O microcomputador

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro
   

Num esforço de reportagem o Bate Byte foi atrás de personagem importante e que está aniversariando. Não foi fácil, ele é arredio e não gosta de falar, mas ninguém consegue escapar aos nossos repórteres. Assim, com vocês, a grande personalidade do ano 2002, na exata ocasião em que ele faz 20 anos e entra na idade adulta:

O MICROCOMPUTADOR

Como é fazer 20 anos?

Maravilhoso. A gente deixa de ser criança e passa a inventar coisas mais importantes grandiosas e consistentes. Me aguardem, vocês não têm idéia do que vem por aí.

Quando você nasceu, tinha idéia do sucesso que o esperava?

Nem nos meus sonhos mais grandiloqüentes. Imaginava que iria para algumas empresas, talvez para alguns empresários espertos. Essa coisa de ocupar o quarto dos adolescentes ao lado do som e da TV portátil é novidade até para mim. Gosto muito de estar no quarto dos adolescentes, é uma gente cabeça como eu. O único problema é que esse pessoal usa muito tênis ao invés de sapato. Às vezes o aroma fica brabo.

Quem é seu pai e quem é sua mãe?

Tenho muitos pais e muitas mães, se é que é possível. Mas, acho que o meu pai é um sujeito chamado Steve Jobs. Minha mãe bem pode ser o Bill Gates.

Você ficou rico?

Um tanto. Na verdade não sei bem o que fazer com o dinheiro. Tenho muito dele, mas apenas na modalidade digital. Ainda desconheço como usá-lo, mas essa não é uma sensação inédita. Tem muitas coisas que ainda não sei como fazer.

E o seu guarda-roupa?

Muda a cada ano. No começo gostava muito da roupa cor verde, era sóbria e elegante, mas de uns anos para cá, ela ficou colorida, animada, com voz e música. Só que a roupa, por ser nova, nem sempre fica do jeito como eu gosto. Tem umas calças novas que me apertam, um chapéu que não entra na minha cabeça, uma camisa cujas mangas deviam ser de um orangotango, pois tem 2 palmos a mais que os meus braços, mas, que remédio! Ano que vem, troca o guarda-roupa, de novo. O duro é que eu nunca consigo ter aquela roupa confortável, do meu exato tamanho, já gasta nos punhos e colarinhos, tão confortável que nem parece roupa. Uma pena.

Como anda o relacionamento com os seus parentes mais velhos?

Temos algumas dificuldades de comunicação. Tem um tio, o Dino, que é bem bacana. Eu não sei a origem do apelido (Dino), o nome real dele é Mainframe. Falo muito com ele, se bem que as vezes parece que estou falando com uma parede, ele me escuta mas não me ouve. Eu não entendo uma palavra do que ele fala, mas vamos levando.

E com os mais novos?

Tem um pirralho que é do tamanho de um livro, metido a besta que ele só. Mas, fazer o quê. Parente é parente, tenho que agüentar.

Bate-Pronto

Uma alegria: Estar em todos os lugares da terra ao mesmo tempo.

Uma tristeza: Os xingamentos com que sou brindado a cada vez que a minha roupa mostra a mensagem "esta roupa executou uma operação inválida e será encerrada". Além de xingado e às vezes agredido, acabo nu.

Uma injustiça: Só estou presente nos lugares mais opulentos e desconfio que sirvo para deixar ainda mais ricos os que já o são. Gostaria muito de estar na África, na Ásia e na América Latina, nos lugarejos pobres e nas escolinhas rurais. Pois é bem lá que eu quase nunca vou.

Uma vingança maravilhosa: Quando aquele empresário famoso lá de Seattle foi mostrar a minha roupa nova toda colorida e eu de birra, de tanto que já havia sofrido com aquela gente, botei a minha velha e gasta camisa azul. (*)

Programa preferido da TV: Qualquer um do discovery channel, menos aquele que mostrava uma fábrica de microcomputadores. Me pareceu algo assim como o Big Brother ou Casa dos Artistas, não gostei.

Lugar gostoso: Alí na Mateus Leme. Lá todos tratam bem de mim.

Prato que mais gosta: Um disquete levemente aquecido pelo sol, principalmente se tiver a cópia única de um arquivo importante. É uma delícia, adoro mastigá-lo com gosto.

Você morre de medo quando: O usuário arma os 3 dedos na posição de pressionar CTRL-ALT-DEL. Fico gelado, pois naqueles longos minutos em que minhas entranhas se organizam, fico impossibilitado de fazer ou dizer algo: é uma miniesquizofrenia das brabas. Ainda se fosse só uma vez por dia...

(*) Veja em http://www.fw.cz/agga/videos.html, uma matéria em vídeo feita pela rede de televisão CNN, chamada gates_30_240.mov, com 1716Kb que mostra direitinho a minha vingança.