Modelo de Referência Preliminar para Tecnologia de Dados

Autor: Vanderlei Vilhanova Ortêncio

Na condição de Provedora de soluções de Informática para o Estado do Paraná, a CELEPAR está desenvolvendo esforços no sentido de organizar ações, estruturas e modelos de referências para que possamos gerir adequadamente os processos de informatização e atualização tecnológica. No que diz respeito à tecnologia de tratamento e gerenciamento de dados, estamos vivendo uma fase de importantes decisões. Como a maioria das instituições que atuam nesta área, precisamos rever nossa arquitetura de Banco de Dados e de tecnologia utilizada.

Esta revisão demanda critérios, impõe restrições e apresenta oportunidades. Os critérios precisam ser estabelecidos para evitar queima de energia com movimentos inócuos e muitas vezes ambíguos, mas além disso, propiciar uma direção mais estável, transformando movimentos em ações. As restrições precisam ser percebidas e consideradas para assegurar aderência do projeto à realidade. E as oportunidades precisam ser aproveitadas porque jamais se repetem.

Algumas decisões baseadas em oportunidades se cristalizam como declarações que se somam aos critérios que são estabelecidos. Um exemplo, é a decisão de assumir definitivamente o controle da tecnologia utilizada. Historicamente, os fornecedores de produtos de informática praticamente impunham uma lealdade cega dos seus clientes, gerando uma completa dependência. Este pobre cliente acompanhava religiosamente as evoluções tecnológicas de seus fornecedores, torcendo para poder contar logo com as novidades, que a mídia é pródiga em fomentar, em novos "releases" e "upgrades". Com a evolução dos padrões, o crescimento do mercado de software e as inovações tecnológicas isso está mudando. Tinha que mudar. Mas tem um preço. Como diz o ditado: "Não existe sopa grátis", pois "o preço da liberdade é a eterna vigilância". O preço a ser pago é uma maior complexidade na gestão dos recursos para tecnologia da informação. Afinal, se antes quem gerenciava a atualização tecnológica era o fornecedor ( na prática, não oficialmente, é claro!), alguém deve passar a assumir esse papel.

Considerando o modelo proposto para reestruturação da Administração de Dados na CELEPAR, que é abrangente a ponto de prever uma Administração da Tecnologia do Dado (encarando o Dado como recurso para Informação), em dezembro de 1994, foi definido como primeira diretriz técnica um modelo de referência para orientar trabalhos de definição de arquiteturas de ambientes e plataformas de Banco de Dados. Trata-se de um documento simples e sucinto, mas que estabelece alguns critérios capitais. Estes critérios nortearam a definição de requisitos para aquisição de produtos para gerenciamento de Banco de Dados e soluções de conectividade, além de influenciar na definição de produtos para ambiente de desenvolvimento. Este documento é referenciado como NORAD001, sendo seu texto apresentado a seguir, com caracteres em itálico:

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INTRODUÇÃO

Diante de um quadro de mudanças, principalmente no contexto tecnológico, a área de Administração de Dados da CELEPAR, atualmente em fase de implantação, está envidando esforços no sentido de orientar o nosso direcionamento para definição de requisitos para aquisição de produtos para representação, armazenamento e referenciamento de dados.

Um dos aspectos de grande impacto diz respeito a plataformas para gerenciamento de Banco de Dados.Tendo em vista atender com urgência demandas emergentes de processo de informatização de nossos clientes, precisamos definir critérios técnicos para instruir as licitações sem que no momento tivéssemos o tempo necessário para definição formalizada de arquiteturas planejadas para estas plataformas.

OBJETIVOS

Definir um modelo básico contendo uma representação conceitual a nível macro, o qual servirá para orientação na definição dos critérios para seleção de SGBD, ambientes "front-end", bem como conectividade e novos modelos de referência.

DIRETRIZES PARA PLATAFORMA DE BANCO DE DADOS

A premissa básica para o modelo é a busca de soluções voltadas para arquiteturas abertas, que venham permitir integração de bases de dados heterogêneas (de fornecedores diferentes).

Além disso, buscamos também soluções com tecnologia mais atualizada em termos de distribuição de dados e integração com ambientes de desenvolvimento.

