Serviços de Rede: Tecnologia a serviço da integração entre Governo e Cidadão

A edição do Bate Byte deste mês traz uma entrevista com Armando Rech Filho, Gerente de Serviços de Rede da CELEPAR. Com seus 29 anos de vivência, na empresa, nos fala da infra-estrutura de serviços de rede, parte fundamental da arquitetura de tecnologia da informação que o estado dispõe para a integração das ações da sua estrutura administrativa e para a aproximação cada vez maior com o cidadão, prestando um serviço de grande qualidade.

 

BB - Qual a sua formação acadêmica?

 

Sou Engenheiro Eletrotécnico formado em 1973 pela UFPr, tendo iniciado na UFRGS. Depois de 20 anos retornei à escola e em 1996 obtive o título de mestre em Telemática no CEFET-Pr. Desde maio deste ano participo de um programa de doutorado em Gestão de Negócios na FAE/CDE, ministrado pela UFSC.

 

BB - Quais os eventos mais significativos que marcam a sua participação e como você vê a sua carreira ao longo dos 29 anos na CELEPAR?

 

A CELEPAR sempre esteve na vanguarda tecnológica comparando com o mercado. Em muitas atividades desenvolvidas, tive a oportunidade de estar à frente de grande parte das mudanças tecnológicas introduzidas ao longo destes anos. O desenvolvimento do primeiro grande sistema em banco de dados, o SIP-Sistema Integrado de Pessoal, ainda na década de 70, dos primeiros estudos sobre sistemas distribuídos e a introdução da microinformática e das redes locais nos órgãos do Estado, a implantação de vários estágios de tecnologia na rede de comunicação de dados. A rede urbana de alta velocidade em fibra óptica a 155 Mbps em tecnologia ATM, em 1994, foi uma das primeiras do Brasil. O projeto da Rede Integrada do Governo, desenvolvido há 10 anos, tem gerado economia significativa para o Estado. Mais recentemente o Notes, revolucionando o processo de comunicação no Estado e, logo nos primórdios da Internet, a criação do provedor e de um portal integrado para o governo, o www.pr.gov.br. Tenho representado a CELEPAR em fóruns e organizações externas como Abep, Anatel, Brisa, onde atualmente sou presidente do Conselho Diretor. Participei também da equipe que desenvolveu o II Plano Nacional de Informática. Em cada etapa da minha carreira, tenho encarado sempre um novo desafio, que tem trazido a motivação necessária para o crescimento e a realização profissional. Fazer parte da história da CELEPAR tem sido uma experiência muito gratificante.

 

BB - A Internet no Governo do Estado começou praticamente com a Internet no Brasil. É isto mesmo?

 

Sim, esta é uma das manifestações de vanguarda a que me referi. Um fato que poucas pessoas conhecem é que quando a RNP-Rede Nacional de Pesquisa montou o primeiro backbone Internet no Brasil, criando os POPs em vários estados, o do Paraná foi na CELEPAR. Na época fizemos um trabalho em conjunto com universidades e centros de pesquisa para implementação da infra-estrutura de acesso ao backbone, que na época era suportado por duas conexões de 9,6 Kbps. Mais tarde este POP foi migrado para a UFPr e com a rica experiência adquirida criamos então o provedor para o Governo do Estado.

BB - Como você estabelece a relação entre o uso atual das estruturas de processamento distribuídas no Estado com o "programa de microinformática" de 15 anos atrás?

 

A tendência irreversível da criação dos ambientes distribuídos foi percebida a tempo de se desenvolver o necessário preparo da CELEPAR e do Governo para esta revolução. Encaramos com inteligência um projeto que para muitos na época representava uma ameaça à sobrevivência das estruturas centralizadas. Em que pese o processo de abertura ter exigido mudanças de postura dentro da organização, esta fase foi superada sem traumas e hoje temos uma estrutura de processamento onde convivem toda a sorte de ambientes absolutamente integrados, formando o que denominamos de Rede Corporativa do Governo. A estratégia, adotada desde então, presume a análise de cada projeto onde se avalia para cada aplicação o seu plano de distribuição.

 

BB - Com a Internet não está voltando o conceito de ambientes centralizados?

