Pau que nasce torto...

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro

 

O ano é 1942. Alan Turing, um brilhante matemático trabalha no Birô de cifras do exército inglês. Era o líder de um grupo de pessoas cuja incumbência era decifrar o código enigma que havia sido bolado por um engenheiro elétrico alemão. O inventor criou uma empresa e vendeu mais de 30.000 máquinas enigma para as forças armadas do Eixo. A máquina é infernal, e quebrar este código era quase uma impossibilidade.

Mas se havia alguém capaz de tentar e conseguir era esse Turing. Ele já havia escrito um trabalho maravilhoso, ainda na década de 30, sobre computabilidade e decidibilidade. Tais termos são um jargão matemático, meio herméticos, mas em resumo, o que Turing fez foi projetar um computador, igual a este que uso para escrever este texto, ainda como um dispositivo matemático, portanto teórico, mas perfeitamente funcional.

Ele entendia também de engenharia e quando viu o tamanho da tarefa que tinha pela frente, imaginou um dispositivo que o ajudasse a pesquisar as quase infinitas combinações de códigos que os alemães estariam usando. Lembremos que a cada dia os alemães trocavam a regulagem da máquina e, portanto, a equipe de quebradores de códigos tinha menos de 24 horas para seu trabalho ter alguma valia.

Turing projetou e mandou construir um computador.Ficou pronto em 1943. No começo não funcionava direito, mas depois de algumas correções, ficou melhor que a encomenda. Ainda não tinha esse nome, era feio e desengonçado, ainda não tinha programação via software, mas não importa, era um computador. A dificuldade veio a seguir: como batizar a tralha?

Sem muito pensar ele a batizou de Heath Robinson.

Agora, vem a explicação. Heath Robinson era um chargista famoso na Inglaterra no começo do século XX. Ele desenhava as mais absurdas máquinas, com complexidade imensa, mesmo para fazer as tarefas mais triviais. Este nome ficou tão famoso, que os dicionários ingleses citam esse nome como adjetivo para coisas desnecessariamente complicadas.

Essa é a razão do nome deste artigo: pau que nasce torto, morre torto. Computador que nasce complicado, morrerá mais complicado ainda.

Veja algumas fotos do Heath Robinson (o computador de Turing) e duas máquinas desenhadas pelo chargista.

Referências

1. Inteligência artificial, um enfoque moderno de Stuart Russel.
2. SALE, T. The rebuild of Heath Robinson. Disponível em: <http:// www.codesandciphers.org.uk/virtualbp/hrob/hrrbld06.htm>. Acesso em: 30 out. 2003.

Figura 1. Heath Robinson

Figura 2. Heath Robinson

Figura 3. Descascador de batatas de Heath Robinson

Figura 4. Catador de pontas de cigarro de Heath Robinson