A IBM e o desenvolvimento automatizados de sistemas

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro


A IBM durante os anos 80 desprezou o conceito de desenvolvimento de sistemas. Isto e, ela era competente em CICS, MVS, COBOL e outros, mas não era no processamento de construir sistemas. Este problema se agravou quando os sistemas se tornaram mais complexos e mais difíceis, (por exemplo nos MIS).

Em 88/89, ela considerou que era importante estabelecer alguma coisa com a marca IBM na área de CASE e similares. Este mercado estava crescendo e os usuários carentes de produtos na área de automação do processo de desenvolvimento.

O mercado de CASE começou na plataforma PC, pelas seguintes razões:

1. Capacidade gráfica (nem de longe sonhada pelos terminais IBM do mainframe)
2. Custo baixo
3. Farta disponibilidade
4. Melhor tempo de resposta

Só mais tarde, começaram surgir dois problemas:

1. A medida que a inteligência da organização se desloca dos textos em COBOL, para as especificações lógicas de um CASE, este começa a crescer em volume e começa a crescer em volume e começa a ficar difícil o trabalho em uma plataforma PC

2. Pior ainda, não existe o compartilhamento de dados.

Partindo disto, um grupo de usuários da IBM (Guide americana + Guide européia + Share+Guide australiana) forneceram a IBM um conjunto de mais de 300 requisitos para a IBM fazer seu pacote.

Cerca de 230 foram atendidos e em setembro de 89, a IBM anunciou a AD CYCLE. Trata-se de um ambiente muito ambicioso, no qual a IBM acha que os sistemas vão ser desenvolvidos na década de 90.

O AD CYCLE começa com um dicionário de dados chamado REPOSITÓRIO, que já está disponível. Ele é implementado em DB2, e por enquanto é mudo e surdo. Isto é, não fala com ninguém, nem recebe dados de ninguém.

A IBM usou um conceito que lhe é muito cara nos dias de hoje, qual seja o da associação com outras empresas. Ela fez isto, reconhecendo que era incompetente para fazer um CASE, pois teria que começar do zero, enquanto seus concorrentes já estavam longe.

Assim, a IBM pesquisou e selecionou os 4 melhores CASEs, na ótica dela, associou-se as empresas (comprando ações delas), e negociou com elas o seguinte: para ser vendido como AD_CYCLE cada um dos 4 produtos teria que preencher 3 condições:

1. Mudar sua interface para padrão CUA(*);
2. Gravar seus dados no REPOSITÓRIO e não nos arquivos nativos de produtos;
3. Terem telas, mensagens e helps traduzíveis para qualquer idioma(francês, espanhol,..)

Os produtos são:

Index Technology - EXCELERATOR
Knowledgeware - IEW
· Bachman
· SYNON

Destes, só os 2 primeiros são vendidos no Brasil.

Os 4 foram escolhidos por tratarem de pontos diversos do ciclo de desenvolvimento de sistemas. O usuário pode escolher de comprar os 4, ou só um, ou só dois, ou como quiser.

Depois que este acordo se tornou conhecido, houve uma enxurrada de fabricantes de CASE querendo entrar no ambiente AD-CYCLE. A IBM disse que todos eram bem-vindos, porém num esquema diferente daqueles quatro. Nestes existe responsabilidade IBM pelo ambiente. Nos demais fabricantes, a IBM não se responsabiliza pela integridade, mas:

a) Fornece cursos sobre a implementação do REPOSITÓRIO;

b) Mantém um serviço de orientação e atendimento para que as softwares houses façam seus produtos.

Até out/90, existiam 56 empresas produzindo CASEs ou partes de CASEs para o ambiente AD-CYCLE, inclusive algumas conhecidas nossas, como PANSOPHIC, ArthurYoung etc.

No Brasil, a IBM optou por não liberar o repositório até agora por 2 razões:

1. Ele ainda não fala com ninguém(isto é, nenhum dos 4 produtos)
2. A IBM não tinha condições de suportar o processo de desenvolvimento de sistemas.]

A IBM investiu nos anos 90, treinando gente em metodologia, para poder começar, a partir de agora a vender esta filosofia.

Outros produtos que compõe o AD-CYCLE

1. ADPS-Application development project suport.

Para usar este produto se dizem três coisas:

a) Qual a minha metodologia (isto é, que tarefas e que produtos devem ser produzidos);

b) Em que ordem;

c) Quem pode aprovar.

