A fábula dos porcos assados

Autor: Luiz Carlos de Almeida Oliveira


A linha metodológica que está se consolidando na Celepar busca, entre outras coisas, soluções adequadas para problemas bem identificados. Neste contexto torna-se importante, a além de uso de técnicas e ferramentas, a aplicação do bom senso, aliada a uma postura crítica criativa e inovadora.

Enfoques que sugerem a necessidade de uma postura na abordagem de determinados problemas, podem ser facilmente identificados no texto abaixo, extraído na íntegra do Jornal do CREA.

O texto merece, além da dedicação de alguns minutos para sua leitura, uma constante reflexão sobre os aspectos nele abordados.

“Uma das possíveis variações de uma velha história sobre a origem do assado é esta. Certa vez, aconteceu um incêndio no bosque onde se encontravam alguns porcos. Estes foram assados pelo incêndio. Os homens acostumados a comerem carne crua, experimentaram e acharam deliciosos. Logo, toda a vez que queriam comer porcos assados, incendiavam um bosque... até que descobriram um novo método.

Mas o que eu quero contar e o que aconteceu quando tentaram mudar o SISTEMA para implantar um novo. Fazia tempo que algumas coisas não iam bem: às vezes os animais ficavam queimados ou parcialmente crus; outras, de tal maneira queimados, que era impossível utilizá-los. Como era um procedimento montado em grande escala, preocupava muito a todos, porque, se o SISTEMA falhava, as perdas ocasionadas eram igualmente grandes. Milhões eram os que se alimentavam de carne assada e também muitos milhões eram os que tinham ocupação nesta tarefa. Portanto, o SISTEMA simplesmente não devia falhar. Mas, curiosamente, à medida que se faria em maiores escalas, mais parecia falhar e maiores perdas parecia causar.

Em razão das deficiências, aumentavam as queixas. Já era um clamor geral a necessidade de reformar profundamente o SISTEMA.

Tanto assim que, todos os anos, realizavam-se congressos, seminários, conferência e jornadas para achar a solução. Mas parece que não acertavam o melhoramento de mecanismo, porque no ano seguinte repetiam-se os congressos, os seminários, as conferências e as jornadas. E assim sempre.

As causas do fracasso do SISTEMA, segundo os especialistas, deviam-se atribuir ou à indisciplina dos porcos que não permaneciam onde deviam, ou à inconstante natureza do fogo tão difícil de controlar; às árvores excessivamente verdes, ou à umidade da terra; ou ao serviço de informações meteorológicas que não acertavam o lugar, o momento e a quantidade das chuvas; ou...

As causas eram como se vê difíceis de determinar porque, na verdade, o SISTEMA para assar porcos era muito complexo, Fora montada uma grande estrutura; um grande maquinaria com inúmeras variáveis fora institucionalizada. Havia indivíduos dedicados a acender: os incendiadores que, ao mesmo tempo, eram especialistas de setores ( incendiadores da zona norte, da zona oeste etc; incendiadores noturno, diurno com especialização matutina e vespertina; incendiadores de verão, de inverno com disputa jurídica sobre o outono e a primavera). Havia especialistas em vento: os anemotécnicos. Havia um diretor geral de assamento e alimentação assada; um diretor de técnicas ígneas ( com seu conselho geral de assessores); um administrador geral de florestação; uma comissão de treinamento profissional em porcologia; um instituto superior de cultura e técnicas alimentícias (ISCUTA) e o BRODRIO ( Bureau Orientador de Reformas Igneooperativas).

O BRODRIO era tão grande, que tinha inspetor de reformas para cada 700 porcos, aproximadamente. E era precisamente o BR4ODRIO que propiciava anualmente os congressos, os seminários, as conferências e as jornadas. Mas isto só parecia servir para incrementar o BRODRIO em burocracia. Tinha-se projetado e encontrava-se em pleno crescimento a formação de novos bosques e selvas, seguindo as últimas indicações técnicas ( em regiões escolhidas segundo determinada orientação, onde os ventos não sopravam mais que 3 horas seguidas, onde era reduzida a percentagem da umidade).

Havia milhões de pessoas trabalhando na preparação dos bosques que logo teriam que ser incendiados. Havia especialistas, na Europa e nos Estados Unidos, estudando a importação das melhores madeiras, árvores, sementes, de melhores e mais potentes fogos, estudando idéias operativas ( por exemplo, como fazer buracos para que neles caíssem os porcos). Havia também grandes instalações para manter os porcos antes do incêndio, mecanismo para deixá-los sair no memento oportuno, técnicos em sua alimentação etc.

Havia construções de estábulos para porcos; Professores formadores de especialistas na construção de estábulos para porcos; Universidades que preparavam os Professores formadores dos especialista na construção de estábulos para porcos, Investigadores que forneciam o fruto do seu trabalho às Universidades que preparavam os Professores formadores dos especialista na construção de estábulos para porcos; Fundações que apoiavam os Investigadores que davam o fruto do seu trabalho às Universidades que preparavam os professores dos especialistas na construção de estábulos para porcos etc.

As soluções que os congressos sugeriam eram, por exemplo, aplicar triangularmente o fogo após a V a-1 pela velocidade do vento sul; soltar os porcos 15 minutos antes que o fogo-promedio da floresta alcançasse 47 graus; outros diziam que era necessário pôr grandes ventiladores que serviam para orientar a direção do fogo e assim por diante. E não é preciso falar que poucos especialistas estavam de acordo entre si e que cada um tinha investigações e dados para provar suas afirmações

Um dia, um incendiador categoria SO/DMNCH (isto é, um acendedor de bosques especialista sudoeste, diurno, matutino, com licença em verão chuvoso) chamado João Sentido-Comum, falou que o problema era muito fácil de resolver”.

E daí...
Leia no próximo número, qual a idéia e o que aconteceu.

Artigo originalmente publicado em Juício a La Escuela Cirigliano, Forcade Tilich Editorial Editorial Humanitas – Buenos Aires, 1976