Tecnocracias Doutrináticas

 Autor: Frediani Bartel - GPS   

Geralmente, qualquer texto que aborda o tema tecnocracia, faz referências às políticas econômicas adotadas no período da ditadura militar. Mas não é objetivo deste artigo fazer uma análise da situação econômica nacional.

A tecnocracia pode ser definida como o sistema político e social em que os técnicos exercem influências preponderantes. A partir deste conceito não há dúvidas de que entidades envolvidas com a computação sejam um ambiente propício para a tecnocracia. Vamos analisar estas assertivas.

A Computação é uma ciência e existem três grupos distintos de ciências. A saber:

1. Ciências formais, como a Matemática e a Lógica, que são constituídas por sistemas formais. Um sistema formal é uma realidade de ordem ideal. As ciências formais operam com objetos, claramente representados, criados pela mente. Por exemplo, os números na matemática.

2. Ciências empírico-formais, como a Física, Química e outras. São as ciências que remetem à experiência empírica, visam o mundo físico, ao mesmo tempo que se utilizam de um aparelho teórico fornecido pelas ciências formais.

3. Ciências hermenêuticas, as chamadas ciências humanas, como a Sociologia, a História e o Direito. Estas ciências utilizam-se do formalismo e da experiência que estão presentes nos outros dois grupos, mas acrescentam algo mais: significação e valores humanos aos elementos de natureza quantitativa. A significação se revela através de um processo de interpretação. Por exemplo, uma taxa de crescimento populacional negativa (que é um dado empírico-formal), pode significar para o pesquisador, analisando-se as circunstâncias de vida social, a desconfiança daquela população em relação ao futuro. Noutras palavras, isso pode significar que ninguém quer ter filhos pois não vê perspectivas de uma vida melhor para eles.

A Ciência da Computação, pela sua natureza, é uma ciência empírico-formal e está mais próxima do grupo das ciências formais do que das ciências hermenêuticas.

Mas o que tudo isto tem a ver com tecnocracia? Muito, doutores! Muito!

Observa-se, com espanto, o comportamento de alguns profissionais e estudiosos da área de computação, ao enaltecerem um software ou outro, baseado em raciocínios simplistas como: este sistema operacional é melhor do que aquele, pois o algoritmo de escalonamento de processos na CPU é tecnicamente melhor. Ou então, este software é melhor, porque foi desenvolvido por PhD`s, e aquele outro por técnicos que visavam mais o lucro no mercado.

Neste tipo de raciocínio prevalece o conhecimento científico formal e, na melhor das hipóteses, o empírico-formal. Enfim, a tecnocracia está instaurada. Ignoram-se todos os outros elementos significativos como, por exemplo, o fato de que o usuário brasileiro prefere utilizar um programa (não um software) e ler a Ajuda (não o Help) em português bem claro.

Algumas empresas insistiram na tecnocracia. Alguém formulou algum dogma e a tecnocracia passou a ser uma tecnocracia doutrinária. Aquele dogma tinha que prevalecer. Cite-se de exemplo grandes produtores de softwares que subestimaram a interface gráfica. Diziam eles que o ambiente gráfico consome recursos de hardware desnecessariamente, e que o usuário estava mais interessado na funcionalidade do que na boa aparência visual de um programa. Pois bem, faça um teste. Coloque um XT, com telas no modo texto, e um PC multimídia, com um ambiente gráfico na frente de uma criança e observe qual microcomputador ela vai preferir usar. E, por favor, não tente explicar isto somente com fórmulas matemáticas e experiências.

Ao conversar com pessoas que há mais tempo trabalham na área de computação, elas citarão inúmeros exemplos. Lembrar-se-ão de empresas, softwares, linguagens computacionais que tecnicamente eram melhores, mas não sobreviveram nem na lembrança de muitos profissionais. E ao revés, softwares que tecnicamente eram aparentemente péssimos, estão aí até hoje, fortes e saudáveis.

Este artigo é, acima de tudo, um alerta aos profissionais da área de computação que insistem e enaltecem demasiadamente determinada tecnologia. Alguns chegam a transformar esta ou aquela tecnologia em questão de honra pessoal. Felizmente, são minoria no mundo da computação.

As ciências formais e empírico-formais são neutras. As verdades delas são isentas de conteúdo axiológico (elas não contêm um juízo de valores humanos). Mas as pessoas, inevitavelmente, atribuem valores humanos a tudo. Qualquer coisa, aos olhos humanos, é bonita ou feia, é divertida ou deprimente, é boa ou ruim. É inerente ao ser humano este juízo de valores.

Um software, ao ser lançado no mercado, está sujeito a esta apreciação humana e não somente à apreciação puramente técnica. Talvez isto explique porque muitos softwares foram rejeitados pelos seus usuários.

Ao tomar uma decisão, utilize-se do formalismo e da experiência, mas não esqueça de interpretar, também, o significado de algum dado técnico e fazer, mesmo que brevemente, um juízo dos valores humanos envolvidos.

Merece Destaque:

Em 30 de julho, Edna Pacheco Zanlorenci, Analista de Informática da CELEPAR há 21 anos, apresentou a defesa de dissertação de Mestrado do Curso de Pós-graduação em Informática Aplicada, realizado pela PUC/PR, obtendo nota máxima. O seu trabalho foi muito elogiado pela banca de professores.

Vale ressaltar que o resultado é ainda mais valorizado em virtude da composição desta banca. Participaram dela, além do Prof. Robert Carlisle Burnett e Prof. Alcides Calsavara da PUC-PR, possivelmente os mais renomados doutores, a nível de Brasil, na área de Engenharia de Requisitos, onde se inserem as pesquisas da Edna, são eles: o Prof. Júlio César do Prado Sampaio Leite (PUC-Rio), Prof. Francisco A. C. Pinheiro (Universidade de Brasília) e prof. Jaelson F. B. de Castro (Universidade Federal de Pernambuco).

O tema da dissertação foi "Descrição e Qualificação de Requisitos: Um Modelo Aplicável à Análise e Validação da Informação".

A ênfase do trabalho está num assunto que sempre foi importante em informática, e hoje é mais que importante, é fundamental: o estudo e descrição de requisitos.

É a tal história: quem tem um bom projeto, vai à Roma.