A Informática a Serviço da Cultura

Autora: Valéria Prochmann Exposição da diretora da Biblioteca Pública do Paraná, Valéria Prochmann, no Seminário "A informática nos novos governos", em 28/11/94, promovido pela CELEPAR, em Curitiba.
A  Biblioteca Pública do Paraná tem 137 anos e a maior freqüência de usuários de todo o País, atendendo até 7 mil pessoas/dia. O acervo é predominantemente de livre acesso e circulante. A estagnação, o sucateamento e a saturação das instalações, bem como a grande demanda, estavam a exigir soluções rápidas, criativas e com poucos recursos, sendo que duas ações de grande porte eram imprescindíveis: reforma geral com ampliação do ambiente físico e informatização.

A nova proposta de biblioteca pública é a cidadania. Assumimos, então, uma opção preferencial pelo cliente e, como resultado, um firme compromisso com a qualidade, com ênfase no caráter prestador de serviços da organização. De um primeiro contato com a diretoria da CELEPAR nasceu o Projeto para Automação dos Serviços da Biblioteca Pública do Paraná, levando em conta as necessidades específicas do órgão para modernizar suas atividades. A melhor alternativa de solução considerou as facilidades de implantação, tecnologias disponíveis, viabilidade de custos, suporte técnico e o ambiente computacional requerido. Dos sistemas existentes, optou-se pelo da Bireme: de implantação simples, utiliza o recurso da leitura ótica de códigos de barras para identificação de carteiras de leitor e das obras do acervo, operando base de dados no formato Microisis, incorporando quase todas as funções típicas de uma biblioteca, como inscrição do leitor, empréstimo, devolução, renovação, reserva, situação da obra, etc. Além de facilitar e agilizar o atendimento ao leitor, esse sistema possibilita melhor preservação do acervo, com segurança e confiabilidade, bem como cobrança de devedores.

Uma feliz coincidência permitiu a aceleração dos trabalhos relativos à automação: a interrupção do atendimento ao público durante as obras de reforma geral. Assim, sob a coordenação de um grupo de automação composto por profissionais da BPP e da CELEPAR, foram realizadas todas as etapas previstas, através de grupos-tarefa, com adaptações ao longo da execução do projeto. O novo serviço foi inaugurado em grande estilo no dia 26 de setembro de 1994, juntamente com a entrega das obras de reforma geral e ampliação. Até novembro, o sistema já computa 135 mil volumes cadastrados, 45 mil livros emprestados e 26.500 usuários cadastrados. A informática também se faz presente em outros serviços da Biblioteca, como na Sala Braille (onde um microcomputador e uma impressora em Braille já contam com um sintetizador de voz) e na midiateca (onde equipamentos de multimídia permitem leitura de CDROM). Integrada ao Sistema Estadual de Informações (SEI), a BPP se prepara para implantar, ainda este ano, com a CELEPAR um quiosque multimídia de informações de utilidade pública para o cidadão. As etapas seguintes do projeto prevêem, também, consultas ao acervo em terminais, pesquisa por assunto (além de autor e título, já disponível), cadastramento de acervos não circulantes e de periódicos, bem como a integração "on line" a outras redes.

A informatização acontece na Biblioteca num contexto de desburocratização para simplificar o uso dos serviços prestados pelo órgão à população. Moderniza a instituição, garantindo qualidade no atendimento e na execução de tarefas rotineiras, constituindo-se, inclusive, em recurso motivacional para o pessoal interno. Tudo foi executado com estrutura enxuta, sem desperdício de recursos públicos, sem inchaço de pessoal, sem criação de cargos ou quaisquer ônus desnecessários para o contribuinte. Desse modo, a informatização da Biblioteca torna-se exemplo de como a informática pode ser instrumento de cidadania e bem-estar social, em contraposição à apropriação elitista da tecnologia. Na atividade-fim, a informática é poderoso meio de democratização do Estado e alívio do sofrimento do cidadão em seu relacionamento com os orgãos de governo.

Para tanto, é preciso vencer algumas resistências e obstáculos, criados justamente por aqueles que se beneficiam da situação caótica. Além disso, a informática precisa ser um processo contínuo e progressivo, ajudando a tornar a sociedade cada vez melhor. No caso da biblioteca, faz renascer os velhos ideais dos humanistas enciclopedistas, do século 17, que sonhavam reunir todo o conhecimento humano em livros para facilitar o acesso à cultura. No nosso caso, possibilita a execução de uma política de leitura e informação pública moderna e adequada às exigências e às necessidades da sociedade contemporânea, cada vez mais informativa e prestadora de serviços. Como disse Claude Bernard, quem não sabe o que procura não interpreta o que encontra.