Heróis de hoje

Autor: Emanuel Mascarenhas Padilha - FUNDEPAR

Acostumamos, pelas repetidas vezes que ouvimos, lemos ou fomos lembrados no decorrer do tempo, especialmente na escola, quem são os heróis da pátria.

Os mais versados em história podem até correlacionar frases com os seus autores:

"OS BRASILEIROS QUE ME SIGAM!" grita Caxias na cabeceira de uma ponte, incitando os brasileiros a enfrentar as tropas paraguaias, na guerra da tríplice aliança, contra o herói (paraguaio), Solano Lopes.

"O BRASIL ESPERA QUE CADA UM CUMPRA COM O SEU DEVER!" conclama o Almirante Barroso, em seu inflamado discurso quando do fim da batalha de Riachuelo. E assim vão se colecionando frases e exemplos.

"LIBERTAS QUAE SERA TAMEN", LIBERDADE AINDA QUE TARDE, transformada em lema da bandeira mineira e que lembra Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, um herói; vários condenados indultados e um traidor.

No Largo da Lampadosa e em vários pontos da cidade ficaram expostos à população, pedaços da crne do Alferes que teve a coragem de se rebelar contra a Coroa, para servir de ameaça a qualquer outro que atentasse contra o poder estabelecido.

São heróis, figuras humanas levadas aos seus limites, cada um ao seu modo, oferecendo à Pátria tudo de si, até a vida.

A idéia não foi citar os mais importantes ou os que participaram dos mais sangrentos episódios; foi tão somente refrescar a memória dos leitores e fixar o "leit-motif" do texto:

Nossos heróis, mediata ou imediatamente, assim o foram considerados, por motivo de sangue, ou porque o ofereceram generosamente à mãe pátria, ou porque o tiraram, bravamente, dos outros.

Mas sempre há sangue; ou não há herói.

O sangue dos heróis ou de suas vítimas, como que fecundam o solo pátrio e, quanto maior o número deles, maior a glória e o orgulho da sua gente.

Acontece porém que a pátria, pelo menos a nossa, não está precisando de sangue derramado, mas continua precisando muito de heróis e muitos deles.

Heróis deste novo tempo. Heróis de hoje, capazes de fazer o gigante por-se de pé e ir adiante; acordá-lo por mais esplêndido que seja o berço e fazê-lo avançar. Heróis moldados também de vontade inquebrantável, de coragem invencível, de idealismo motivador.

Heróis que ensinem, que orientem, que apoiem, que construam enfim esta nação de poucos para dá-la a muitos, igualmente filhos.

Heróis capazes de se escandalizar com a fome, de se indignar com as injustiças, de se revoltar com a indigência do analfabetismo e a vilania do desemprego; e capazes sempre de se enternecer com os desamparados.

Esses são os heróis necessários à pátria nos dias atuais. Brasileiros que busquem tenazmente resultados positivos para toda a sociedade; brasileiros que se ufanem pelo país como versejava Martins Fontes e crie novos motivos para se ufanarem. Pessoas que façam acontecer as mudanças desejadas na pátria comum.

Como, felizmente, já existem alguns.

Heróis que oferecem mais que o sangue, por oferecerem suas vidas, não num momento único de holocausto, mas como opção consciente e permanente.

Profissionais que aderem ao serviço público, - professores, técnicos, bacharéis, especialistas de todas as áreas e em todos os campos – que apesar dos baixos salários, dão o melhor de si, para manter ativo e em contínuo evoluir, o processo de construção da nossa brasilidade.

Heróis sem rosto, mas não sem expressão; heróis anônimos, mas não sem identidade; heróis sem cadafalso e sem honrarias mas não sem sacrifícios ou sem méritos.

Profissionais e não profissionais que se dedicam ao serviço voluntário; que se doam a causas humanitárias e pisam a lama dos caminhos da pobreza; que sobem morros; que desbravam o sertão e as matas; que buscam a alma humana no recôndito de corpos mutilados ou de mentes atrofiadas; que tentam resgatar a humanidade em pessoas desumanizadas pela violência, pela injustiça ou pelo abandono. Inocentes condenados à maior das penas: a indiferença que leva à indigência.

São esses os seres humanos importantes para o salto em direção ao futuro sonhado; seres humanos iluminados pelo amor fraterno, fontes permanentes de misericórdia, de beleza, de verdade e inteireza, criaturas que manifestam o Criador em toda a sua divindade e plenitude.

São esses os heróis desejados e preciosos para a construção desta nossa pátria, que precisa deixar de ser emergente, de ser uma esperança e concretizar-se, definitivamente, na realidade diária de tantos de nós.

Preciosos heróis que ensinam, que educam, que constróem, que fabricam, que pintam, que curam, sonham, fazem e transformam, movidos pelo amor à pátria e o respeito ao seus semelhantes.

Esses os heróis de hoje. Os necessários, os imprescindíveis.

Os que o Brasil realmente precisa para se qualificar e que lhe darão entrada no próximo século em um novo patamar de progresso, de qualidade de vida e de justiça social.

A pátria comum forjada principalmente na persistência e na sabedoria dos idealistas que buscam, sem esmorecimento, a realização dos seus sonhos mais acalentados e não apenas no destemor de bravos, dispostos a morrer por um ideal; que se tornam heróis insepultos pairando por sobre as nossas cabeças, mais como uma ameaça pelos nossos insucessos, o que lhes torna a morte vã; do que como gratidão, por lhes garantir honra ao sangue, que fertilizou vitórias, ardentemente perseguidas e obtidas pelos que os sucederam.

Precisamos aprender a honrar os nossos heróis atuais. Honrar o heróis vivos, úteis e produtivos. Aos que a história possivelmente nunca fará justiça.

Mérito àqueles que talvez, um dia, sejam lembrados por um filho ou filha, ou ainda por um neto, por terem sido apenas cidadãos honrados. O que seria, talvez, tudo o que desejassem apesar de terem feito tanto.