Vamos comprar um cassetão de 2,5 kg?

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro


Imagine um cassete de fita magnética que pesa 2,5 Kg e tem mais de 60 cm de comprimento. Resumo da palestra sobre mídias magnéticas para o futuro, da Sra. Linda Kempster, presidente da Strategic Management Resources Ltd, apresentada na última INFOIMAGEM em S.P. De 18 a 21 de outubro.

A palestra começou com a apresentadora perguntando se alguém sabia quanto era um petabyte. Como ninguém se manifestou, ela disse ser 1.000 terabytes, ou 1.000.000 de gigabytes ou 1.000.000.000 de megabytes ou 1.000.000.000.000.000 de bytes. Estas seriam as ordens de grandeza citadas na apresentação.

Hoje, se considerarmos que toda a informação corresponde a 100%, 4% estão em microfilme, 95% estão em papel e apenas 1% está em computador. Então, se somarmos tudo o que é gasto em informática no mundo, saberemos que todo este dinheiro é investido em apenas 1% da informação.

Feita esta abordagem inicial, ela começou a falar sobre seu envolvimento com o tema: em 1986, ela foi convidada pela NASA a estabelecer o cenário futuro para guardar os dados vindos do espaço, enviados por estações orbitais. Neste ano, foi feita a seguinte previsão:

. para 92: 2900 Gb/dia
. para 94: 4700 Gb/dia
. para 96: 5600 Gb/dia

Em 86, estabelecer mídias para processar, manusear e armazenar estes volumes era algo difícil. A apresentadora, numa de suas primeiras demonstrações para o staff da NASA, usou uma linguagem bem forte: Levou uma mangueira de água ligada, para dentro da sala, e encheu uma xícara com ela (e molhou tudo em volta), querendo mostrar como seria estar recebendo este volume de dados diariamente, e a dificuldade de fazer algo com eles.
Antes de prosseguir, ela estabeleceu a seguinte base conceitual:

2 Gb de dados podem conter 40.000 documentos scaneados a 200 ppp (pontos por polegada) e taxa de compressão de 10:1. Em média, um documento A4 ocupa 50Kb como imagem e 2Kb como texto. Um gigabyte sendo transmitido via telefone 24 h/dia, a 9600 bps, leva 9 dias completos para trafegar.

Hoje, as previsões de 86 foram revistas e o grande projeto para o século XXI é chamado pela NASA de "Mission to Planet Earth". Trata-se de milhares de imagens da terra, tiradas de estações espaciais. Neste projeto, a taxa de dados esperadas é de 10 Tb/dia, com um volume previsto de 55 petabytes.

Isto posto, ela começou a mostrar diversas mídias, que vão aqui relatadas:

1. Fita cassete VHS

Embora externamente tenha a mesma aparência de uma fita de vídeo (de US$ 5), ela é de melhor qualidade, é certificada, e custa US$ 30.

Esta fita já existe no mercado e hoje tem capacidade de 22Gb, o equivalente a 440.000 documentos A4 em imagem ou ao conteúdo de 122 fitas de 2400 pés a 6250 de densidade. A taxa de gravação é de 16 Mbit/seg e o erro admitido é de IE-13, ou um bit errado a cada 10.000.000.000.000 de bits gravados. O tempo de enrolamento completo é inferior a 2 minutos, e o custo de armazenamento é de US$ 0.002 por Mb. Um jukebox (gabinete robotizada pata troca automática de fitas), com 48 fitas destas, custa US$ 90.000.

Um outro modelo de fita cassete para dados é conhecido no mercado americano como RSS600. Trata-se de um jukebox com 600 fitas e capacidade total de 132 Tb. Dentro do jukebox, existem 6 carrosséis de 2 lados cada um e contendo 50 fitas em cada lado. Pode conter de 1 a 5 drivers de leitura/gravação (US$ 32.000 cada), e o tempo máximo de acesso a qualquer dado é de 8 segundos.

Se usarmos este dispositivo para fazer back-up ele equivalerá a 26.400 armários de pastas suspensas. Imaginando que cada arquivo destes ocupa 1 m2, teríamos uma área de 26.400 m2. Supondo que o terreno da sede tem 10.000 m2 aproximadamente, comparando as duas alternativas, temos que o RSS600, que ocupa pouco mais de 2 m2, equivale a 2,6 terrenos da CELEPAR cheios de arquivos de papel.

A professora Linda citou uma estatística americana de que um arquivo de 1 m2 de papel custa US$ 700/ano em espaço e pessoal para manusear. Isto daria um custo de 700 x 26400 = 18.000.000 US$/ano para manter o conjunto. O RSS600 começa custando US$ 50.000 e usa a mesma energia de um secador de cabelo.