Embora praticamente todos os fornecedores preguem as suas virtudes em termos de arquiteturas abertas, etc., a maioria dos produtos se apresenta com uma estrutura proprietária, ou seja, cada um é "aberto" à sua maneira. Além disso, embora os fornecedores de SGBD ofereçam soluções completas (back-end e front-end), cada um tem produtos mais fortes em uma das pontas ou back-end ou front-end.

Também, com a evolução das ferramentas com capacidade GUI (Grafic User Interface) e incorporando conceitos de Orientação a Objetos, estas têm sido melhor exploradas por fornecedores que se dedicam mais a produtos de front-end.

Buscamos então um modelo que nos ofereça:

  • melhores soluções back-end;
  • melhores soluções front-end;
  • soluções com características evidentes de arquiteturas abertas cliente-servidor.

Isto implica num modelo que separe as categorias de produtos front-end e back-end, definindo uma interface padrão entre ambos.

O mercado já assimilou (não existe contra-proposta) o padrão de linguagem SQL, que é uma linguagem para acesso a Bancos de Dados Relacionais e que se integra a outras linguagens de propósito geral. Desta forma, todos os produtos SGBDR implementam SQL e os ambientes de desenvolvimento que estão surgindo com recursos de apresentação e lógica (segundo as camadas de um modelo cliente-servidor), estão preparados para acessar Bancos de Dados via SQL.

Assim sendo, a nossa definição de critérios de arquiteturas abertas para Bases de Dados passa por este modelo básico:

  • Um ambiente de back-end com capacidade de integração com ferramentas front-end de múltiplos fornecedores.
  • Um ambiente de front-end com capacidade de integração com múltiplos SGBD, de diferentes fornecedores.
  • A integração entre os ambientes front-end e back-end, deve ser assegurada pela utilização de linguagem SQL, em conformidade com os padrões internacionais vigentes. Neste momento, este padrão é definido pela norma ISO/IEC 9075: 1992.

A seguir está representado este modelo de referência para definir critérios para aquisição de produtos para Armazenamento e Tratamento de Dados:

A vantagem deste modelo é que podemos definir critérios técnicos para especificação de requisitos em processo de licitação, que uma vez cumpridos, vão permitir integração a nível do Estado, independentemente do fornecedor.

Com isto esperamos obter uma maior estabilidade num ambiente em que já não se pode ter controle sobre que ambiente de SGBD serão instalados neste ou naquele órgão de Governo. Esta estabilidade poderá ser então buscada na especificação dos produtos através de requisitos técnicos sem recorrer a marcas de produtos, que na maioria dos casos feriria dispositivos legais para licitação.

Esta proposta de modelo básico deverá ser discutida pela Câmara Técnica de Administração de Dados, podendo vir a se tornar norma, guia ou orientação para os processos de aquisição de produtos para ambientes de Banco de Dados nos órgãos signatários do SEI (Sistema Estadual de Informações)."

Como resultado da aplicação deste modelo, temos os seguintes benefícios:

a) Os projetos de seleção de produtos para ambiente back-end (Sistema Gerenciador de Banco de Dados e Solução de Conectividade com o Legado) e Ambiente front-end (Ambiente de Desenvolvimento de Aplicações) puderam ser desenvolvidos em paralelo, por grupos distintos, requerendo muito pouca interação, e praticamente nenhuma dependência.
b) A definição de requisitos para o processo de licitação teve solidez estrutural, que asseguraram estabilidade nas especificações.
c) Tem orientado avaliação de especificações técnicas para aquisição de produtos em processos de informatização de vários órgãos do Estado (cerca de oito até o momento).
d) Referência para o estudo e avaliação de ferramentas CASE, com definição de prioridades, critérios, escopo, etc.
e) Referência para definição de atividades de AD (Administração de Dados) no processo de Desenvolvimento.

Esta experiência é um testemunho de que pode-se obter bons resultados, com efeito multiplicador, a partir de atitudes simples, sem estardalhaços e panfletismo, mas com objetividade e comprometimento com a coerência e a verdade.

Este modelo deverá ser estendido nos próximos dias para considerar mais detalhadamente aspectos de:

a) Distribuição de Dados.
b) Conceitos aplicáveis da Tecnologia de Objetos.
c) Conceitos de Datawarehouse.

Outros modelos de referência têm sido desenvolvidos para apoiar os objetivos definidos no projeto de implantação da Administração de Dados, que poderão ser apresentados nos próximos números deste periódico.