Internet - Parte 2

Autor: Nelson de Marco Rodrigues

Esta segunda parte do artigo pretende tratar de questões relacionadas com conexão à Internet e seus serviços.

Em relação a conexão existem várias analogias que podem ser feitas a fim de facilitar a compreensão, uma que me ocorreu é a da comparação com o sistema viário mundial:

Podemos comparar as ruas de uma cidade com as redes locais ou corporativas, isto é, um conjunto de máquinas sujeitas a uma administração local executada por empresas, instituições governamentais ou pessoas físicas, que ao necessitar comunicar-se com outras cidades utiliza-se de pelo menos uma das várias alternativas disponíveis: rodovias, ferrovias, hidrovias ou aerovias.

Para a Internet, as "vias" correspondem às espinhas dorsais (backbones), que representam um conjunto de canais de comunicação sujeitos à uma administração com suas regras de conexão e de pagamento. A partir deste ponto, empresas se ligam a estes backbones e passam a prover serviços de conexão aos usuários Internet.

Ainda, dentro de nossa analogia, comparamos as empresas provedoras de serviços de conexão às empresas que provêem serviços de transporte: companhias aéreas, ferroviárias, rodoviárias; são a elas que os usuários recorrem para poder se utilizar das "vias". Estas mesmas empresas se preocupam em providenciar transporte de um backbone a outro, permitindo assim que usuários que se conectam por um backbone possam se comunicar com usuários de outros.

O fato de estarmos conectados à rede ainda não nos permite acesso às informações, é necessário que através da filosofia de endereçamento da Internet e dos vários tipos de serviços disponíveis localizemos uma instalação provedora de serviços de informação e, se autorizados a recuperemos. Existe portanto, uma clara distinção entre provedores de serviço de conexão e provedores de serviços de informação. Através dos primeiros, temos acesso à rede e através dos provedores de serviços de informação acesso aos vários repositórios de informações existentes na rede. Obviamente um provedor de serviços de conexão pode simultaneamente ser um provedor de serviços de informação.

Normalmente o acesso a um provedor de serviços de conexão é disponibilizado mediante a cobrança de uma taxa de inscrição e mensalidade, o que dá direito a uma franquia em horas de uso. O acesso às informações em sua maior parte é gratuito, mas já com uma clara tendência de cobrança em alguns nichos, tais como notícias, indicadores, análises setoriais, etc...

No Brasil, em 1.988 por iniciativa da comunidade acadêmica (Fapesp, Ufrj e Lncc), foram conectados os primeiros computadores à Internet com o uso centrado basicamente em atividades acadêmicas e de pesquisa.

Até 1.994 o único backbone existente, coordenado pela RNP - Rede Nacional de Pesquisas e financiada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, encarregou-se de manter a integração das redes estaduais que foram se estruturando no decorrer deste período. A RNP e as redes estaduais vinculadas, tem a preocupação básica de viabilizar a chegada dos serviços ao interior, com a qualidade e eficiência necessárias para o provimento de serviços Internet educacionais.

O Paraná integrou-se à Internet em 1.994 através da Rede Araucária, que é uma das redes estaduais conectadas ao backbone da RNP. Diferente dos demais estados que tiveram suas redes originadas no meio acadêmico, a Rede Araucária preocupou-se em ter em sua composição representação dos vários segmentos da sociedade de maneira a propiciar um nível de penetração maior junto à comunidade.

Já no segundo semestre de 1.994, acompanhando uma tendência internacional, começaram alguns movimentos para a disponibilização da Internet comercial, que diferentemente da Internet acadêmica passa a cobrar de seus usuários o provimento de serviços de conexão.

Logo em seguida, e certamente motivados pela ação da Embratel de disponibilizar serviços de conexão à Internet, o Ministério das Comunicações e o Ministério da Ciência e Tecnologia em ação conjunta, anunciaram a posição do governo federal em relação ao uso da Internet comercial no Brasil, que é a da possibilidade de qualquer empresa ser um provedor de serviços de conexão ligando-se a qualquer backbone. Como resposta à esta linha, vários backbones estão em formação (RNP, Rede Rio, Embratel), com um sem número de provedores de serviços de conexão se estabelecendo; desde pequenas BBS´s até empresas de porte como a IBM e alguns bancos comerciais. As figuras 1 e 2 mostram o backbone da RNP e o da Rede Araucária ao qual a Celepar está conectada.

Uma das vantagens de se consultar a rede, é a de normalmente se encontrar informações sobre qualquer assunto, o que certamente nos economiza um tempo enorme, seja na prospecção de novas tecnologias, elaboração de projetos e até, como neste caso, na confecção de artigos. Valendo-me disto vou utilizar a descrição dos principais serviços e ferramentas da Internet que obtive via o servidor WWW da RNP.