Dito isto, o produto não deixa nenhum analista trabalhar fora do esquema proposto. As autorizações são eletrônicas, na base da senha. No primeiro cliente em que foi isto foi instalado, foi um caos, pois o computador ao contrário do humano, não sabe dar um jeitinho. Os analistas da empresa ficaram alguns dias sem conseguir trabalhar. Mas uma vez instalado, este produto se encarrega da gerência/acompanhamento e controle de todo o ambiente de desenvolvimento.

2. DEVELOPMAT

Este é um CASE feito pela IBM e para uso específico e exclusivo naquilo que nós aqui na CELEPAR chamamos de "MODELAGEM DO NEGÓCIO". Aliás olhando o mercado de CASE como um todo, sempre sentimos muita falta de um produto como este. Alguns clientes que o usaram tem dito, que só este produto já vale todo o esforço e o preço do AD-CYCLE. A possibilidade de escrever a empresa e o seu negócio em um arquivo flexível, completo, não redundante, e acessível por todos na empresa já parece ser um grande negócio.

3. Geradores de código

A ênfase da IBM é na linguagem CSP. Hoje já está disponível a geração de COBOL a partir de CSP.

4. Geradores com inteligência artificial. Área pouco explorada ainda, mas de grande potencial no futuro.

5. EASEL - Produto original de uma software house americana, mas que pelo seu sucesso foi comprado pela IBM e hoje é revendido por ela. Trata-se que lê as telas BMS (interface dos programas CICS com o terminal) e reescreve-as usando a interface CUA, dentro do princípio do Presentation manager do OS/2 As telas ficam irresistíveis. Pra quem tem dúvida, olhe as telas do Windows instalado no 386 da DISUD.

6. COBOL SF

Produto antigo da IBM, que lê código COBOL velho (o chamado spaguetti code) e gera COBOL estruturado (sem GOTO)

7. SATT (Software analisis test tool)

Testa um programa COBOL ou PL-1 (por enquanto), e informa:

a) Por onde o programa passou
b) Quais as condições não foram testadas(isto é onde o arquivo de teste está falho

O detalhe este produto está na sua interface visual (obviamente CUA)

Ele divide a tela em duas partes, uma delas mostra o fonte, outra mostra o diagrama de bloco. Em ambas, uma bolinha iluminada, percorre os caminhos por onde o programa passa, enquanto ele esta sendo executado, inclusive com controle de velocidade.

8. WITT (Wosktation interative test tool)

Guarda os dados de teste de uma transação, e depois permite um novo teste sem ter que repetir a digitação de todos estes dados de novo.

9. Engenharia reversa (não disponível ainda)

O Bachman pretende ler código COBOL, e retroceder no ciclo de desenvolvimento até os diagramas lógicos. Depois, você faz engenharia pra frente, e o produto gera um novo código estruturado e documentado que faz a mesma coisa. A parte de dados já está pronta, isto é, ele lê a especificação VTAM, retorna até os diagramas de entidade e relacionamento e daí se você quiser, gera tudo de novo DB2.

Em resumo, do nosso ponto de vista na Celepar:

1. O AD-CYCLE completo em princípio de ser descartado por exigir uma plataforma que não temos nem teremos tão cedo:

a) DB2 (com toda a tranqueira que o acompanha)

b) CSP (linguagem de quarta geração)

c. OS-2 com PS-2 (só disponíveis a partir do acordo IBM-SID. Quando ficará pronto, e quanto custará?).

2. Entretanto, é bem provável que o repositório acabe se tornando um padrão na área de dicionário. Não seria a primeira vez que uma iniciativa da IBM acabaria se impondo como padrão no mercado. Daí, devemos ficar atentos para que os produtos que venhamos a usar, caminhem nesta direção.

3. Mais do que nunca, ficou claro que o processo de desenvolver está se automatizando. A Celepar precisa comprar logo um CASE, seja qual for, para não ficar pra trás nesta tecnologia.
(*) Interface CUA - Muda o padrão de alfanumérico para gráfico. Exige cores e alta resolução. As telas ficam bonitas e coloridas. Usa intensivamente o conceito de ícone junto com o mouse. Sistemas feitos com esta interface são a prova de mau uso. Qualquer criança pode operá-los.