Nível Baixo

Autor: Arno Rodrigo Muller


Você ainda se lembra desta baixaria?

Antes de escrever este artigo questionei-me: "Há quantos anos eu não ouço falar em "Baixo Nível"?". Alguns colegas afirmaram categoricamente que por pior que sejam as circunstâncias, o nível deve ser mantido sempre elevado. Mesmo os mais velhos esqueceram dos bons tempos em que o "Baixo Nível" era o ponto alto da empresa. Ficou claro que não estávamos falando do mesmo nível.

Há muitos anos atrás, costumava-se separar os técnicos do processamento de dados em duas categorias: os de "Baixo Nível" e os de "Alto Nível".

Os técnicos de "Alto Nível" eram aqueles que usavam linguagens de "Alto Nível", softwares de usuário final; eram, em suma, técnicos voltados para os problemas usando os computadores e os softwares como instrumentos de solução.

Os técnicos de "Baixo Nível" eram os usuários da linguagem denominada "Assembler", não tinham ferramentas de "debug" para ajudá-los a encontrar os "bugs". E, ainda, recebiam a alcunha de "Escovadores de Bits". Seus problemas eram resolvidos contando apenas com os recursos de sua própria imaginação. Os bancos de dados eram definidos em arquivos VSAM ou arquivos INDEXADOS SEQUENCIAIS. Os demais arquivos eram construídos usando os métodos contidos numa "Bíblia da IBM" denominada "Supervisor and I/O Macros" que descreve inúmeros métodos de acesso aos dados.

A gramática da linguagem "Assembler" estava contida noutra "Bíblia da IBM" denominada "Principles of Operation" também conhecida na época como "O Príncipe dos Operadores". Baixaria, não?

Os partidários do "Alto Nível" e os partidários do "Baixo Nível" trocavam insultos entre si. O pessoal do "Baixo Nível" achava que aquela turma do "Alto Nível" tinha "Baixo Nível" ao contrário deles que, embora labutassem no "Baixo Nível", tinham realmente "Alto Nível".

Com o passar do tempo, o pessoal do "Alto Nível" foi ficando mais numeroso e a balança pendeu para o seu lado. Para desgosto dos resistentes, muitos dos militantes do "Baixo Nível" desertaram para o "Alto Nível". Hoje, a desproporção entre "Alto Nível" e "Baixo Nível" é descomunal.

É indiscutível o rendimento oferecido pelos instrumentos de "Alto Nível". A produtividade é muito maior. Existe solução para tudo. Os computadores se tornaram realmente instrumentos de solução de problemas. Antes, o computador era parte do problema. Resta ao pessoal de "Baixo Nível" um consolo. Todo software que o pessoal do "Alto Nível" usa, foi construído pelo pessoal do "Baixo Nível".

De um modo geral, a informática entra no sangue e nos instintos do homem. Depois de alguns anos militando na área, o técnico passa a comparar a vida como um processo de computador. Seus erros ou acertos são comparados com bons ou maus programas. Sua visão está sempre sob o prisma do processamento de dados.

Exemplo: em Mateus, capítulo 7, o apóstolo da Bíblia, a de verdade, existem vários versículos muito apropriados ao processamento de dados.

Experimente comparar: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á." (Mateus 7,7) com WINDOWSr e um mouse.

Compare: "E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra?" (Mateus 7,9) ou "E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente?" (Mateus 7,10) com os sistemas oferecidos aos nossos clientes. Então?

A rudeza com que os computadores reagem aos nossos comandos está, também, escrito em Mateus 7,16 a 20. Mas, o argumento mais importante dos técnicos de "Baixo Nível", está em Mateus 7, 24 a 29. PENSE.

(PENSE estava escrito numa tabuleta que a IBMr colocava em todos os lugares na época em que existia pessoal de Baixo Nível).