As ferramentas Internet são sistemas que utilizam a filosofia cliente/servidor, em que há módulos de programa distintos para executar os pedidos de informação (o módulo servidor) e para capturar os pedidos do usuário e apresentar os resultados da execução desses pedidos (o módulo cliente). Portanto, para usá-las, é necessário instalar um módulo cliente compatível com o equipamento do usuário. A maioria dos programas para utilização dos serviços e ferramentas da Internet está em domínio público, isto é, podem ser recuperadas gratuitamente pela rede.

O tipo de serviço e/ou ferramenta a ser acessado depende também do grau de conectividade à rede que o usuário possui, o que é determinado por protocolos e velocidade de comunicação.

Correio Eletrônico

É o serviço básico de comunicação em redes de computadores. Também conhecido como e-mail, ou simplesmente mail, o correio eletrônico permite que usuários da rede troquem mensagens via computador, usando um endereço eletrônico como referência para localização do destinatário da mensagem.

Embora a grande maioria das mensagens trocadas via rede seja constituída por informação puramente textual, também pode-se usar esse serviço para transmitir outros tipos de informação, tais como sons e imagens. Através de correio eletrônico também é possível obter outros serviços de rede, tais como listas de discussão, Usenet news e archie.

Lista de Discussão

É um serviço que permite o intercâmbio de mensagens entre vários usuários. Funciona como uma extensão do correio eletrônico explorando uma facilidade conhecida como alias (um endereço fictício contendo uma lista com outros endereços eletrônicos). Usando esse recurso, qualquer mensagem enviada para o endereço alias é, automaticamente, reenviada para todos os endereços constantes da lista associada.

As listas de discussão também podem ser implantadas através de programas conhecidos como servidores ou processadores de listas (listservers), usados originalmente na rede Bitnet. Além do intercâmbio de mensagens entre os participantes da lista, os servidores de lista oferecem recursos adicionais, tais como consulta a registros de mensagens enviadas/recebidas, armazenamento e recuperação de documentos de interesse dos membros dos grupos de discussão e informações sobre os participantes da lista.

As listas de discussão ou conferências eletrônicas, como também são conhecidas, são comumente usadas como meio de comunicação entre membros de um projeto ou entre pessoas interessadas em discutir temas específicos, podendo ser abertas ou fechadas quanto à participação de novos membros. Quando abertas, a inscrição de um novo membro na lista é feita através de um pedido de subscrição enviado pelo interessado para um endereço eletrônico diferente do endereço da lista, criado especialmente para esse fim.

Existe uma infinidade de listas de discussão, sobre os mais variados assuntos, acessíveis via rede.

Netnews (USENET)

É um serviço de difusão e intercâmbio de mensagens trocadas entre usuários da rede sobre assuntos específicos. O netnews ou USENET news, ou simplesmente news provê um serviço semelhante ao das listas de discussão, porém com maior abrangência e facilidade de participação, além de ser operado de forma bastante diferente do serviço de listas.

As mensagens do netnews são classificadas em categorias chamadas newsgroups que, por sua vez, são organizadas em grandes grupos hierárquicos, tais como: alt (alternativos), comp (computadores), misc (miscelânea), news, rec (recreacional), sci (ciência), soc (social), entre outros.

Ao contrário das listas de discussão, em que as mensagens são enviadas para cada membro da lista, as mensagens de news são enviadas para um determinado computador da rede e de lá são reenviadas, em bloco, para os computadores que aceitam esse serviço. As mensagens podem então ser lidas por qualquer usuário desses computadores, sem necessidade de subscrever ao serviço, bastando ter acesso a um programa específico para leitura de news.

Os recursos básicos oferecidos pelos programas de leitura de news incluem: seleção de newsgroups preferenciais, leitura de mensagens (com marcação de mensagens não lidas), trilhas de discussão (para refazer a seqüência de uma discussão), postagem de mensagens (para um dado newsgroup ou para o autor de uma dada mensagem).

Telnet (Remote login)

É um serviço que permite ao usuário conectar-se a um computador remoto interligado à rede. Uma vez feita a conexão, o usuário pode executar comandos e usar recursos do computador remoto como se lá estivesse. Ou seja, ao contrário dos serviços de correio eletrônico e de FTP, telnet permite ao usuário estabelecer uma comunicação direta com o computador acessado remotamente.

