Flagrantes: A vingança do ratão

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro

Tenho recebido queixas de que os flagrantes andam excessivamente saudosistas, em busca de um passado que não volta mais. Pois, concordo com a queixa e então este mês vai uma história (verídica como sempre) fresquinha, passada há poucos dias.

Dois colegas nossos aqui da GPT (um, aliás, uma macaca velha, e um estagiário - este não podia faltar) precisavam aprontar um serviço para ontem e viram um micro sozinho dando sopa. Micro aqui, é como morango fresco em plena Sibéria ou como telefone público que não esteja quebrado em noite de chuva (isto é, todos os três raríssimos), os dois logo correram a se abancar na frente da máquina.

Enquanto se ajeitavam, ouviram de um colega que saía apressado um resmungo do tipo "o mouse não está funcionando...".Os dois trocam um sorriso cúmplice: "Isso não é problema, resolve-se num instante". O que poderia fazer um mouse contra dois cérebros cinzentos poderosos trabalhando em conjunto?

Primeira providência: chamar o painel de controle do Windows para configurar o mouse. Clica aqui, clica acolá, "tem certeza? SIM", fecha o painel, volta ao Windows e... nada.

Segunda providência: CTRL+ALT+DEL (aliás todo profissional de sistemas, quando se vê numa enrascada, logo saca o CTRL+ALT+DEL como se fosse remédio milagroso. Por que será?).

De novo nada. O sorriso irônico inicial dos dois, começou a se transformar numa coisa meio amarelada. A massa que andava zanzando meio por perto, pressentindo que ia haver mais um round da eterna luta homem (e neste caso, mulher) versus computador; logo foi se abancando. Ia ter espetáculo.

Esgotadas as providências óbvias, começou a parte pesada da batalha. Alguém logo sugeriu buscar um livro chamado "guia do mouse", outro já foi buscar uma chave de fenda para desmontar o pobre animalzinho, enquanto dois ou três começavam uma discussão a respeito de qual driver deveria ser carregado no DOS para fazer um teste sem as complicações do Windows. Ah! ouvia-se também alguém ao longe dizendo: "viu, eu falei que o Windows não funcionava, nem o mouse funciona direito..."

Duas horas se passaram, e o circo estava armado: já havia gente discutindo sobre os benefícios do downsizing, enquanto outros quase iam às vias de fatos defendendo arquiteturas de sistemas concorrentes.

O argumento sempre era: na minha arquitetura esse simples problema de mouse nunca ocorreria.

Já tinha gente disparando chamados para o suporte técnico do fabricante do mouse e para a Microsoft - sem contar em 2 ou 3 que pesquisavam freneticamente na Internet na consulta a bases de conhecimento que ajudam a resolver qualquer problema de sistemas, quando o colega que sussurrou o comentário inicial (O mouse não está funcionando), chegou, viu a balbúrdia e não se conteve:

  • "Não seria melhor se vocês conectassem o mouse na placa para ele poder funcionar?"

Não ficamos com o registro das expressões faciais dos envolvidos, mas uma testemunha ocular garante que, sem querer, deu uma olhadela no mouse e... o ratinho estava sorrindo.

Acredite se quiser!