 

Se analisarmos conceitualmente, é claro que os recursos hoje são outros, os ambientes de servidores Web espelham o que foram os ambientes centralizados do passado. Os próprios ambientes de mainframe, com um papel reservado para as aplicações corporativas, constituem hoje em muitas organizações, como ocorre no Estado do Paraná, no grande servidor das aplicações Internet. Volumosos investimentos têm sido realizados no mercado para o fornecimento de serviços de Internet Data Center, que nada mais são do que estruturas centralizadas de servidores para Internet. A CELEPAR já possui há mais de três anos, serviços de IDC para os órgãos do Governo com mais de 30 servidores instalados. Questões fortemente vinculadas à segurança, cuja gestão se torna cada vez mais complexa e onerosa, e custos de infra-estrutura têm motivado esta tendência de retorno à centralização.

 

BB - Muitos usuários se queixam do tempo de resposta na Internet. Como a CELEPAR tem encarado esta questão?

 

A Internet tem se constituído em um sumidouro de recursos para muitas organizações e para o Estado não é diferente. Não só de capacidade de acesso, como principalmente do tempo das pessoas no trabalho. Ao mesmo tempo em que é uma grande fonte de informação para a realização do trabalho de todos nós, não se pode negar que também é uma grande fonte de lixo, além do que muito se tem investido em entretenimento. Cada ampliação que temos realizado nos acessos é rapidamente consumida pelos usuários e assim continuando vamos rapidamente atingir valores astronômicos de velocidade e de dinheiro, cujo retorno precisa começar a ser questionado. Na minha visão, é necessário que se estabeleçam controles e limitação no uso e, em paralelo, buscar um ciclo de implementação menor, pois a recente ampliação de 4 para 10 megabits por segundo foi de quase um ano.

 

BB - O que mais a CELEPAR tem investido na infra-estrutura de serviços Internet?

 

A ampliação para 10 Mbps está sendo realizada em conjunto com a transformação do ambiente de acesso em Autonomous System, o que possibilita a divisão do acesso por dois caminhos distintos, através de um sistema de roteamento de alta capacidade. Além disso, também foi realizada a dualização com balanceamento de carga no sistema de firewall, mecanismo que define as regras da inter-relação com a Internet, e implementados switches redundantes de alta velocidade. Para o ambiente de aplicações Internet foram instalados novos servidores Web, também com sistema de redundância e balanceamento de carga. Novos investimentos estão sendo agora realizados na ampliação do sistema de segurança de acesso. Com esta nova infra-estrutura a CELEPAR cria condições para prestar um serviço de alta performance e disponibilidade para os órgãos do Estado e para o cidadão que acessa serviços públicos pela Internet.

 

BB - Quais são os números atuais da Rede Corporativa do Governo?


 

 

Na busca de informações do governo pelo cidadão, o portal e-Paraná recebe mais de 4 milhões de acessos por mês para seus 1200 serviços.

 


 

A rede se estende hoje por 155 municípios no Paraná, perfazendo um número superior a 950 acessos, com mais da metade na tecnologia Frame Relay, para onde estão sendo migrados os acessos da antiga rede X.25. Na RAV, a rede urbana de alta velocidade, estão hoje conectadas 35 redes locais. Em termos de usuários identificados na rede os números são da ordem de 11.200 no Notes, um número semelhante na Internet e em torno de 8.000 que acessam mainframe emulando terminal. O número de usuários efetivos da Internet é muito maior porque muitos acessos são realizados de forma não identificada. Na busca de informações do governo pelo cidadão, o portal e-Paraná recebe mais de 4 milhões de acessos por mês para seus 1200 serviços.

 

BB - Existem planos para ampliação da RAV?

 

O projeto já está pronto, dependendo exclusivamente de recursos para sua implementação. Hoje a RAV interliga 9 prédios no Centro Cívico e o complexo de Santa Cândida. A próxima fase prevê a instalação de mais 5 acessos estrategicamente distribuídos em Curitiba, formando um backbone de 15 pontos em tecnologia gigabit ethernet, tudo em fibra óptica. Esperamos implantá-lo no próximo semestre. Na fase seguinte, serão providas as interligações dos prédios que se encontram nas redondezas de cada um destes pontos, onde poderemos chegar a mais de 60 redes de órgãos interconectadas como se fossem uma grande rede local.

 

BB - Os efeitos da privatização das telecomunicações já se fazem sentir no mercado?