Telnet é o serviço mais comum para acesso a bases de dados (inclusive comerciais) e serviços de informação. A depender do tipo de recurso acessado, uma senha pode ser requerida. Eventualmente, o acesso a determinadas informações de caráter restrito ou disponíveis somente em caráter comercial pode ser negado a um usuário desse serviço que não atenda aos requisitos determinados pelo detentor da informação.

FTP (File Transfer Protocol)

É o serviço básico de transferência de arquivos na rede. Usando FTP, um usuário da rede pode carregar (upload) arquivos de seu computador para um outro, ou descarregar (download) arquivos de um dado computador para o seu. Para tanto, o usuário deve ter permissão de acesso ao computador remoto.

Um serviço especial de FTP, conhecido como FTP anônimo (anonymous FTP), permite que um usuário remoto descarregue arquivos do computador em que o serviço está instalado, sem necessidade de obter permissão de acesso. Para evitar acesso indevido aos arquivos de uso local do computador remoto, os arquivos disponíveis via FTP anônimo são armazenados em área separada daqueles.

FTP é geralmente usado para transferência de arquivos contendo programas (software) e documentos. Não há, contudo, qualquer limitação quanto ao tipo de informação que pode ser transferida. Vale ressaltar que esse serviço pressupõe que o usuário conheça a localização eletrônica do documento desejado, ou seja, o endereço do computador remoto e os nomes do diretório e do arquivo que contém o documento. Quando a localização não é conhecida, o usuário pode usar o archie para determinar a localização exata do arquivo.

Archie

É um serviço de informações que facilita a busca e recuperação de documentos distribuídos na rede e acessíveis via FTP anônimo. Para tanto, archie mantém um índice atualizado dos nomes de arquivos e diretórios acessíveis na rede através de FTP anônimo. Além do arquivo de índices, archie mantém uma base de dados com descrições de software de domínio público e outros documentos disponíveis em rede.

A consulta pode ser feita em modo interativo, usando telnet, ou em modo não-interativo, usando correio eletrônico, e deve ser dirigida a um dos servidores archie disponíveis na Internet (preferivelmente o mais próximo do usuário). Portanto, para usar o archie é necessário ter acesso a um desses serviços.

Gopher

É um serviço baseado em menus que possibilita ao usuário buscar e recuperar informações distribuídas por diversos computadores da rede. Com o gopher, o usuário tem acesso tanto a informações armazenadas localmente, como àquelas armazenadas em qualquer outro computador da rede que aceite esse serviço.

A seleção da informação a ser recuperada é feita através de uma interface padrão na forma de menus estruturados, tal como uma árvore de diretórios, subdiretórios e arquivos. Através do gopher, é possível ter acesso a arquivos (texto, dados, imagens, sons, programas) e também a outros serviços, incluindo aqueles básicos da rede, tais como telnet e FTP e outras ferramentas de informação, tais como WWW, WAIS e archie.

Veronica

É um serviço de informações que facilita a busca e recuperação de documentos distribuídos na rede e acessíveis via gopher. Ao invés da busca individual baseada em menus dos servidores gopher, o usuário de veronica obtém, numa única interação, o resultado da sua pesquisa efetuada em todos os servidores gopher disponíveis na rede.

Esta ferramenta permite o acesso direto aos itens de menu que contém a palavra-chave indicada pelo usuário no momento em que efetuou a consulta. Vale lembrar que, assim como gopher, veronica opera somente em títulos e itens do menu, e não sobre o conteúdo dos documentos.

Da mesma forma que archie executa busca no conjunto dos documentos acessíveis via FTP, o veronica funciona para o conjunto de documentos acessíveis via gopher.

WWW (World-Wide Web)

É um serviço baseado em hipertextos que permite ao usuário buscar e recuperar informações distribuídas por diversos computadores da rede. A seleção de informações é feita com base no conceito de hipertexto (um texto cujas palavras contém ligações subjacentes com outros textos, o que torna possível leituras diversas, não-lineares).

O usuário pode selecionar uma das palavras que aparece assinalada. Ao fazer isso, ele terá acesso ao documento associado ao termo selecionado. Esse processo pode se repetir com o usuário selecionando novamente um termo assinalado de seu interesse no documento recuperado. Ou seja, o acesso às informações disponíveis no WWW é obtido na medida em que o usuário seleciona, em um dado documento, termos relevantes para a sua busca.

De modo geral, documentos estruturados como hipertextos são interligados através de um conjunto de termos pré-selecionados pelo autor do hipertexto. A associação entre um termo e um documento depende do interesse do autor e pode ter objetivos diversos, tais como: explicar ou detalhar um conceito, definir um termo, ilustrar um fato, expandir uma sigla, apresentar uma informação correlata. O documento associado não precisa ser necessariamente um texto; ele também pode conter outros tipos de informação, tais como imagens, gráficos e sons.

