Navegar é preciso

Autor: Luiz Fernando Esteche

 

Antes eles precisavam atravessar o oceano para ter contato com o resto do mundo. Para ter acesso ao ensino são pelo menos uma hora e meia até Paranaguá. Agora os nativos, turistas e os frequentadores da Ilha do Mel, um dos locais mais paradisíacos do sul do Brasil, não precisam navegar de barco para saber o que acontece no continente. Hoje a navegação é feita pela Internet no telecentro da Ilha, um dos mais de quarenta e seis que o Governo do Paraná já instalou em todo o Estado.

“A Ilha descobriu o mundo”, diz Eleni Bettes, violonista e professora de música, que vive há 20 anos na IIha de Encantadas, e uma das responsáveis pela instalação do telecentro onde atua como voluntária. “Tudo ficou mais fácil. As pessoas usam os sites oficiais, os serviços bancários, divulgam suas pousadas, suas empresas de pesca e as escolas de mergulho. Sem perder a identidade nativa, sem se urbanizarem, nossas crianças já dominam as máquinas, têm conhecimento do mundo. Tudo isso é fantástico”.

Mas o telecentro não é só Internet. Eleni também criou na Ilha uma biblioteca comunitária e, a partir daí, uma escola de informática. O telecentro veio na esteira e trouxe também a educação de jovens e adultos, e o interesse da população por outras formas de conhecimento. Atualmente são mais de 400 usuários cadastrados no Telecentro, dos quais pelo menos 80 navegam diariamente. “O Telecentro tomou conta e faz parte da vida da comunidade. Todos têm acesso. Temos dado oportunidade principalmente aos portadores de deficiência, aos analfabetos, enfim Aqueles que não tiveram oportunidade”, conta Eleni. “Se a gente disser que o Telecentro não vai abrir na segunda ou na terça eles ficam loucos”.

Sob sua coordenação, o telecentro é dirigido pela organização não-governamental União das Mulheres da Ilha e pela Associação de Moradores. Eles são responsáveis pelo treinamento de monitores, desenvolvimento de conteúdos e pelo ensino das crianças. Elas fazem seus próprios sítios e navegam com desenvoltura pelos portais, dominando a linguagem da informática, seja Windows ou Linux. “Os turistas que passam a lidar com o Linux aprendem a respeitá-lo”, testemunha. Eleni se entusiasma até com o nome do programa de telecentros. O Paranavegar parece ter sido idealizado para os moradores da Ilha do Mel. Se não é de sua exclusividade, eles sabem, como ninguém, do valor dessa conquista.