Levando cidadania à população por intermédio da informática

Autor: Portal Aprende Brasil

 

O projeto Telecentros Paranavegar do Governo do Estado do Paraná leva inclusão digital a populações que apresentam baixo IDH. Sua coordenadora, Márcia Schüler, fala sobre o funcionamento dos Telecentros e da participação das comunidades locais.

Levar desenvolvimento a comunidades carentes por meio da inclusão digital. Esse é o objetivo do projeto Telecentros Paranavegar, que foi desenvolvido pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SEAE) e pela Companhia de Informática do Paraná (Celepar). Os Telecentros - compostos por computadores com acesso à Internet e softwares para edição de texto e de planilhas, por exemplo, e que promovem a capacitação para quem desejar - são prioritariamente instalados em comunidades que apresentam baixo índice de desenvolvimento humano (IDH), entre as quais estão a reserva indígena de Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras, e o assentamento do Movimento dos Sem-Terra, em São Miguel do Iguaçu, todas no Paraná.

“O fato de uma população com baixo IDH ter acesso à Internet, uma tecnologia considerada de última geração, resgata sua cidadania e dá a ela oportunidade de adquirir um conhecimento que de outra forma não conseguiria”, afirma Márcia Schüler, coordenadora do projeto. O Telecentros Paranavegar é resultado da aposta que o governo federal fez na dobradinha software livres e Telecentros como principal ferramenta para inclusão digital no país. Márcia lembra também que os Telecentros são exemplos do sucesso da utilização de software livres.

O projeto só se tornou viável porque são usados apenas esses programas, que dispensam gastos com licenciamento. Os microcomputadores têm sistema operacional Linux, um pacote de aplicativos Open Office e navegador Mozilla. De acordo com informações da Celepar, graças ao uso de software livres, o custo de implementação de um Telecentro cai de R$ 47,9 mil para R$ 27,5 mil. Com esses software, também é possível aproveitar computadores que estão defasados para usar programas proprietários (aqueles que não são livres) e mais pesados.

Como surgiu a idéia dos Telecentros?

A idéia dos Telecentros existe há algum tempo no Brasil e já foi implantada em vários estados, mas na maioria de forma precária. Várias ONGs que trabalham com a questão da inclusão digital também estão fazendo esse tipo de trabalho. Nossa atividade nos Telecentros está sendo realizada de acordo com as determinações estipuladas nas duas últimas oficinas de inclusão digital promovidas pelo governo federal. Uma delas é a de que esses Telecentros sejam implantados preferencialmente nos municípios de menor IDH do estado. O Governo do Estado do Paraná teve a idéia de fazer os Telecentros, mas não tinha um programa. Existem outras determinações que também são de extrema importância. Por exemplo: que haja absoluto respeito à comunidade onde o projeto está sendo inserido. O que a comunidade acha que é o Telecentro deve ter muito mais valor do que o que nós pensamos em relação a utilidade dele.

O Telecentro é aberto a todos?

O Telecentro é público e gratuito. Atende a todas as pessoas da comunidade onde está implantado. Elas podem utilizar a Internet, criar contas de e-mail e usar o computador como desejarem. Mas há um limite de uso: a proposta inicial, que depois pode ser alterada pela comunidade, é que cada pessoa utilize por meia hora.

Então, os Telecentros são uma forma eficiente de melhorar o desenvolvimento dessas comunidades?

O Telecentro Paranavegar é uma parcela do projeto de inclusão social do Governo do Estado. A evolução da tecnologia da informação criou a Internet, que concentrou uma grande quantidade de conhecimento. Isso está fazendo com que haja um diferencial entre as pessoas que têm acesso a essas informações e as que não têm. Esse diferencial na quantidade e qualidade de conhecimentos que cada um absorve, na realidade, representa qual é a capacidade do indivíduo para desenvolver suas atividades. Quando alguém não tem acesso a algo que gostaria de ter enquanto cidadão, sente-se depreciado. O fato de uma população com baixo IDH ter acesso à Internet, uma tecnologia considerada de última geração, resgata sua cidadania e dá a ela oportunidade de adquirir um conhecimento que de outra forma não conseguiria. Tudo isso resulta na melhoria da inserção social dessas pessoas e no aumento de sua auto-estima.

