Visão de Futuro

Telecentros Paranavegar oferecem oportunidades para deficientes visuais
colaborou Diogo Ruiz

Você já imaginou como faria para acessar a Internet caso não fosse capaz de ler esta frase usando seus olhos? A maior parte dos sítios são baseados unicamente em elementos visuais, e até o simples clique do mouse no link certo requer o sentido da visão.

Claudinei Bueno, 16 anos e cego desde os nove, viveu essa situação. Além de não ter computador em casa, precisava da ajuda de outras pessoas se quisesse conhecer o mundo virtual. Mas hoje ele consegue fazer tudo sozinho. “Mexer no computador me faz bem, para mim é uma das melhores coisas que tem”, conta.

E como ele consegue fazer isso? A resposta está no telecentro temático da Celepar, localizado no Instituto Paranaense de Cegos (IPC), em Curitiba, que possui computadores equipados especialmente para o uso de pessoas que não conseguem enxergar.

Os telecentros do Programa Paranavegar são lugares que oferecem acesso gratuito à Internet para as comunidades de baixa renda, longe dos grandes centros ou de alguma forma excluídas digitalmente. São mais de 70 salas espalhadas por todo o estado. Mas para atender pessoas como Claudinei, a Celepar oferece lugares especiais – os telecentros temáticos.

Os computadores são equipados com o sistema operacional Dosvox, que interage com o usuário por meio de uma voz. Desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e com distribuição gratuita, é o primeiro sistema que existe em língua portuguesa. As máquinas também contam com o Jaws, um leitor de tela que auxilia na hora de navegar na Internet. Isso permite que pessoas com deficiência visual usem o computador para desempenhar uma série de tarefas, adquirindo alto grau de independência no estudo e trabalho.

Outro usuário do telecentro é Prudêncio Tumbica, angolano que mora no IPC e veio ao Brasil terminar seus estudos. Além de fazer trabalhos escolares e ouvir músicas em web-rádios, mata a saudade da família usando um software que permite conversações pela Internet.

Segundo o coordenador dos telecentros temáticos voltados a deficientes visuais, Nelson Expedito da Rosa, este projeto busca dar oportunidade a uma parcela da população que há pouco tempo não tinha acesso à informática. “Dessa maneira, ajudando essas pessoas a desenvolverem todo o seu potencial, podemos realmente falar em inclusão digital”, afirma.

Mais telecentros temáticos

Um telecentro semelhante ao do IPC existe na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Funcionando desde março deste ano, atende cerca de 35 usuários por semana e oferece cursos de computação, digitação e acesso à Internet.

Um dos freqüentadores diários do telecentro é Marcel, 24 anos, portador da síndrome de Asperger – relacionada com o autismo, diferenciando-se deste por não comportar nenhum atraso ou retardo no desenvolvimento cognitivo ou de linguagem.

Marcel diz que, por meio da Internet, procura estar sempre atento às notícias do Internacional, seu time favorito. Além disso, aprendeu a utilizar um software da área de engenharia civil, orientado por uma aluna deste curso que se surpreendeu com a qualidade de seus desenhos e quis que ele tivesse a oportunidade de utilizar um programa gráfico profissional. “A utilização do computador mudou bastante a minha vida. Hoje meu desempenho e sabedoria são muito maiores e, quem sabe, um dia, vou trabalhar em um escritório de arquitetura”, comenta Marcel.