2. Fitas DD1 e DD2

Outro tipo de fita para guarda de dados. Comecemos pelo DD1, que já existe. Ele aparece em 3 tamanhos: small (16Gb por cassete), medium (40Gb por cassete) e large (90Gb por cassete). O preço dos cassetes é: $45, $100 e $215 respectivamente. Este último é o cassetão de 2,5 Kg de que fala o título. O drive custa US$ 190.000, e é o mesmo drive para os 3 tamanhos de fita. Este drive já está a venda no mercado americano fabricado pela Martin Marietta.

Já o DD2 está apenas projetado e terá as seguintes capacidades: small (25Gb), medium (75Gb) e large (165Gb).

A apresentadora citou um dos primeiros usuários desta tecnologia, a MOBIL OIL americana. Esta empresa faz pesquisas sísmicas de busca de petróleo. Até bem pouco tempo atrás as pesquisas eram guardadas em fitas de 2.400 e uma pesquisa gerava 1.200 fitas (ou 4 toneladas de peso). Usando fitas DD1 a mesma pesquisa cabe em 3 cassetes, que podem ser carregados numa pasta executiva.

Existe um jukebox para esta fita, chamado E-tower, da empresa Datatower, que contém 220 fitas por unidade, com capacidade total de 5,5 Tb por unidade. O E-tower completo são 7 unidades, ocupando 150 pés quadrados (mais ou menos um retângulo de 3 m de lado). A capacidade total é de 10.125 Tb ou 10.125.000.000.000.000 bytes. Este volume equivaleria a 4.800 campos de futebol (como o Couto Pereira) abarrotados de armários de pastas suspensas.

Para poder imaginar quanto é um Terabyte de dados, se ele fosse listado em formulário contínuo, a listagem daria 11,5 voltas à terra pelo equador.

3. Cassete de ¼ de polegada (um pouco maior do que uma carteira de cigarros)

Tem capacidade de 5Gb, taxa de transferência de 4,8 Mbps, tempo máximo de acesso de 30 segundos e taxa de erros menor que IE-15 (ou 1 bit errado a cada 1.000.000.000.000.000 bits gravados). A 3M promete colocar 13 Gb neste cassete até 94 e 100Gb até 98.

A professora disse que ao dar uma palestra sobre este assunto aos almirantes do pentágono, um deles disse que ia cancelar todos os contratos de manutenção de hardware de armazenamento. Quando um deles quebrasse, ele simplesmente jogaria fora e compraria um novo, muito maior.

4. Minicartucho (muito menor que uma carteira de cigarros)

3 Gb por cartucho, taxa de transferência de 7Mbps, acesso menor que 20 segundos, e taxa de erro menor que IE-15. Para 94/95 espera-se colocar 10Gb no cartucho e no fim dos anos 90, 30Gb.

5. Fita de 8mm

Hoje atinge capacidades entre 5Gb e 10Gb. Um modelo vendido pela EXABYTE custa US$ 15 por cartucho e o drive custa US 2.600. A taxa de erros é de IE-13, a taxa de transferência é de 4 Mbps e o tempo médio de acesso é de 85 segundos. Esta mídia tem um problema a resolver. O índice da fita está no começo, o que a obriga a avançar e retroceder sucessivas vezes durante o processamento.

Existe um dispositivo chamado EXB-120 que tem 4 drivers e 116 fitas. Custa perto de US$ 100.000 e usa o conceito de carrosel.

6. Fita DAT de 4mm

Capacidade variando de 2 a 4 Gb. Taxa de transferência de 2.9 Mbps. A grande vantagem é a existência de duplicadores que copiam uma fita desta em menos de 40 segundos. A mídia custa US$ 12 e o drive US$ 1.200.

7. Masstor tape cartridge

Este é um novo produto, do fabricante Masstor, que tem um cartucho de 6 x 6 x 3 polegadas, com capacidade de 30Gb por cartucho. Cada cartucho custa US$ 600, e a apresentadora contou como curiosidade que quando ela pediu ao fabricante um cartucho para sua coleção, o vendedor recusou alegando que o cartucho era muito caro. Daí a professora Linda disse que ia pedir para o marido fazer um bloco de madeira de 6x6x3 polegadas para mostrar para seus alunos. Diante disso (ter o seu drive mostrado como um pedaço de pau), o fabricante pensou melhor e deu um cartucho de presente.

O jukebox tem 32 cartuchos com 1 ou 2 drivers, o que dá capacidade total de 1 Tb.
Conclusão: É muito cedo para tirar conclusões. Todos estes produtos chegaram ao mercado há não mais do que 2 anos. Não há ainda padrões, e as coisas são muito caras. O que resta de conclusão, é que as tecnologias vão mudar muito, e certamente a unidade de armazenamento usual, que até bem pouco tempo atrás era o megabyte, passará a ser o gigabyte. Quem viver, verá.