Flagrantes Yo no creo en brujas pero que las hay... las hay

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro

Há uns 15 anos, em estúpido acidente de trânsito, na esquina da Mateus Leme com a Barão de Antonina, falecia um colega nosso que trabalhava na programação. O ambiente ficou triste na empresa. Nada como dar de frente com a morte para ver quão frágeis somos.

Era uma outra época, mais heróica, mais divertida e mais excitante. Micros, não havia, o máximo que tínhamos eram terminais do grande "cérebro eletrônico" no aquário instalado. Vai daí que era muito comum passar perto da meia-noite na frente do prédio e encontrar um monte de janelas acesas, o estacionamento lotado. A virada de noites trabalhando era meio freqüente, até divertida, porque não dizer.

Pois, no noite seguinte ao trágico acidente, ninguém ficou trabalhando. Estavam meio acabrunhados e todos foram para casa. Todos, menos um colega, que com muitas (muitas) pendências em atraso, precisou arrumar forças para enfrentar a madrugada. Não sei se pararam para pensar, que as nossas salas, durante o dia, são barulhentas, cheias de movimento e animação. Às 2 da manhã, com todos os corredores escuros, as salas vazias, e ainda por cima o astral baixo, não havia movimento nem animação, aliás, reinava um silêncio pesado e mortiço. O silêncio só desapareceu um pouco quando o vento começou a uivar solertemente, agitando as árvores e os nervos do nosso colega.

Nisso, ele se sentou à mesa de uma vizinha de sala, pois a sua (a mesa, não a colega) estava grávida de tanto papel em cima. Ao se sentar, sentiu um sopro gelado de ar na nuca. Credo em cruz, que foi isso? Minha mente está me pregando peças, já sou adulto e corajoso... mas, por via das dúvidas, foi nas 3 salas laterais e acendeu todas as luzes.

Indo até o terminal, digitou alguma coisa e voltou a sentar à mesa, a mesma. Dessa vez, os pelinhos da nuca se arrupiaram todos: de novo o mesmo bafo gélido, enregelado, visguento, frio, muito frio. O colega pulou da cadeira, apavorado, aterrorizado, pávido de medo. Para piorar, no pulo, bateu o joelho e, entre o medo e a dor, primeiro atendeu a esta, xingou um bocado e depois voltou a se preocupar, trêmulo: o que, raios, está acontecendo?

Fuçou, procurou, xeretou e nada encontrou. Deu um tempo, sossegou-se, umas voltas pelas salas, nessa altura acesas e, meia hora depois, sentou de novo. Não preciso dizer que a aragem maligna, cinzenta, mal assombrada, do outro mundo, voltou a se manifestar.

Hora de reconsiderar: nessa altura do campeonato, aquelas urgências urgentes começaram a perder importância, melhor não seria tirar o time de campo? Dito e feito, vamos para casa. Ainda por cima, na descida, o elevador parou misteriosamente no 4º andar sem que ninguém tivesse apertado nada, as portas de abriram para o vazio escuro e perverso. Se alguma dúvida havia sobre o acerto de escafeder-se, o elevador foi a prova final: pernas pra que te quero, vade retro, mamãe, socorro!

Mas, nada como um dia depois do outro. Pela manhã, com a sala cheia de gente e de barulho, ele, discretamente, muito discretamente, começou a investigar o ocorrido: olhou em baixo da mesa, atrás do armário, embaixo da cesta de lixo, ao lado das listagens e, finalmente, quando a colega levantou da cadeira e foi ao banheiro, uma investigação completa na cadeira: Ah! Ah! Aí estava o fantasma da noite anterior: o estofamento do encosto tinha um furinho, dirigido diretamente ao pescoço da vítima. Cada vez que alguém sentava naquela cadeira, o encosto dava um assoprão no cangote do infeliz usuário.

Ufa, que alívio, deu pra comprovar que fantasmas não existem... mas...