Queimar Árvores?

Autor: Hugo Eduardo Simião

Texto dedicado a todos aqueles que têm que apagar incêndios, sejam eles de florestas ou no seu dia-a-dia de trabalho, em qualquer organização, inclusive a nossa.

É lógico que nós não deixaríamos uma árvore ser queimada, se pudéssemos impedir. Ou deixaríamos?

Mas é exatamente isso que acontece quando se quer apagar um incêndio na floresta. É preciso que algumas pessoas se antecipem ao fogo e façam um aceiro (limpem uma faixa da floresta na direção em que as chamas vão avançar, para evitar sua propagação a partir daquele ponto). Geralmente, é só assim que um incêndio florestal de grandes proporções pode ser controlado.

É claro que essas pessoas que foram fazer o aceiro poderiam ter ficado ajudando as outras a apagar o fogo nas árvores. E menos árvores teriam sido queimadas. Será?

Depende! Se existirem recursos suficientes para atacar todos os focos de incêndio e eliminá-los rapidamente - MÃOS À OBRA! Mas se forem muitos os focos de incêndio, para cada árvore que salvamos mais duas ou três começam a queimar. E, ao final do trabalho, todos extenuados e certos de termos dispendido nosso melhor esforço, só temos a contemplar um rastro de cinzas, com algumas poucas árvores, das quais podemos dizer "orgulhosa-mente": - Essas, fui eu que salvei!

Esse, às vezes, é o melhor resultado que o esforço pode nos proporcionar, quando não fazemos a coisa certa. No entanto, frequentemente deixamos a sensatez de lado e nos atiramos ao trabalho com a limitada visão de quem só vê uma árvore em chamas. E não pensamos na floresta.

É lógico que existem pessoas valorosas, que são excelentes para combater o fogo diretamente. Essas pessoas sempre dão o máximo de si para enfrentar o inimigo imediato e se sentem gratificadas com cada árvore que conseguem, pessoalmente, salvar. E nenhuma organização que tenha incêndios a combater pode delas prescindir.

Entretanto, para que essas organizações possam ter êxito, seus líderes têm que pensar na floresta. Devem entender que é necessário dedicar parte dos seus recursos, do seu tempo, para fazer aceiros. É sempre doloroso ver uma árvore queimar. Também não faltarão as cobranças dos críticos e, principalmente, de nossa própria sensação de culpa de não estar fazendo "algo produtivo". É preciso coragem para enfrentar a situação e para "pagar o preço". Só assim a floresta terá alguma chance.

Quanto tempo temos dedicado a pensar na floresta? A tomar providências para que os pequenos incêndios do dia-a-dia não continuem indefinidamente? Ou estamos realizados, pessoal e profissionalmente, em poder dizer - Essas fui eu que salvei?