Ribamar e o ASP

Autor: Mário Leite

 

Quando eu trabalhava na ICOMI - Indústria e Comércio de Minérios Ltda - uma empresa mineradora de manganês do Amapá - (no distante ano de 1982), conheci o Ribamar -um maranhense-, não o ex-presidente, mas um jovem programador que, entre outras coisas, desenvolvia programas em Basica (uma das primeiras versões de Basic) e em Pascal, para micro- empresas de Macapá e região. Mas uma coisa sempre o chateava: vira-e-mexe (perdão, mas não encontrei uma expressão chique, em inglês) ele reclamava comigo que estava cansado de criar as mesmas aplicações para pessoas diferentes; e além do mais, tinha sempre de negociar os preços, pois cada cliente seu achava que seus programas eram muito caros! (cerca de R$ 500,00 em dinheiro atual). Um dia ele me disse que sonhava fazer com que todos os seus clientes pudessem usar, ao mesmo tempo, seus programas; assim, poderia se livrar da torturante via crucis de ter de instalar o programa - usando funções especialmente criadas para isso -, treinar usuários, dar manutenção em cada aplicação de cada cliente e, além de tudo, proteger seus programas com o indefectível C (ele odiava essa linguagem). Isto, colocado modernamente, é dizer que já naquela época o Riba pensava em hospedar suas aplicações em apenas um "local", onde todos os clientes pudessem usá-las, sem precisar comprar cópias delas, apenas pagando uma taxa pelo uso e nada mais. E como testemunha ocular dessa história, posso dizer que o meu amigo Ribamar foi quem me deu o primeiro exemplo prático, e didático, de ASP.

Todos nós já percebemos que a evolução da Internet é algo fantástico, maravilhoso, e ao mesmo tempo ameaçador. Ameaçador para as empresas que, tendo de "entrar" nessa rede mundial, para não ser engolido pela concorrência, necessitam de projetos que não raramente são desenhados, criados e implementados muito rapidamente, resultando em prejuízos a médio e curto prazo. Isto devido às suas necessidades de Tecnologias de Informação (TI) que, muitas vezes, não são totalmente satisfeitas com esses projetos apressados. No caso das pequenas e médias empresas (PME) a coisa é ainda mais complicada, uma vez que nas empresas desses portes (notadamente nas pequenas e mais ainda, nas micros) existem problemas estruturais e culturais difíceis de serem sanados, no sentido de se ter um novo posicionamento com relação à expressão "estar on line".

A expressão "estar on line" na rede mundial de computadores é um fato concreto e necessário para as empresas, mesmo para as PME; mas como fazê-lo, de modo a não comprometer em muito o orçamento??! Muitas delas estão presentes na Internet de maneira um tanto quanto primária: com suas páginas (até bem feitas) fazendo propaganda de seus produtos no chamado comércio eletrônico. Entretanto, em termos mais globais, para aproveitar todas as TI's disponíveis, a maioria das PME não pode, ainda, desfrutar plenamente dos serviços na Internet por absoluta falta de infra-estrutura adequada e necessária aos padrões da rede mundial. Desse modo, "estar on line", realmente, não basta ter um site incrementado com applets animados, escritos em Java, à duras penas, por algum "Ribamar" do setor de informática da empresa. É muito mais; envolve, não só procedimentos internos quanto externos à organização. Isto quer dizer que as empresas, atualmente, também necessitam de sistemas (pessoas-processos-tecnologias-estratégias) externos a elas para se dar bem no mundo globalizado. Estou falando de parcerias, o que antigamente soava meio estranho, induzindo os empresários a pensar que estariam trabalhando com concorrentes; esta é uma condição absolutamente necessária para a sobrevivência das empresas no mundo moderno: ter parceiros.

Uma das modalidades mais recente de aproximar empresas numa parceria é o modelo ASP (não confundir com aquela tecnologia de criação de páginas na Internet que também é conhecida pela sigla ASP: Active Serve Pages, da Microsoft). O ASP aqui tratado são as iniciais em inglês para Application Service Provider, que em bom português pode ser traduzido para: provedor de serviços de aplicação, o que pode gerar, basicamente, duas interpretações. Primeira: o p da sigla significa provider (provedor); aquele que disponibiliza os serviços (service). Sendo assim, ASP é interpretado como sendo uma empresa que disponibiliza esses serviços. Segunda: ASP também pode ser considerado um novo modelo de solução na Internet, o que o coloca como algo muito mais abrangente, não apenas como uma ferramenta de processar aplicações para vários clientes. De qualquer forma, ASP é como se fosse uma volta moderna aos tempos da terceirização, porém, de modo que as empresas possam obter soluções, executando aplicações em qualquer parte do mundo, a qualquer hora, todos os dias do ano; ou como dizem os mais sofisticados: 24x7x365. Sem a preocupação de rótulos, ASP oferece soluções reais para as empresas que delas necessitam para agilizar seus negócios, executando seus processos intermediários, e liberando-as para se dedicar mais objetivamente às suas atividades-fim. Usando uma linguagem mais didática, podemos comparar o ASP a um banco que oferece vários tipos de serviços a seus clientes. Neste caso, as Aplicações (conta corrente, poupança, seguros, cheque especial, etc.) caracterizam os Serviços oferecidos pelo Provedor (banco), onde os clientes só pagam pelas aplicações que utilizam, e não por todos os serviços. Assim, um cliente não precisa ser dono de um banco para ter um cheque especial, e nem se preocupar com as atualizações de sua conta corrente; isto é responsabilidade do banco.

Quanto às empresas clientes, as que mais deveriam usufruir desse modelo são as PME, visto que são elas as responsáveis por mais de 85% da geração de empregos no país, além de ser as que mais pagam impostos. Este argumento, apesar de muitas vezes ser negligenciado por alguns e-articulistas, deveria ser sempre considerado quando se fala de empresas brasileiras. Todavia, a adesão a esse modelo de processamento de aplicações por parte de uma empresa desse porte (mais especificamente as pequenas) é algo ainda muito difícil. Muitos já escreveram a respeito dos fatores cultural, estrutural, familiar, método de gestão, etc., que impedem essas empresas de se modernizarem. Mas a verdade, neste caso do ASP (e tudo que envolva a Internet), é uma só: o receio de disponibilizar seus dados confidenciais a estranhos. Sim, para uma empresa de pequeno porte, um ASP (considerando agora como sendo a empresa provedora dos serviços) e todos os clientes que usam suas aplicações são estranhos e, portanto, sujeitos a desconfianças. Esta situação é de difícil solução, pois a empresa cliente em potencial está coberta de razão. A segurança total na Internet ainda é um grande desafio para todos. Como convencer o gerente de uma pequena empresa de que o provedor vai manter seus dados totalmente seguros? O Ribamar conseguia fazer com que seus programas fosses seguros e à prova de cópias piratas nos disquetes de 360 Kb, desenvolvendo funções escritas em C. Todavia, no caso da Internet, a coisa é muito mais complicada; além do mais, os clientes não são proprietários das aplicações, apenas pagam para usá-las. Esta questão da segurança é o "calcanhar de Aquiles" para todas as aplicações que rodam via Internet; e em particular para o ASP, é ponto chave para que seja adotado pela maioria das empresas brasileiras. Uma "solução Rimabar" está longe de ser a ideal, mas os desenvolvedores de softwares relacionados ao armazenamento de dados (e dos responsáveis pelo Data Center) devem pensar seriamente sobre isto, para que ASP não seja mais uma buzzword a aparecer no mundo WEB, e sim uma solução segura que pode ser oferecida, sem medos, a todas as empresas.