Usuários da liberdade

Brasil cria rede mundial de tecnologia aberta.

 

Com o objetivo de organizar as diversas comunidades de conhecimento colaborativo existentes em vários países - a exemplo das comunidades de Linux -, empresários e executivos da área de tecnologia, além de representantes de governos nacionais e estrangeiros e grandes usuários de tecnologia da informação, anunciaram no mês passado a criação da Organização Não Governamental OTUN (Open Technology Users Networ, ou Rede de Usuários de Tecnologias Abertas). A idéia é que a ONG atue em empreendimentos empresariais ou governamentais que garantam sua sustentabilidade e estabeleçam padrões para os seus projetos, em conformidade com os interesses do mercado. A entidade terá sede em São Paulo, mas buscará ramificações por diversos países, reunindo comunidades de diferentes línguas, daí a definição da sigla em Inglês. Antes mesmo de seu lançamento oficial, a OTUN já vinha preparando a instalação em outros países, como é o caso da criação de uma seção avançada no Parque Tecnológico de Antioquia, na Colômbia.

Além disto, o núcleo fundador da entidade vem estabelecendo contatos com o governo da Venezuela, que demonstrou grande interesse na reaplicação do modelo. Entre os países onde a OTUN já dispõe de comunidades parceiras - ou em fase de constituição de seções próprias - estão a Espanha, Canadá, Itália, Cuba, Uruguai e Argentina.

A idéia da OTUN é oferecer uma resposta concreta de integração entre países, empresas públicas e privadas, universidades e institutos de pesquisas para organizar a participação de todos os potenciais intervenientes no novo mercado de software, aproveitando as oportunidades mercadológicas provocadas pelo Free Livre and Open Source Software (FLOSS).

A adesão e a participação ativa na OTUN constituem-se em fatores fundamentais para o aumento na utilização de soluções em software livre, uma vez que essas serão garantidas pela Organização. Essa garantia evitará problemas, como o de descontinuidade em algumas soluções, e irá gerar uma nova cadeia de valores de qualidade, robustez e baixos custos em torno dos produtos, soluções e padrões adotados.

Uma organização como a OTUN pode oferecer oportunidades imensuráveis. Segundo seus criadores, as chances de sucesso desse trabalho se ampara na necessidade de que o mundo tecnológico quebre muitos dos seus paradigmas e se volte para as possibilidades palpáveis de inclusão econômica e social. De acordo com Paulino Michelazzo, membro da diretoria provisória, a OTUN é a primeira organização do país e talvez a única no mundo orientada para funcionar como interface entre os grupos de conhecimento colaborativo e o mundo altamente profissionalizado e exigente de padrões, que são os usuários corporativos e os governos. ''Na base da nossa proposta está a eliminação de qualquer resquício de informalidade em relação às produções intelectuais das redes de tecnologias abertas'', compara.

A OTUN terá entre suas fontes de receita a concessão de selos de qualidade e certificados de boas práticas para soluções de tecnologia produzidas pelas comunidades abertas.

A entidade ofertará também serviços de consultoria para empresas e órgãos públicos interessados em utilizar as redes de conhecimento como base para o desenvolvimento de soluções e serviços.

Novas oportunidades de mercado

O nascimento de novos paradigmas e práticas de Free Livre and Open Source Software (FLOSS), ou seja a liberdade total de uso dos programas de computador, está provocando uma verdadeira revolução nos atuais modelos de desenvolvimento, distribuição e suporte da indústria de software. As atenções de empresários e executivos do setor de TI, governantes, acadêmicos e técnicos estão voltadas para a adoção de padrões abertos e democráticos de software. Um processo como esse, que ocorre em escala global, permite que mudanças fundamentais aconteçam de forma muito rápida e abram oportunida-des mercadológicas significativas, principalmente para inserção de países ainda excluídos do mercado de tecnologia. Esse processo incita o questionamento do atual modelo de negócios, sob a hegemonia de empresas tradicionais de software proprietário, e gera impacto estratégico para essa indústria. Nesse contexto, assistimos à ascensão de novas empresas e de países emergentes, especializa-dos na criação e no desenvolvimento das tecnologias abertas.

O movimento FLOSS possibilita que países como Brasil, China, Índia, Rússia e Irlanda reinventem seus modelos de negócios e passem a disputar mercado. Outros países europeus também têm aproveitado o momento como oportunidade para recuperar a participação de mercado perdida na década de 90, com o colapso das suas principais empresas na área de software. É desta forma que pretende-se expandir o conhecimento compartilhado e dividir riquezas, gerando renda e trabalho e possibilitando a independência tecnológica de todos que fizerem usufruto das suas iniciativas.