Além disso, os documentos não precisam estar armazenados em um único computador, podendo estar distribuídos pelos diferentes computadores da rede que suportam esse serviço. O WWW torna irrelevante para o usuário a localização física dos documentos recuperados.

WAIS (Wide-Area Information Server)

É um sistema de informações distribuído, baseado em uma interface de usuário simples, que possibilita ao usuário buscar e recuperar documentos armazenados em bases de dados disponíveis na rede. Os documentos recuperados via WAIS podem conter tanto textos como figuras, sons ou imagens.

As bases de dados podem ser implantadas usando diferentes sistemas gerenciadores de bases de dados (SGBDs), com o WAIS provendo uma interface padronizada, baseada em linguagem natural, para acesso aos diferentes sistemas.

Whois

É um serviço voltado para o atendimento de consultas sobre pessoas e organizações presentes na rede. As informações, armazenadas em uma base de dados, são coletadas pelo Internet Registration Service (InterNIC) e incluem endereço (postal e eletrônico) de pessoas e organizações usuárias da rede.

A consulta pode ser feita em modo interativo, usando telnet, ou em modo não-interativo, usando correio eletrônico. Portanto, para usar o whois é necessário ter acesso a um desses serviços.

IRC (Internet Relay Chat)

É um serviço que permite estabelecer uma conversação simultânea entre dois ou mais usuários da rede, independentemente de sua localização geográfica. As discussões através de IRC fazem uso do conceito de canal (trilha de conversação), podendo ser públicas ou privadas quanto à participação de novos membros.

Os tópicos de discussão, assim como o idioma da conversação, são bastante variados.

Os diversos servidores IRC existentes na rede estão interconectados, e apresentam continuamente aos usuários do serviço os canais e recursos do serviço em utilização.

Tudo o que vimos até agora está relacionado com a infra-estrutura necessária para acessar e navegar pela Internet, que nada vale se não soubermos onde se encontram as informações. A maioria das perguntas que me fazem está relacionada à busca de um determinado tipo de informação, e a resposta invariavelmente é a mesma: não existe receita de bolo, o máximo que podemos fazer é a indicação de alguns catálogos eletrônicos disponíveis na rede (tipo Yahoo - www.yahoo.com, que é um servidor WWW com mais de 40.000 referências a outros servidores WWW) e a partir daí o próprio usuário deve começar a anotar os seus lugares preferidos. A maioria dos pacotes de consulta permite este tipo de anotação para posterior recuperação.

Outra fonte de consulta são os meios de comunicação, sejam jornais, revistas periódicas ou televisão, em artigos ou propaganda, cada vez mais vemos referências aos endereços eletrônicos de correio ou WWW.

Existe uma série de estatísticas à respeito da Internet, com grande variação nos resultados de uma para outra, mas um fato todas tem em comum, os números são de uma dimensão fantástica e o mais importante com uma taxa de crescimento altíssima, isto é por volta de 100% ao ano.

O que permitiu que isto acontecesse? A meu ver, além das características da própria Internet, existem três fatores que considero determinantes: aumento da capacidade de processamento e baixa nos preços dos microcomputadores, incremento nas facilidades de comunicação também a preços compatíveis e o desenvolvimento de aplicativos mais amigáveis na relação com o usuário, que o digam os leigos em informática que acessam a Internet via Unix.

Por acreditar que estes três fatores ainda não esgotaram seu potencial de evolução, podemos imaginar para breve aplicativos tipo realidade virtual como um encaminhamento natural para o WWW.

Você que hoje pesquisa catálogos na rede, brevemente estará fazendo um passeio virtual pelos corredores de um supermercado, selecionando mercadorias, passando no caixa com seu carrinho e apenas aguardando a entrega dos produtos em sua casa. Poderá fazer isto com tranqüilidade pois os requisitos mínimos de segurança já estarão implementados, assim como o uso de dinheiro eletrônico.

Outra situação que hoje já acontece, mas que deverá ser lugar comum é o do uso cada vez mais intenso de comunicação verbal via a rede, em substituição ao sistema telefônico convencional. A grande vantagem é o custo, você passará a pagar apenas a ligação local mesmo efetuando ligações internacionais.

Popularização da vídeo conferência, substituição parcial do correio convencional pelo correio eletrônico, facilitação na implementação dos escritórios virtuais, enfim a Internet tem a condição de interferir nos processos de nosso dia a dia melhorando-os a um menor custo, portanto aproveitem.

A primeira parte deste artigo foi publicada no Bate Byte de agosto/95.