Que resultados vocês já observaram?

Percebemos mudanças importantes nas comunidades que receberam Telecentros. Na Ilha do Mel, por exemplo, onde temos uma parceria com a Positivo Informática, o fato de discutirmos a possibilidade das crianças terem acesso ao Portal Aprende Brasil motivou os adultos analfabetos a aprender a ler para poder utilizar o Telecentro. Já está havendo até mesmo uma mobilização de voluntários para dar aulas de Português no espaço do Telecentro. Em outros lugares, há pessoas descobrindo coisas importantes para sua vida. Temos um menino em Ortigueira que, todo dia, vai ao Telecentro e pesquisa uma nova receita de comida brasileira. Ele imprime, leva para casa e prepara junto com sua mãe. Ele deverá se tornar um grande cozinheiro, mesmo morando em um lugar que apresenta o pior IDH do sul do Brasil.

Como funciona o programa de capacitação para a utilização dos Telecentros?

Nosso programa consiste em levar mais do que o acesso à Internet. Nosso lema é “quem sabe usa; quem não sabe aprende”, pois os Telecentros contam com monitores o tempo inteiro. Se alguém não sabe nada de informática, pode utilizar o computador com a ajuda de um monitor que, eventualmente, acaba dando capacitação a essa pessoa.

Temos uma capacitação básica planejada que é dada aos monitores e está sendo estendida à população. Como nossa proposta é de sermos aderentes à comunidade, as demais capacitações são feitas à medida que os usuários pedem. Procuraremos dar oportunidade de treinamento até mesmo sobre coisas que não estejam previstas. Em Guaraqueçaba, por exemplo, que é uma comunidade de pescadores, apesar de nosso treinamento estar voltado à utilização de equipamentos de informática e software livres, como o Open Office, acredito que os usuários vão pedir alguma coisa relacionada à pesca. E, com certeza, planejaremos um curso com esse enfoque.

Quem decide o que é feito ou não nos Telecentros? Como a comunidade se manifesta?

Os Telecentros funcionam com um conselho gestor. Temos uma representação dos parceiros que montaram o Telecentro, como o Governo do Estado e as empresas que viabilizam os projetos. Essa é a maneira de envolver parceiros privados em nossa proposta. Todos eles têm assento nesse conselho. E, em igual número, são eleitos membros da comunidade. Se para construir determinado Telecentro tivemos três parceiros, vamos eleger mais três pessoas do local e, assim, formar o conselho. Então, eles têm toda a responsabilidade sobre o Telecentro. Enquanto o conselho não está formado, as regras são as mínimas estabelecidas por nós, da Celepar. Mas, após a eleição, o conselho gestor vai deliberar em função do local onde está inserido. Nas regras mínimas, por exemplo, estabelecemos que cada pessoa use o Telecentro por meia hora, pois geralmente existe muita gente interessada em fazer isso. Mas, se o conselho achar interessante, pode estabelecer o uso de uma hora por pessoa. Em Guaraqueçaba, o conselho pode determinar que, à noite, só os pescadores possam utilizar os computadores, já que trabalham durante o dia.

Quais são os recursos que os usuários encontram nos Telecentros?

O nosso kit básico é formado por computadores com navegadores para Internet e um pacote de Open Office. Eventualmente, se surgir necessidade de, por exemplo, os moradores montarem páginas para a Web, poderemos providenciar, desde que use software livres.

Referência

DREYER, D. Levando cidadania à população por intermédio da informática. Disponível em: <http://www.aprendebrasil.com.br/entrevistas/entrevista0107.asp>. Acesso em: 24 nov. 2004.