo, mas não perco uma história.

Pois o nosso personagem é um coordenador de atendimento responsável por vasta carteira de clientes — por sinal todos eles bem exigentes. Uma bela manhã ele se dirige ao banheiro, mal tranca a porta e TRIIIIIMMMM, toca o telefone na mesa. A secretária atende, é um cliente desesperado. Ele (o cliente) precisa repassar uma série de informações necessárias para um processamento imenso que vai ocorrer nessa tarde. As 18 horas a fita magnética tem porquê tem, de embarcar para Brasília. É caso de vida ou morte.

A secretária, safa como ela só, ficou constrangida de dizer ao cliente que seu interlocutor estava no banheiro. Disse apenas que muito ocupado estava, não podia atender, mas que logo em seguida retornaria a ligação. O demandante não ficou muito satisfeito, afinal o caso era de vida ou morte como já se disse, mas,... que remédio.

Nossa auxiliar, preocupada, começou uma marcação cerrada na porta do banheiro. Não sei se já contei, mas era caso de vida ou morte, o coordenador não podia escapar. Passaram-se vários minutos, e nada da porta se abrir. Que estranho... ela pensou. Já meio preocupada chegou perto da porta e AAHHH! (um pulo para trás) Que susto! Vozes lá dentro. Discussão abafada. O homem enlouqueceu ? Será que está treinando oratória ? Será que alguma coisa que ele comeu deu um revertério ? Dizem as más línguas que a secretária resmungou com seus botões credo em cruz, tem cada doido por aqui, enquanto se afastava. E, nada da figura sair lá de dentro.

A notícia se espalhou, e como sempre acontece nesses casos, uns perus que vagavam por ali se juntaram na torcida. Começaram a aparecer as primeiras teorias sobre a demora. Não dá pra descrevê-las aqui, seria falta de decoro, mas tinha umas duas francamente fantásticas.

Nisso, aquele barulho característico da água descendo enlouquecidamente pelo cano, violenta, redemoinhando-se toda e etc. etc. Era a descarga, nessa altura, salvadora. Um gaiato lá do fundo não se conteve e exclamou: AGORA VAI!. Risos e chacotas da massa. Abre-se a porta e sai o fulano impávido e tranqüilo. A secretária corre a avisar:

— Ligue para o seu cliente, ele precisa falar urgentemente com você.

O coordenador, na maior calma respondeu:

— Não precisa, já falei com ele. Não só falei, como anotei tudinho.

Disse isso mostrando uma tira de papel (daqueles brancos, duplos, picotados) de quase 2 metros, cheia de garranchos, números e esquemas.

— Ele me ligou no celular e resolvemos tudo.

Como diria o Sílvio Santos: Isto não é incrível ? Agora, prezado leitor, pensemos juntos: É ou não é um coordenador prevenido? Nem naquele momento glorioso de abandono e relaxamento, ele se desguarnece. Vai ao banheiro munido de celular e lapiseira. Papel não leva, porque sabe que lá tem. Agora, duro mesmo, foi o cliente entender como alguém que estava ocupadíssimo, impossibilitado de atender, conversou com tamanha calma e galhardia. Quem sabe um dia ele fica sabendo. O pior é que dizem que esse coordenador vai comprar um notebook. Será que o computador irá junto também ? ... Aguardemos.