Flagrantes: Speak Portuguese?

Autor: Maurício Stunitz Cruz - GAC

"Speak Portuguese?" Perguntou-me o simpático aprendiz de garçom. Eu estava no restaurante do SENAC no Pelourinho e era a quarta vez, em dois dias, que me confundiam com um "gringo".

Está certo que meu tipo físico está mais para sulino, mas tive vontade de sacar uma cópia da minha árvore genealógica (recomendo a todos que andem com cópias de seus mapas genealógicos, principalmente em viagens) e mostrar ao rapaz que sou bem brasileiro (entre meus ascendentes tem de tudo, menos japonês). Ou então responder em inglês (macarrônico, of course) só para ver sua reação. Mas estava de bom humor, concentrado para a missão de experimentar (novamente) os quarenta e seis pratos típicos do "buffet" e contei em bom português que sou de Curitiba.

Eu fazia parte da comitiva que representava o Paraná no 1º Seminário Nacional de Gerência na Administração Pública. Bom congresso, que mostrou que, realmente, existe comprometimento com a melhoria da qualidade dos serviços prestados ao cidadão nas três esferas de governo.

Mas, o que realmente me impressionou foi a cidade de Salvador. Minha favorita, fazia quase dez anos que não a visitava e fiquei encantado com algumas das coisas que encontrei. O que se vê é uma cidade bonita e bem cuidada. Gente bonita e hospitaleira; inteligente e (mais importante) orgulhosa de suas origens e tradições. Pode ser que a Bahia não tenha indicadores sociais de primeiro mundo (como de resto boa parte do país), mas não existe sorriso igual ao da baiana.

E em um mundo como o de hoje, em que os valores são estabelecidos por conceitos como globalização, competitividade, efetividade, etc.; onde o que norteia o cotidiano das pessoas é o utilitarismo e um pragmatismo míope e imediatista, voltar à Bahia adquire um sabor ainda mais especial. É (re)encontrar de fato o valor das coisas locais, é conviver com pessoas que têm uma relação saudável com o tempo (que os mais apressados confundem com preguiça); é reencontrar um prazer de viver que parece esquecido na maioria das pessoas que conheço.

DUAS HISTÓRIAS OUVIDAS NO CONGRESSO.

A primeira história aconteceu em uma cidade que está empenhada em criar um sistema de prestação de serviços públicos ao cidadão. Algo assim como uma Avenida do Cidadão.

A gerente do projeto se reuniu com representantes de um órgão público para tentar viabilizar a emissão de carteiras do trabalho na Avenida do Cidadão. Ela queria que a emissão fosse realizada na hora da solicitação e uma funcionária do órgão dizia que não seria possível. Depois de muita discussão, exasperada, a gerente perguntou:

    - Por que não pode ser emitida (a carteira) na hora?

    - Porque, eu não sei, mas que não pode, não pode!

    - Mas onde está escrito isso?

    - Também não sei, mas tenho certeza que não pode...

O outro caso foi contado pela Secretária de Administração de um importante município do Estado de São Paulo.

Foi implantado um sistema informatizado que, graças às maravilhas da TI, permitia a impressão de documentos no momento de sua solicitação. Logo após a implantação a Secretária foi visitar o local e viu um funcionário da prefeitura realizar todo o processo e não entregar o documento ao cidadão que o havia solicitado. E ainda mais, informou que a certidão estaria disponível no prazo de dez dias úteis. A Secretária, atônita, perguntou ao servidor público por que ele não havia entregue o documento na hora, pois afinal já estava impresso. Resposta: "A lei determina que o documento seja entregue em (no máximo, explicou-me a Secretária) dez dias".

Tem gente que desanima com estas histórias. Eu, pelo contrário, as considero estimulantes.