Um olhar atento, um sorriso, um abraço. É a CELEPAR mais perto da comunidade

Autor:Eloir José Sbalqueiro - ASCOM

Entre idas e vindas, não conseguiria identificar a quantidade de quilômetros que rodamos dentro do Estado do Paraná nestes três meses de interiorização do Programa CELEPAR na Comunidade. Mas de uma coisa tenho certeza, o número não deve ser nada desprezível.

O cenário em termos de espaço físico era praticamente o mesmo. Um laboratório de informática de uma escola pertencente à rede estadual de ensino, exceto em uma única vez que foi num colégio particular.

Escrevendo assim, parece que não havia molho, e que tudo não passou de uma mera repetição. Ledo engano. O condimento foi o principal fator. Até dava a impressão que tinha sido preparado pelas hábeis mãos de mestres cozinheiros.

Em cada cidade um clima, uma história, uma preocupação diferente, enfim... Mas o fator comum em todas, e estaria cometendo uma grande injustiça se contasse a história de forma diferente, foi o calor humano.

Só quem esteve lá pode saber o que é isso. A forma como a CELEPAR foi recebida merece destaque. Todos, do prefeito ao mais humilde cidadão, que tiveram contato com o treinamento interativo "Despertar para a Informática", muitas vezes não tinham palavras para agradecer o nosso trabalho.


Não tem preço que pague o fato de você ver alguém com os olhos brilhando de alegria e emoção pelo primeiro contato com o computador e a Internet. Por mais que o treinamento seja condicionado em cima de hardware, o fator humano estava presente de maneira muito forte.


Enquanto escrevo e as imagens das nossas andanças afloram, a saudade parece que aumenta. Saudade pelos amigos que fizemos, saudade pela simplicidade das pessoas, saudade pelo povo querido e hospitaleiro, saudade pelo povo que primeiro acredita para depois desconfiar. Saudade de um povo, podem acreditar, ainda puro de coração.

Em todas as minhas intervenções sempre deixei claro que eles nunca perdessem esse calor humano, essa maneira querida de ver a vida e de viver. Esse jeito honesto e simples de ser, fatores, que convenhamos, regra geral, há muito tempo não habitam as grandes cidades.

Não interpretem como um tom de desabafo, mas apenas de constatação, de quem se intitula aprendiz de observador social. Neste sentido, me considero um espectador privilegiado, pois participei das sete etapas dos treinamentos ministrados até este momento no interior do Estado, desde os contatos iniciais, até a festa de encerramento.

SEM SAPATOS

Era assim que encontrávamos a Beth, instrutora dos treinamentos, dentro da sala de aula do Colégio Dynâmica, em Jacarezinho. O calor era intenso. Um detalhe: na sala, não havia ar condicionado e os ventiladores foram superados pela alta temperatura ambiente. De pés inchados, não lhe restou outra alternativa a não ser ficar descalça.

Para quem não sabe, Jacarezinho, cidade no Norte Pioneiro que faz divisa com São Paulo, possui a temperatura média anual mais alta do Paraná. Mesmo em março, o termômetro passava dos 35 graus C.

Não teve um outro treinamento neste primeiro semestre de 2001 onde a equipe da CELEPAR suou tanto a camisa como naquele. E diga-se de passagem, mais de uma camisa por dia.


ALFABETIZAÇÃO

Em Andirá, também no Norte Pioneiro, tivemos a nossa primeira experiência com o pessoal da chamada terceira idade, ou, como alguns preferem designar, da melhor idade. O interessante é que muitos destes senhores estavam participando do curso de alfabetização no município.

Este foi o caso do casal Suzana Barbosa Dias (51) e Sebastião Alves Dias (57), pessoas que além de estarem iniciando no campo do be-a-bá, puderam, pela primeira vez na vida, ter contato com o computador. Era como se você estivesse ensinando a escrever. Só que em vez do lápis e do papel, era o mouse, o teclado e a tela do computador. Na realidade, o instrutor ou o monitor necessitava pegar na mão para mostrar como se manipula um mouse.


Uma história até comum, se não fosse o fato deles gostarem tanto que deixaram as três horas do treinamento com a certeza de que iriam comprar um computador, "se Deus quiser". E no final da aula fomos até "ameaçados". "Se vocês não forem tomar café lá em casa antes de irem embora, vamos ficar de mal com vocês".

Muito obrigados aos Dias. Podem ter certeza, aprendemos mais com vocês do que vocês conosco. Vocês possuem a sabedoria da vida.

CAFÉ COUNTRY

Em cada encerramento do treinamento, é realizada uma festa de confraternização entre os alunos e seus familiares, onde, simbolicamente, acontece a cerimônia de entrega dos certificados. Em Iporã, no Noroeste do Estado, não foi diferente.

A prefeita Cidinha resolveu fazer uma festa country. E lá fomos nós comer pamonha, bolo de milho, bolo de fubá, tomando café com leite e chá. Na entrada do salão da Igreja Matriz, uma carroça com produtos típicos da região, enfeitava o ambiente.

Exceto em Irati, onde não houve coquetel, nas demais cidades a parte dos comes e bebes ficou por conta dos salgadinhos com refrigerante. Mesmo sendo o mês de maio, aquele encerramento me lembrou o tempo em que participava de festas juninas na escola.

