O que se viu na feira

Autor: Armando Rech Filho


A Feira de Informática com seus 32 mil metros quadrados e algo em torno de 300 estandes de fornecedores, voltou este ano, com força total, uma vez que no ano anterior, no Rio, com o boicote de grandes fabricantes, havia deixado muito a desejar. Por outro lado, São Paulo é São Paulo e a motivação evidentemente é outra.

Motivos não faltam, no atual momento, para o sucesso desse empreendimento. Estamos vivenciando uma revolução tecnológica nos últimos e recentes tempos, e teremos uma abertura no próximo ano. É bem verdade, no entanto, que se esperava uma presença maior de fornecedores estrangeiros, entre eles os famigerados Tigres Asiáticos, o que resta aguardar para o próximo ano.

Vamos tentar resumir o que vimos na feira, e o que nos chamou a atenção em termos de tendências tecnológicas, que com certeza irão balizar as ações de informática no futuro próximo.

PARTICIPAÇÃO DOS ESTRANGEIROS

Muitos equipamentos importados foram mostrados, porém a grande maioria fruto de parcerias com empresas nacionais. Os fornecedores estrangeiros se limitaram a mostrar alguns produtos, destaque especial para os Macintosh da Apple, “amontoados” em um estande da USTrade Center Compute ( praticamente impossível de serem acessados, pela grande concentração de pobres mortais por metro quadrado),. E também um estande do Consulado do Canadá.

Dentre as associações entre empresas nacionais e estrangeiras podemos destacar:
ITAUTEC com IBM – esforço conjunto para tornar viável no Brasil a linha dos As-400, equipamentos para processamento departamental que a IBM disseminou com muita desenvoltura na Europa.

SID com IBM e FUJITSU- Com a IBM na produção e comercialização de controladoras de comunicação, e com a FUJITSU quanto a discos magnéticos para equipamento de grande porte. A novidade este ano fica por conta do acordo com IBM para produzir no Brasil a linha do PS-2

EDISA com HP – é uma das parceiras que tem gerado e disponibilizado o maior número de produtos que vai deste microcomputadores até equipamentos de porte de mainframe, passando por todo um segmento de equipamentos especiais como estações para processamento científico, instrumentação etc.

LABO com PYRAMID- compreendendo também vários portes de equipamentos na linha do ambiente operacional UNIX, com forte apelo mercadológico de conectividade e transparência total de ambientes

SCOPUS com NEC e SUN e MONYDATA com NCR – importando a tecnologia de poderosos microcomputadores que hoje são produzidos lá fora pelos seus parceiros.

ELEBRA com DIGITAL – já há algum tempo produzindo no Brasil equipamentos DIGITAL que já tiveram suas histórias no exterior, a ELEBRA assina um acordo este ano e mostra na feira equipamentos de última geração, compreendendo também uma vasta gama de potência de processamento.

A Apple adotou como estratégia e distribuição de seus produtos no Brasil através de empresas nacionais, postura esta compatível com sua orientação de manter o Macintosh como um produto totalmente fechado e com segredo mantido a sete chaves. Outro grande fabricante americana, a COMPAQ com seus Deskpro/386, adotou o mesmo esquema.

Dos grandes fabricantes nacionais não vimos ainda os anúncios de parcerias da MICROTEC e PROLÓGICA.

A ORIENTAÇÃO PARA DISTRIBUIÇÃO DO PROCESSAMENTO

Destaque-se nesta feira uma avalanche de equipamentos voltados para o uso de sistemas distribuídos, tanto no segmento de redes locais, quanto no de equipamento multiusuários. Neste último, com exceção do AS-400, as demais soluções se encontram no ambiente operacional UNIX.

Assim como as redes permitem o crescimento desde poucas estações até grandes complexos de equipamentos 386/486 interconectados entre si, a maioria dos expositores mostraram equipamentos baseados em UNIX que vão desde pequena estações no porte de um micro 386 até equipamentos para operar com centenas de terminais, sendo alguns deles com tamanho equivalente aos atuais 386.

No segmento das redes locais como alternativa para distribuição do processamento, vimos pouca novidade, com a NOVELL, predominando com seu NETWARE, o LAN MANAGER, baseado em ambiente OS2, ainda não decolando, e a presença mais recente da rede IBM com tecnologia em anel, representada pelo Tokenring.

Um conceito que começa a surgir com muita força no mercado é o de arquitetura denominada “cliente/servidor”. Nesta linha, o usuário possui uma estação inteligente para processamento, denominada estação “cliente” a qual está conectada a uma rede que possui múltiplas estações “servidoras”, com ambientes operacionais diversificados, cada uma delas fornecendo um serviço especializado como se queira: banco de dados, comunicação, processamento de imagem, processamento numérico de alto desempenho, CAD etc., e tudo se passando para o usuário como se o processamento estivesse ocorrendo em sua singela estação de trabalho.


