Gerência via Web

Autor: José Luís Vieira Carvilhe - GSO

Introdução

Este artigo resume parte de um dos capítulos do trabalho de pesquisa [1] apresentado em março deste ano, no Curso de Especialização em Sistemas Distribuídos [PUC/PR 1999]. Este trabalho tem como objetivo analisar a utilização das tecnologias WEB em sistemas de gerência corporativa. Neste artigo serão abordados os principais conceitos relacionados à gerência via WEB e seus modelos de implementação.

As tecnologias baseadas na arquitetura WEB [1] estão contribuindo para o surgimento de um número crescente de aplicações [2][4][5][6][7][9]. Estas aplicações têm como principais características o fácil acesso de qualquer ponto da rede corporativa ou da Internet e a tendência de redução de custos [8], com a utilização de interfaces baseadas em "browsers" WEB.

No universo corporativo [1] diversas aplicações para administração e gerenciamento de redes e sistemas baseados na arquitetura WEB estão surgindo, caracterizando a tendência de utilização destas aplicações somada à necessidade de redução dos custos envolvidos na implementação de sistemas de gerência corporativa.

A gerência corporativa baseada em tecnologias WEB [1][3] é representada por um misto de tecnologias, protocolos e linguagens que podem ser implementadas de forma pontual nas soluções de administração e gerência, ou podem servir de base para novas plataformas de gerência que estão surgindo. Algumas iniciativas apontam para o surgimento de novos modelos de "frameworks" de gerência corporativa baseados nesta arquitetura.

Conceito de Gerência via WEB

A Gerência via WEB é definida em [1][3] como a utilização de tecnologias WEB para a implementação da gerência corporativa. A gerência via WEB é muito nova, existem várias frentes de trabalho definindo padrões, "frameworks", modelos de objetos, protocolos e APIs, implementando códigos e testes de produtos. Para que a gerência via WEB se torne realidade muitas pessoas e organizações aliadas a tecnologias, precisam reunir esforços e contribuições para colocar a gerência corporativa sobre o controle desta nova arquitetura.

A gerência corporativa [1][3] utiliza uma série de protocolos de comunicação sobre a rede com o objetivo de controlar os dispositivos de rede e os seus "softwares" associados. A gerência corporativa monitora, controla e configura todos estes componentes. Com o avanço das tecnologias WEB, a gerência via WEB pode expandir este leque para incluir a gerência de recursos de sistemas, aplicações, acordo de níveis de serviço, políticas, propriedade intelectual, e outros recursos e funções de negócios.

As tecnologias WEB permitem a gerência corporativa a partir de qualquer ponto da rede corporativa ou da Internet através de um "browser". Conforme descrito em [1][3] o modelo genérico de "framework" de gerência via WEB é dividido em sete partes descritas abaixo. Este modelo é apresentado na figura 1.1.

  • Cliente WEB, é o computador de gerência corporativa que contém o "browser" WEB. O "browser" é a interface padrão para visualização das informações de gerência. O "browser" permite que o usuário digite comandos, solicite informações de gerência e apresente os resultados.

  • Servidor WEB, corresponde ao programa servidor responsável por atender as requisições realizadas a partir do "browser" e retornar as respostas. O servidor WEB possui uma interface para a função de mediação de dados;

  • Função de Mediação de Dados, é a função responsável pela conversão dos dados de gerência do repositório de dados para um formato que seja reconhecido pelo Servidor WEB pelas aplicações de gerência;

  • Repositório de Dados, corresponde ao banco de dados onde são armazenadas as informações de gerência;

  • Função de Agrupamento e Mapeamento, corresponde à função responsável pela conversão dos dados coletados pelos gerentes em um formato padrão reconhecido pelo repositório de gerência;

  • Gerentes de Protocolos, correspondem ao lado gerente responsável pela gerência convencional e à gerência via WEB. Cada gerente utiliza o seu protocolo para se comunicar com o agente correspondente. Os gerentes de protocolos tratam SNMP, CMIP, WEB entre outros "frameworks" de gerência;

  • Agente, o agente de gerência corresponde à entidade processo localizada no dispositivo gerenciado. Muitos agentes são capazes de gerar alarmes indicando que alguma ação predefinida aconteceu no dispositivo gerenciado.