 

Após três anos de vigência do novo modelo, minha expectativa era responder esta questão com um entusiasmado aceno positivo. Percebe-se alguma redução nos valores, talvez acentuando um pouco o que a CELEPAR já vinha obtendo na gestão da rede integrada, mas ainda é muito pouco. As operadoras passaram por grandes ajustes organizacionais, o que trouxe como conseqüência uma queda na qualidade dos serviços, e o atendimento ao cliente ainda guarda muitos dos vícios do monopólio. Tem muito espaço para melhorar. Com a nova abertura a partir do próximo ano, vem uma nova onda de transformações pois, na minha avaliação, não há mercado para a quantidade de empresas e de infra-estrutura que estão se instalando. Acredito que os benefícios somente virão quando o mercado estabilizar, o que pode demorar ainda pelo menos dois anos.

 

BB - Quais os próximos grandes passos a nível de tecnologia de redes?

 

O grande passo é o que o mercado está chamando de redes convergentes, com a integração de todos os recursos de comunicação, sejam dados, vídeo, voz sobre uma única infra-estrutura de rede baseada no protocolo IP, que é o protocolo da Internet. A telefonia simples vai reduzir drasticamente, a voz transforma-se em dados e passa a integrar-se às aplicações convencionais, o que vai gerar uma economia significativa e uma capacidade muito grande de ampliação e integração de serviços. Dados preliminares do projeto da utilização da rede de dados do governo do Paraná para transportar as ligações telefônicas entre os órgãos, apontam para um ganho líquido de no mínimo 20% sobre os valores atuais. Este será o grande projeto para o ano de 2002.

 

BB - Qual a sua visão sobre gerência de redes corporativas, tema de sua dissertação do mestrado?

 

Gerência de redes corporativas só faz sentido se estiver orientada para o negócio da organização, onde é preciso que se agregue em torno de um ponto único de gestão, as informações de comportamento de todos os elementos da tecnologia da informação, dos quais as aplicações que suportam os negócios dependem. Além dos elementos de rede, é necessário que se acrescente à estrutura de gerenciamento também os servidores, os sistemas de bancos de dados, recursos de suporte e a própria aplicação. Se um elo da cadeia estiver fora, a visão quanto aos impactos do comportamento da arquitetura de TI sobre um determinado negócio vai ser sempre parcial. Por ser um conceito ainda muito novo no mercado, este é outro projeto de impacto que vamos viabilizar no próximo ano.

 

BB - E sobre segurança?

 


 

Implementar políticas de segurança implica em colocar barreiras, restrições à liberdade que os indivíduos têm no acesso à rede, gera sentimento de perda.

 


 

A CELEPAR tem investido no desenvolvimento de uma política de segurança mas a sua implementação na rede corporativa não tem sido realizada com a velocidade que as mudanças no contexto de tecnologia da informação tem requerido. E este comportamento não foge muito do perfil do mercado. Como na maioria das organizações, temos uma proteção muito forte na porta de entrada da Internet, o grande vilão, mas estatísticas demonstram que a maior parte das violações de segurança provém de dentro da própria rede. Implementar políticas de segurança implica em colocar barreiras, restrições à liberdade que os indivíduos têm no acesso à rede, gera sentimento de perda. Em que pese as dificuldades, entendo que alavancar a implementação de políticas e mecanismos de segurança é uma das principais questões sobre a qual temos que trabalhar, antes que seja tarde.

 

BB - Como você vê a dependência dos negócios das organizações em relação à infra-estrutura de TI?

 

Hoje esta dependência já é muito grande de uma forma geral, sendo absolutamente fatal para muitas áreas de negócio, principalmente nas mais competitivas. No próprio Estado existem algumas áreas onde serviços ao cidadão param totalmente quando ocorre alguma indisponibilidade, o que vai aumentar de forma significativa com a ampliação dos serviços no e-Paraná. Por esta razão, o gerenciamento na forma que me referi anteriormente é fundamental para o sucesso das organizações.

 

BB - Esta dependência é a razão da existência de toda esta parafernália tecnológica com a qual convivemos na CELEPAR?

 


 

Ajudar o Estado a transformar os seus processos na busca desta excelência, é a grande missão da CELEPAR

 


 

Pensar em áreas de negócio no governo é pensar na prestação dos serviços públicos. Não faz sentido todo o investimento em infra-estrutura de tecnologia da informação se esta não trouxer como retorno a excelência do serviço público e o conforto do cidadão. Ajudar o Estado a transformar os seus processos na busca desta excelência, é a grande missão da CELEPAR e por esta razão, para este suporte, temos obrigação de respirar tecnologia 24 horas por dia.