FESTA DO FEIJÃO

Ao contrário de Jacarezinho, em Irati o treinamento que ocorreu em maio, foi ministrado num período de muito frio. Lembro que o Álvaro da Secretaria de Estado da Integração Regional chegava a reclamar que estava com o pé congelado. Fiquem tranqüilos, ele sobreviveu.

Frio à parte, o que vimos foi um trabalho intenso, principalmente na sexta-feira, dia do encerramento - os treinamentos acontecem de segunda a sexta-feira. Vê-se uma coisa, vê-se outra e no final, mais uma vez o esforço é recompensado. Tudo certo.

E eu até costumo brincar que foi a festa do feijão. No sorteio que realizamos junto aos alunos que participam do Programa CELEPAR na Comunidade, os supermercados daquela cidade doaram uma série de sacos de um quilo de feijão. Se de um lado não teve o coquetel, do outro muita gente acabou levando feijão para casa.

MAIS DE UM

Regra geral, o treinamento é ministrado por um instrutor fixo que passa a semana no local onde o programa está sendo desenvolvido. Em Contenda, como é um município que pertence à Grande Curitiba, e, portanto, está próximo da CELEPAR, mudamos a sistemática.

Foi um treinamento de muitos instrutores. Tivemos turmas nos três períodos, manhã, tarde e noite. Em cada etapa, mudavam as pessoas. Qual foi a idéia? Permitir a maior participação dos funcionários da CELEPAR no programa.

Possivelmente, Contenda abrigou o maior número de alunos oriundos de escolas rurais.

UM BATALHÃO

O último treinamento do primeiro semestre deste ano aconteceu em Chopinzinho, no Sudoeste do Estado. Região de muitos italianos, alemães e de forte colonização gaúcha.


Aí, mais uma vez ousamos. Saímos da média de 40 alunos por turma para 60. Este aumento de 50% foi motivado pela quantidade de máquinas existentes no laboratório: 30. Dois alunos por computador.

A Bete, o Sérgio, o Lima e a Kika quase perderam a voz. Na sexta-feira à noite, quando os vi na festa de encerramento, era nítido no semblante de cada um o ar de cansaço, mas de um cansaço gostoso do dever cumprido, ou melhor, do dever mais uma vez bem cumprido.


Foi um batalhão de 60 alunos por turno, de três turnos por dia.

Olha, eu não tenho a menor dúvida, que se precisasse, eles cometeriam a mesma loucura de novo.

ÍNDIO QUER INFORMÁTICA

Uma experiência única. Pela primeira vez na vida entrei numa reserva indígena, se assim podemos chamar a Comunidade Indígena Ivaí, em Manoel Ribas.


O ar puro, o clima leve, um dia quente, deixavam o ambiente revestido de uma aura mágica. O contato com toda uma ancestralidade. Só por isso, a visita foi muito rica.

Fomos junto com o Ivan da Secretaria de Integração Regional e o Zé Pampeano, uma figura típica de Manoel Ribas, que responde pela Secretaria de Cultura daquele município. Quem nos recebeu foi o cacique Cabral.


Lá, moram cerca de 1200 índios Kainganges. Ficamos durante quatro horas naquela comunidade.

Vimos o ontem e o hoje. Desde uma máquina de lavar roupa, até índias lavando roupa à beira do rio. A cena de mulheres circulando com crianças nas costas, contrastava com a de uma antena parabólica.

Na sala de aula, todas as crianças são bastante receptivas. Segundo os professores que lecionam na escola localizada naquele posto indígena, a liberdade é a marca registrada daquele povo.

Outra marca facilmente constatada é a da religiosidade. Lá, a religião oficial é a católica. Ter a oportunidade de ouvir a oração do Pai Nosso no idioma deles é muito gratificante. E, por falar em idioma, entre eles a comunicação só acontece através da língua mãe.

Aquela sexta-feira, primeiro de junho, era um dia especial. À tarde, eles tinham um compromisso inadiável: Aula de informática. Já eram 13h30, hora de entrar no ônibus e seguir para a cidade.


Pela primeira vez na vida, 40 índios Kainganges daquela reserva tiveram contato com o computador e a Internet. Um universo novo, totalmente desconhecido para eles.

No início, desconfiança, um certo medo de tocar na máquina. Na seqüência, a familiaridade com a nova tecnologia. E como resultado prático, o prefeito Antônio Camilo garantiu cinco microcomputadores para a escola indígena.


Já é hora de ir embora. O treinamento de três horas está encerrando. Uma pena. Mas o Programa CELEPAR na Comunidade vai seguir com os multiplicadores na Região Central do Estado.

E os Kainganges... Bem, pelo que pudemos observar vão continuar tocando, ao seu jeito de sempre, a vida.

Agora com uma diferença. Vai ter computador na escola.

Quem sabe, uma grande chance da informática entrar em harmonia com a natureza.

E que as fotos falem por si.


Local

Data

Participantes

Jacarezinho

19 a 23/03

308

Andirá (Itambaracá, Cambará,

Bandeirantes)

23 a 27/04

485

Iporã

07 a 11/05

356

Irati (Fernandes Pinheiro,

Guamiranga, Inácio Martins)

14 a 18/05

338

Contenda (Quitandinha, Lapa)

21 a 25/05

303

Manoel Ribas

28/05 a 01/06

400

Chopinzinho (São João, Sulina

Saudade do Iguaçu)

04 a 08/06

707

TOTAL

 

2.897