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Figura 1.1 - Modelo Genérico de Gerência via WEB

1 Frameworks de Gerência via WEB

Os três principais modelos de "frameworks" de gerência via Web estudados em [3], são definidos de acordo com a forma de agrupamento de seus componentes e relacionamentos. Os três modelos possíveis são o nativo, o "proxy" e o "gateway".

1.1 Nativo

O modelo de "framework" do tipo nativo descrito na figura 1.2, corresponde ao cenário onde o "browser" se comunica diretamente com o servidor HTTP no dispositivo gerenciado. O dispositivo gerenciado contém o servidor HTTP e o suporte necessário para a leitura e gravação das variáveis de gerência. Para que este modelo seja implementado é necessário que a entidade gerenciada possua as camadas de protocolo TCP/IP necessárias e opcionalmente "applets java" para a gerência via WEB. Os dispositivos gerenciados podem conter adicionalmente páginas HTML e todas as funcionalidades de um WEB "Server". As requisições via "browser" são executadas a partir do servidor WEB onde estão armazenadas as "applets java". As "applets" são carregadas no cliente "browser" e executadas.

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Figura 1.2 - Modelo de Framework Nativo

As páginas WEB armazenadas no servidor WEB podem conter "links" para outras páginas e "applets". As "applets" incluem suas interfaces, "sockets", segurança, entre outras características. Esta solução é barata, pois não é necessário um dispositivo de gerência intermediário, como por exemplo uma estação de gerência de redes SNMP.

1.2 Proxy

O modelo de "framework" do tipo "proxy" descrito na figura 1.3, envolve o uso de um servidor "proxy" para realizar a tradução da informação de gerência para informação baseada em WEB para os dispositivos gerenciados. Este modelo de "framework" representa a união e coexistência entre a gerência via WEB e os agentes e gerentes da gerência de rede SNMP. O Gerente pode conter "applets" e páginas WEB para as diversas entidades gerenciadas. Neste cenário o gerente é definido também como servidor HTTP.

As requisições via "browser" podem ser realizadas a partir de CGI´s localizados onde as aplicações de gerência são armazenadas. As aplicações escritas em linguagens como PERL, conhecidas por interfaces Pearl2SNMP, executam chamadas aos métodos apropriados nas bibliotecas SNMP. Estes métodos por sua vez executam as operações SNMP nos agentes específicos.

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Figura 1.3 - Modelo de Framework Proxy

1.3 Gateway

A diferença entre o modelo "proxy" e o modelo "gateway" é a capacidade que o modelo "gateway" tem de atender a diversos protocolos e modelos de dados de forma simultânea. O modelo de "framework" do tipo "gateway" descrito na figura 1.4, envolve o uso de um "gateway" para realizar a tradução de diferentes tipos de protocolos e formatos de dados vindos de diversas fontes. O modelo de "framework" do tipo "gateway" contém as funcionalidades necessárias e pode incluir a gerência de dados provenientes de diferentes fontes. Pode também incluir um servidor de "applets" que pode lançar "applets" de gerência permitindo a gerência de informação de diversos tipos de dispositivos gerenciados, incluindo de forma híbrida os dispositivos gerenciados via "framework proxy".

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Figura 1.4 - Modelo de Framework Gateway

2 Benefícios da Gerência via WEB

Conforme descrito em [1][3], existem vários benefícios relacionados à implementação da gerência baseada em tecnologias WEB. Entre os principais benefícios, destacam-se o baixo custo de implementação e a facilidade de uso e acesso via "browser" Internet. Os principais benefícios estão descritos abaixo:

  • Baixo custo de implementação, através da redução das despesas desta solução em relação às soluções convencionais. A utilização do modelo Internet e as ferramentas requeridas para o desenvolvimento de soluções baseadas em tecnologia WEB, correspondem a custos bem menores [8] que os custos envolvidos no desenvolvimento de soluções convencionais. Existe ainda a possibilidade de redução de custos relacionados a treinamento, integração do "Help Desk" e suporte técnico entre outros;

