Padrões e padronização - uma visão estratégica

Autora: Maria Alexandra V. C. da Cunha - Anotações livres de palestra ministrada por Paulo Botelho - Diretor da Brisa - 15/4 (CITS)

Numa definição informal, sob a ótica do usuário, padrões são especificações técnicas que permitem ao usuário optar pela melhor razão custo/benefício em cada exercício do seu poder de compra. Neste conceito, padrões existem na telefonia, na energia elétrica e na indústria automobilística, que são segmentos com adoção de padrões bem sucedidos. Na informática, a hora dos padrões é a atual porque questões como downsizing e não dependência de fornecedores são particularmente importantes nesta época.

Padronização x Uniformização

Um ponto que certamente pode causar diferenças de interpretação são os termos padronização e uniformização. Uniformização significa ter todos os produtos de um mesmo fornecedor e, apesar de termos resolvidos os problemas de conectividade e de padrões de interface (já que todos são iguais), esta não é certamente uma estratégia de redução de custos. Uma mesma empresa com filiais distribuídas pelo território nacional pode adquirir ou ter propostas (do mesmo fornecedor) com diferenças de preços de 3 para1. E o mais incrível é que esta diferença pode não ser proporcional ao número de equipamentos/produtos comprados, ou seja, às vezes um lote maior pode ter um preço unitário maior - conseguimos um poder de barganha negativo.

Padronização não é uniformização. Padronização é o estabelecimento de especificações a que todos obedecem. A melhor forma de exemplificar o que é um padrão é pensarmos em uma lâmpada elétrica - ao comprarmos uma lâmpada no supermercado sabemos que certamente servirá no bocal a que se destina, e isso não depende de quem a fabricou. Uniformização seria só termos lâmpadas - e bocais da mesma marca, por exemplo Philips, para garantir que todas as lâmpadas servissem nas roscas.

Padrões de Fato x Padrões de Direito

Outros termos que precisamos esclarecer - "padrões de fato" e "padrões de direito". "Padrões de direito" são aqueles estabelecidos, desenvolvidos, por entidades e organizações oficialmente reconhecidas, tais como ISO (International Standard Organization), CCITT (Consultative Commitee for International Telegraph and Telephone), ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). O desenvolvimento de um "padrão de direito" permite a ampla participação de todos os interessados naquele padrão, governos, empresas, universidades, etc. Um "padrão de fato" é aquele estabelecido pelo mercado, aquele que conseguiu pelo uso ser reconhecido como padrão. Este padrão pode ou não ter uma especificação técnica, mas sempre tem um dono (o fornecedor) que pode mudar as regras quando bem entender. A busca deve ser no sentido de adoção dos padrões de direito, que garantem uma maior estabilidade nas regras, e no caso de mudança, uma ampla participação de todos os interessados.

O nosso ambiente

Nas organizações que possuem um patrimônio de sistemas já desenvolvidos e em produção, os sistemas têm características hereditárias (precisam de uma plataforma da mesma "família" para suportá-los numa eventual expansão ou necessidade de troca). Tais sistemas têm os dados embebidos nas aplicações, com uma estrutura individual para cada aplicação. As aplicações estão intimamente ligadas a sistemas operacionais, a determinadas plataformas de hardware e a equipamentos terminais. É corriqueiro a comunicação de dados se fazer de forma específica para cada aplicação ou para cada plataforma hereditária.

Estas características de hereditariedade trazem como conseqüências para a organização uma enorme falta de flexibilidade para suportar mudanças de processos organizacionais, tecnológicos, e principalmente mudanças nos processos de negócios ou mercados. Os processos de negócio mudam com uma relativa velocidade (maior ou menor, dependendo da área de negócio), as empresas que não possuem forma de se adequar aos novos requisitos do negócio, que não possuam flexibilidade, estão fora do mercado.

Um sistema de informações moderno tem como elementos blocos independentes com interação padronizada: os dados, as aplicações, o sistema operacional, a(s) rede(s), o hardware e a gerência do sistema de informações. Cada um destes blocos pode ter (e normalmente é o que acontece) um ciclo de vida diferente de um outro bloco. Se o ciclo de vida da rede chegou ao ponto de reinvestimento numa nova rede, os outros blocos devem ser independentes. Dados, aplicações, sistema operacional e o hardware têm os seus ciclos de vida, que podem ou não ser coincidentes com o da rede.

A solução para este desafio é a adoção de sistemas abertos. Os sistemas abertos devem suportar interfaces padronizadas para seus principais elementos, permitindo que cada um evolua harmoniosamente, que haja independência entre hardware e sistema operacional e que haja preservação e proteção da base instalada, das aplicações do usuário e dos dados, a despeito dos diferentes ciclos de vida.

Os benefícios que obtemos a partir da adoção de sistemas abertos são, primeiro, a possibilidade de portabilidade de aplicações, segundo, interfaces para o usuário comuns, independente de plataformas e principalmente a habilidade de compartilhar informações entre quaisquer sistemas através de padrões de intercâmbio de dados e de comunicação.

Padrões OSI - Comunicação

Para interconexão como padrão de direito, existe o estabelecimento de OSI (Open Systems Interconection) - interconexão de sistemas abertos. A aderência ao estabelecimento destes padrões, estabelecida pelo governo federal para o Brasil como POSIG (Perfil OSI do Governo Brasileiro), garante a apropriação dos seguintes benefícios:

. Transparência das ações do setor público. Além de estabelecer e definir critérios para a descrição dos objetos a serem licitados, a adoção de padrões internacionais é transparente e incontestável.

. Preservação de investimentos. Conseguimos promover a substituição de "partes", sejam estas de hardware ou software, já que as interfaces estão padronizadas. Garantimos robustez da empresa e dos projetos da empresa em relação a mudanças tecnológicas.

. Independência do fornecedor. Não existe um fornecedor que seja melhor em todos os itens de informática necessários para suprir os requisitos da informatização do estado (hardware, telecomunicações, software, sistemas). Através da padronização das interfaces garantimos a possibilidade de podermos contar com os melhores fornecedores, cada um em sua área de especialização, pelos melhores preços.

. Tendência internacional. A empresa segue uma tendência internacional de perseguição de estabilidade de regras na informática.

GOSIP's

Estes padrões GOSIP's (Government OSI Profile) são especificações de comunicação de dados, e são aderentes ao modelo OSI. O objetivo de tais especificações é permitir a interoperabilidade de sistemas, servir de guia de compras e de dar orientações para o fornecedor na oferta de produtos futuros. O POSIG brasileiro faz parte dos GOSIP's e tem sua estratégia de introdução baseada no poder de compra do governo federal.

Maria Alexandra Cunha
Anotações livres de palestra ministrada por Paulo Botelho, Diretor da BRISA, em 15/04 no CITS.

CURIOSIDADE

Porque os Discos Rígidos que armazenam as informações nos computadores são chamados de "Winchester"?

Os primeiros Discos Rígidos ou Hard Disks, tinham duas faces com capacidade de 30 megabytes cada uma. Por isso os Hard Disks passaram a receber o código "3030". Por coincidência, o rifle Winchester também era chamado assim, porque utilizava balas de calibre 30.30. Não demorou muito para que a semelhança fosse notada e o apelido difundido (Fonte Intel).

Publicado na Revista Superinteressante - v.7, n.3, mar. 1993.
Autoria - Mario Jorge O. Tavares.