Inclusão Digital “NUNCA TINHA USADO UM COMPUTADOR ANTES”

O programa Paranavegar completa três anos e atende mais de 50 comunidades em todo o Paraná

O estudante do ensino médio Anderson Vundervarde, 22 anos, opera tranqüilamente um computador. Fica difícil imaginar essa cena em novembro do ano passado, quando ele não sabia nem ligar a máquina. "Eu olhava e imaginava que graça tinha aquilo e como o pessoal conseguia mexer tão rápido".

Hoje ele é um dos responsáveis pelo telecentro da vila Zumbi dos Palmares, no município de Colombo, região metropolitana de Curitiba. Ele trabalha nesse lugar que oferece acesso gratuito à Internet. Entre outras funções, a principal é ajudar pessoas que - como ele há poucos meses - não sabem usar o computador direito. Anderson virou um agente local de inclusão digital. Isso, graças ao Programa Paranavegar, da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SEAE) em parceria com prefeituras e associações. A Celepar entra com o suporte técnico. "Nunca tinha usado um computador antes, foi a primeira vez. E agora meu objetivo é ter um algum dia", releva Anderson.

Todos podem aproveitar as máquinas do telecentro da Vila Zumbi, basta agendar com Anderson. Foi o que fez Williams Santos, 14 anos, que veio ao telecentro pesquisar para um trabalho da disciplina 'Artes'. Ele acessa o Google e digita rapidamente o assunto que procura. "Eu também não sabia. Ano passado demorava para digitar, tinha que procurar as letras", brinca, comparando-se ao colega. Hoje eles até se divertem conversando com amigos que fizeram no México por meio do bate-papo virtual.

"Abriu uma lan house aqui perto, mas sem chance". Para Anderson, o telecentro é a única forma de entrar no universo digital. E ela não serve só para se divertir. "Meu primo conseguiu emprego pesquisando neste computador. E eu mesmo estou aqui trabalhando por causa da Internet", comenta.

A exclusão digital não está somente na Vila Zumbi, mas em todo o Paraná. Municípios pequenos, vilas rurais, assentamentos, comunidades indígenas e muitos outros lugares raramente têm acesso à Internet. Mas, como em Colombo, esses lugares estão conhecendo os telecentros. Entre maio de 2003 e abril de 2006, foram instalados 66 locais com Internet gratuita e de banda larga, distribuídos em 58 municípios. A média é de um novo ponto a cada dez dias.

Desenvolvimento Humano

"A meta do Paranavegar é atender prioritariamente os locais com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)", afirma o gerente de inclusão digital da Celepar, Nelson Cândido. O IDH mede os indicadores de educação, longevidade e renda média do município.

Entre os 50 municípios menos desenvolvidos do Paraná, 39 estão no programa. "Esse trabalho é o reconhecimento do direito à informação, que hoje é tão importante quanto a saúde, educação, moradia e outros direitos fundamentais", opina Cândido.

Segundo o gerente da Celepar, a idéia funciona por meio de parcerias entre o Estado, prefeituras, entidades comunitárias e empresas públicas e particulares. O parceiro entra com o local e manutenção do espaço. Em Colombo, quem cumpre este papel é a Mitra Diocesana.

Já a Celepar instala a rede digital, contrata e capacita os agentes locais, que são sempre pessoas da própria comunidade, treinadas especialmente para organizar o telecentro e ajudar os outros usuários. A Celepar ainda fornece os programas de computador, sempre software livre e gratuito. Outros itens, como máquinas e equipamentos, podem vir tanto dos parceiros quanto do Estado, dependendo da realidade local. "Existem comunidades mais desenvolvidas que possuem meios de conseguir as máquinas e de fazer a manutenção", explica Cândido.

O telecentro é administrado por membros da própria comunidade e por representantes dos parceiros, que definem as regras de uso dos computadores em assembléia. "É também uma maneira de colocar em prática a forma democrática de discutir e construir. A idéia é que, com o tempo, a sociedade reconheça a importância do local e fique inteiramente responsável por ele", diz.

O Paranavegar está entre os projetos mais bem-sucedido do Paraná e do Brasil em termos de expansão geográfica. "Existem estados que possuem mais telecentros que a gente, mas quase todos na capital". No caso paranaense, somente nove pontos estão em Curitiba e Região Metropolitana, os outros 57 estão espalhados por todas as demais regiões.

A meta para este ano é a ampliação da estrutura dos telecentros já existentes.

Software Livre

O uso do software livre foi vital na implantação do projeto. "Essa tecnologia permitiu a ampliação do nosso potencial em aproximadamente 30%. Hoje podemos fazer mais telecentros com o dinheiro que seria usado para pagar licenças", afirma o gerente de inclusão.

Iolanda Barcelos está na equipe do Paranavegar desde o início do projeto. O primeiro telecentro foi instalado em 14 de maio de 2003, aniversário do município de Ventania, o 10º IDH mais baixo do Paraná. "E desde lá sempre usamos software livre", comenta.

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