INTERCONEXÃO DE AMBIENTES HETEROGÊNEOS

Estiveram presentes na feira alguns fornecedores de solução para integração de ambientes heterogêneos. Uma estação de trabalho do tipo micro 386 se conectando em uma mesma rede com um servidos LAN MANAGER, e também a mainframe padrão Eternet, e um monte de “drivers' empilhados na memória da estação de trabalho, o que permita ao mesmo equipamento, em cada momento pertencer a uma outra rede. Agora, na hora em que se perguntava: Como faço para acessar simultaneamente em um mesmo programa os vários servidores vinha a resposta: “Dá para fazer, porém, o técnico que conhece não está no estante no momento”. Quer dizer, o mercado fornecedor ainda não está preparado para este tipo de solução; os produtos existem no mercado, porém a aplicação ainda é uma coisa complexa. A mesma sensação tivemos na busca de soluções para interconexão de redes locais entre sí em ambiente remoto.

Neste segmento de conectividade, e quando falamos em conectividade temos que falar em padrões, nos parece que o mundo UNIX está mais preparado que os demais, pois utiliza largamente, e já há bastante tempo, o protocolo padrão TCP/IP. O padrão OSI deixa ainda a desejar em termos de disponibilidade de produtos, limitando-se a tratamento de mensagens e transferência de arquivos.

Uma coisa nos deixou preocupado nesta área: é uma parafernália de software, placas, bridges, gateways entre outros, e que se aplicam em diversas combinações, segundo o que se queira fazer. É uma área que vai exigir muito trabalho de conhecimento e experimentação para aplicarmos à nossa realidade.

ESTAÇÕES RISC


Sob a argumentação de redução de tamanho e de custos, os processadores foram desenvolvidos num conceito de disponibilizaram conjunto de instruções reduzidas em relação aos processadores convencionais que possuem um conjunto complexo, com muitas destas instruções usadas com pequena freqüência. Praticamente todos os grandes fabricantes mundiais como a IBM, FUJITSU, HP, DIGITAL e outros têm investido maciçamente nesta tecnologia e os produtos disponibilizados apresentam alta performance a preços competitivos, na avaliação dos fabricantes. Os modelos apresentados rodam todos sob UNIX.

INTERFACEAMENTO COM USUÁRIO

Praticamente nove, entre dez estações de trabalho vistas na feira, estavam equipadas com ambiente operacional WINDOWS, que começa a ter no país uma proliferação de cópias à semelhante da obtida a nível mundial, que já atinge hoje a casa dos 4 milhões. Realmente um bestseller como o interfaceamento gráfico entre o homem e a máquina, tornando o usuário menos dependente de conhecimento mais aprofundados do sistema operacional do micro. Várias empresas fabricantes nacionais, firmaram acordo com a MICROSOFT pa fornecer seus micros com o WINDOWS direto da fábrica.

MULTIMÍDIA

Dá para perceber claramente que os processamento de dados convencional, com nossos sistemas on-lien, os bancos de dados armazenando milhões de informações alfanuméricas, e os terminais apresentados telas com texto cheio de letras e números, começam a fazer parte do passado.

A tecnologia de processamento e de armazenamento já permite hoje que se comece a romper com uma série de conceitos convencionais. As poderosas estações de trabalho, os discos óticos com grande capacidade de armazenamento e baixo custo por informação armazenada levaram o mercado a direcionar esforços no sentido de disponibilizar sistemas que possam tratar, armazenar e apresentar informações dentro de um conceito de integração de dados, imagens e som. Esta tecnologia foi mostrada em alguns estandes na feira, inclusive com um show a parte da FUJITSU, que mostrou seus sistemas FMTOWNS composto por um conjunto de hardware e software que fazia sua auto apresentação com imagens e sons, seguido de uma demonstração de ligação com uma câmera de vídeo que captura imagem de pessoas que estavam assistindo, compondo-a com desenhos animados previamente existentes. Na seqüência, o operador apanha um Compact Disc normal, coloca no equipamento e ele o reproduz com excelente fidelidade. Além disso, criava música, executava-a na seqüência e no fim se auto aplaudia. De quebra, uma impressão da imagem da tela em uma impressora colorida o tipo não-impacto.

PROCURA-SE PCXT!

Alguém há de perguntar: e tinha PCXT na feira? Resposta taxativa: não”

De fato, da mesma forma como ocorreu lá fora, pois aqui nunca é muito diferente, sendo apenas uma questão de tempo, o PCXT assim como o AT/286 desapareceram sumariamente da Feira de Informática. Da linha, somente se viu 386 e 486, o mesmo que se vê quando se abre para leitura uma revista PC-Magazine e ou equivalente, que mostra a tecnologia disponível nesse segmento lá fora.