Software

Resenhador: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro

Muito se tem falado sobre a dependência das modernas sociedades em relação aos sistemas automatizados. Há uns 10 anos circulou entre nós um livrinho (o diminutivo não é desmerecedor. É que o livro era pequeno mesmo), que tratava de uma guerra entre as superpotências da época, tudo por causa de um vírus de programa.

A seguir, um resumo do livro, que se chamava SOFTWAR. Se você pretende lê-lo, não leia o resumo. Aqui, ao contrário dos resenhistas consagrados, o fim do livro é contado com todas as letras. Embora o pano de fundo do livro (a corrida armamentista entre URSS e EUA) já tenha se desvanecido, o livro pode ser lido como um romance, com ares de verdade para aqueles que são fanáticos por computadores.

Os franceses desenvolvem o software para um sistema de previsão meteorológica, e que roda em um supercomputador Gray (Cray). Os soviéticos manifestam o desejo de adquirir o conjunto (hardware+software). Os franceses gostam da idéia, pois ganharão um bom dinheiro, e migrarão para um CRAY II. Entretanto, uma cláusula no contrato original, obriga os franceses a consultar os americanos antes de efetuar a venda.

Os americanos não se opõe, desde que eles tenham a possibilidade de "revisar" o software francês, e se certificar de que não há nenhum segredo militar no programa. Na "verificação", o que eles fazem realmente é colocar um vírus que quando ativado, ordenará ao computador fazer loucuras.

O programador do vírus é um professor universitário americano, que teve um caso com uma estudante de informática soviética, há 10 anos. Coincidentemente (?) a estudante soviética agora é a diretora do programa russo de informatização, e é quem vai receber o computador Cray. Coincidentemente também, a soviética tem uma filha de pai "desconhecido" e que tem 10 anos.

O sistema meteorológico se liga a uma rede mundial de recepção, análise e distribuição de dados sobre clima. O gatilho do vírus é a informação de que a pressão barométrica sobre a ilha de Santo Tomás (no caribe) é de 1029 milibares. O posto de meteorologia da ilha, que é americano, recebe ordens severas de jamais alimentar a rede mundial de computadores com esta pressão. Quando ela ocorresse, deveria ser informado 1030 milibares. O gatilho é desarmado quando a pressão de 1028 milibares sobre a ilha é informada.

O único defeito deste vírus é que ele só pode ser detonado quando as condições climáticas reais se aproximam dos valores de gatilho, a fim de que ninguém desconfie.

Um dia o vírus é experimentado, e os soviéticos se veem em palpos de aranha. Um brilhante programador russo fica intrigado - não com o erro - mas com o súbito desaparecimento do bug, e resolve começar a investigar o sistema meteorológico. Ele liga um TRACE e depois de algum tempo analisa quais os caminhos do programa que nunca ou quase nunca são percorridos. Na teoria dele, é aí que está o vírus.

Acertou na mosca, mas logo após comunicar à sua chefe sua descoberta, ele desaparece seqüestrado pela KGB.

O sucesso da experiência anima os americanos a lançar a segunda fase da softwar: Um novo vírus, revendido através de um software de controle de redes de comunicação originalmente desenvolvido na Índia, e que os soviéticos estão secretamente adquirindo.

Enquanto isso, a mocinha da história, começa a pensar porque a KGB teria dado um sumiço em seu assistente. Desconfiada, ela começa a investigar todos os computadores da rede soviética e verifica que em todos houve uma "manutenção" da KGB que colocou em cada um, uma ROM que será ativada quando uma palavra chave for fornecida à rede de computadores. Quando o firmware começar a funcionar, ele deixará inativo o computador.

O fato dos russos terem infectado sua própria rede, se explica pela luta de facções no Kremlin: é a época do fim de Yuri Andropov (e do seu eficiente assistente: Mikail Gorbachev) e do seu sucessor: Konstantin Tchernenko.

Relembrando, enquanto Andropov lutava pela modernização da sociedade, Tchernenko era contrário a essa modernização, e não queria saber nada de computadores.

A história prossegue, e logo após a heroina descobrir a sabotagem soviética, ela vai a uma conferência de FDT (fluxo de dados transfronteiras), levando a filha, e onde é claro se encontra o professor americano.

Mil rolos, e a filha é raptada. Ameaças de guerra nuclear, confusões, todo mundo procurando a menina, e ela havia ido se refugiar no quarto de hotel do pai dela, sem que ninguém se apercebesse disso.

No acerto final entre os dois (o mocinho e a mocinha), este lhe implora a palavra chave da KGB que detonaria o virus soviético, e ela como boa russa, desconfiada de americanos (ainda que seja o mocinho) recusa.

Na última página, ele vai se despedir das duas (mãe e filha) no aeroporto, e enquanto a mãe passa soberana, sem sequer lhe dirigir a vista, a menina corre para abraçá-lo e dizer-lhe ao ouvido, um segredo da mãe: a palavra chave.