  • Independência de localização do cliente de gerência. As informações de gerência estão disponíveis em qualquer lugar na rede através do uso de "browsers" Internet. Quando comparadas às soluções convencionais, estas informações estão mais disponíveis pela facilidade e flexibilidade de visualização proporcionadas pela independência de localização do cliente de gerência;

  • Facilidade de uso. As características básicas de uma ferramenta "browser" podem ser aprendidas rapidamente. E os conceitos sobre HTML, URLs e navegação sobre "hiperlinks", entre outros, estão cada vez mais difundidos;

  • Independência de plataforma e alto grau de interoperabilidade. A utilização de tecnologias de gerência via WEB permite a gerência dos mais diversos recursos corporativos, sem a necessidade de instalações, manutenções e operações adicionais sobre a plataforma de gerência. A interoperabilidade e independência de plataforma é alcançada através do uso da linguagem Java e "applets", linguagens "script" e das tecnologias WEB adaptadas a quase todas as plataformas de computadores existentes;

  • Modelo de dados de gerência corporativa amplo [2] e acessibilidade. Conforme detalhado anteriormente no modelo geral de gerência via WEB, os dados dos sistemas de gerência baseada em padrões e sistemas proprietários serão coletados e armazenados em um formato padrão no repositório de gerência;

  • Possibilidade de substituição das soluções atuais de gerência corporativa. A razão principal da pesquisa e uso da gerência via WEB é a possibilidade de substituição das soluções atuais. A gerência via WEB tem se posicionado como uma alternativa para as plataformas atuais de gerência. Estas plataformas são caras, difíceis de aprender e de difícil manutenção e "upgrade". A maioria das plataformas de gerência atuais para serem implementadas necessita de muito treinamento e do trabalho de consultores.

  • Expansão das funcionalidades da gerência corporativa. Através da definição de WEB "Servers" embutidos em dispositivos [2][5], aumento da acessibilidade a "Help Desks", documentação "online" e "links" com mais informações sobre o fornecedor entre outros.

Conclusão

Neste artigo foram descritos os conceitos de gerência via WEB [1][3], sua arquitetura e os modelos de "framework" nativo, "proxy" e "gateway". Foram apresentados, também, os principais benefícios desta arquitetura.

Nos próximos artigos serão apresentadas as duas principais iniciativas de gerência via WEB WEBEM (WEB Management Enterprise) [2] e JMX (Java Management Extension) [5], além de um estudo de caso sobre o produto Unicenter TNG [6] da empresa Computer Associates.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] CARVILHE, J. L. V. A utilização de tecnologias web em sistemas de gerência corporativa. Curitiba: PUC-PR, 2000. (Monografia apresentada no Curso de Especialização em Sistemas Distribuídos).

[2] DISTRIBUTED management task force. Disponível na Internet. http://www.dmtf.org/wbem/index.htmlll. Dez. 1999 .

[3] HARNEDY, S. Web-based management for the enterprise. New Jersey: Prentice Hall, 1999.

[4] IBM. Java web-based network management. Disponível na Internet. http://www.networking.ibm.com/cma/cmajava.html. Dez. 1999.

[5] JAVA management extension. Disponível na Internet. http://www.javasoft.com/products/JavaManagement/wp/. Dez. 1999.

[6] UNICENTER TNG framework. Disponível na Internet. http://www.cai.com/products/unicent/framework/tng_framework.htm. Jan. 2000.

[7] WEB-BASED network management. Disponível na Internet. http://www.baynetworks.com/products/Papers/WEBbased.html. Dez. 1999.

[8] WOLCOTT, K. Reducing your network hardware support costs by adding web-based management. Disponível na Internet. http://www.summitonline.com/ tech-trends/papers/rapid1.html. Jan. 2000.

[9] THE WORLD wide web consortium. Disponível na Internet.http://www.w3.org/. Jan. 2000.