Flagrantes: Obliterações

Autor: Pedro Luis Kantek G. Navarro

Na acepção 2 do Aurélio, obliterar é "destruir, eliminar, suprimir" e é sobre isto que nos fala esta história. Quantas vezes ao escrever uma palavra qualquer no micro "ecrevemos" (atenção revisão: é ecrevemos e não escrevemos) errado? Você acabou de ver uma obliteração, alguém (meus dedos?) sumiu com a letra "s" de escrevemos.

 

Isto é comum quando o pensamento é mais rápido que os dedos que digitam, isto é, quase sempre. Via de regra, depois que se termina um texto, mandam os bons costumes que o digitador leia o que escreveu, e neste caso as obliterações são -- em geral -- descobertas e corrigidas. Quando o texto é muito importante, é comum pedir-se a outra pessoa que faça a revisão, já que muitos erros cometidos pelo digitador não podem ser facilmente descobertos por esse mesmo revisor. Há necessidade de um terceiro.

 

São cuidados mínimos para não pagar mico e, na sua falta, o implacável imponderável sempre dá as suas caras, como vai-se ver a seguir.

 

A cena é o exame final do curso de informática em uma universidade bem conceituada de Curitiba. Nesse curso, os alunos -- para se formarem -- precisam construir um software desde a sua concepção até sua operação sem nenhum erro grave. Eles têm 1 ano para essa tarefa e acreditem-me, geralmente é pouco tempo.

 

Há alguns anos, uma equipe estava na última banca para aprovação. Nós chamamos esta banca de magna, pois por ser a última é composta por todos os professores orientadores, que naquele ano eram em número de 9. A equipe em questão era formada por 3 alunas, bonitas, charmosas e também competentes, não esqueçamos de afirmar.

 

Estavam as 3 nervosas, roendo os dedos que as unhas já haviam acabado, numa espera imensa e infernal quando chegou a vez delas. Entraram na sala, instalaram o software, os micros, eram 3 que aquilo rodava em rede, o canhão, enfim, todas essas parafernálias que todos tão bem conhecemos.

 

Rolava a apresentação, sem maiores problemas, o que por sí só já devia ser sério indício de que alguma coisa grave ia acontecer, essas coisas nunca rolam sem maiores problemas, quando... Mostrou-se uma transparência imensa cujo título era "processamento de pedidos", afinal o software era para automatizar uma pequena lojinha de bairro.

 

Nessa hora a obliteração (a maldita) introduziu-se na história. O digitador (o maldito) esquecera-se de digitar, obliterara uma letra no título. Maior gravidade não haveria se fosse qualquer letra, mas qual o quê: a letra roubada fora a terceira letra da terceira palavra, as alunas estavam apresentando uma transparência onde em letras garrafais se dizia "processamento de peidos".

 

Não preciso descrever como terminou a banca. Apenas informo que as alunas foram aprovadas, o software estava muito bom.