A fábula dos porcos assados

Autor: Luiz Carlos de Almeida Oliveira


Um dia, um incendiador categoria SO/MNCH(isto é um acendedor de bosques especialista sudoeste, diurno, matutino com licenciatura em verão chuvoso) chamado João Sentido Comum, falou que o problema era muito fácil de resolver. Tudo consistia, segundo ele, primeiramente, em matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o animal e colocando-o posteriormente, numa jaula metálica ou armação sobre umas brasas, até que o efeito do calor e não das chamas o assasse ao ponto.

Ciente, o Diretor Geral do Assamento mandou chamá-lo e perguntou que coisas esquisitas andava falando por ali e, depois de ouvi-lo, disse-lhe:

O que o senhor fala está bem, mas somente na teoria. Não vai dar certo na prática. Pior ainda, e impraticável. Vamos ver o que o senhor faria com os anemotécnicos, no caso de se adaptar o que sugere?

Não sei, respondeu João.

Onde vai por os acendedores das diversas especialidades?

Não sei.

E os especialistas em sementes e madeiras? E os desenhistas de estábulos de 7 andares, com suas máquinas limpadoras e perfumadoras automáticas?

Não sei.

E os indivíduos que foram ao estrangeiro para se especializar durante anos e cuja formação custou tanto ao país. Vou pôlos para limpar porquinhos?

E os que têm se especializado todos esses anos em participar de congressos, seminários e jornadas para a Reforma e Melhoramentos do Sistema? Se o que você fala resolve tudo; que faço com eles?

Não sei.

O senhor percebe agora que a sua solução não é a de que nós todos necessitamos? O senhor acredita que, se tudo fosse tão simples os nossos especialistas não teriam achado a solução antes? Veja só! Que autores falam nisso? Que autoridade pode avaliar sua sugestão? O senhor, por certo, imagina que eu não posso dizer aos Engenheiros em anemotécnica que é questão de pôr brasinhas sem chamas! O que faço com os bosques já preparados, ao ponto de serem queimados, que somente possuem madeira apta para o fogo-em-conjunto; cujas árvores não produzem frutos, cuja falta de folhas faz com que não prestem para dar sombra? O que faço? Diga-me.

Não sei.

O que faço com a comissão Redatora de Programas Assados, com seus departamentos de Classificação e de Seleção de Porcos, com a Arquitetura Funcional de Estábulos, estatísticas, população etc.?

Não sei.

Diga-me: O Engenheiro em Porcopirotécnica, o Sr. J.C. da Figuração, não é uma extraordinária personalidade científica?

Sim, parece que sim.

Bem o simples o fato de possuir valiosos e extraordinários engenheiros em Porcopirotécnica indica que o sistema é bom. E que faço com indivíduos tão valiosos?

Não sei.
Viu? O senhor tem que trazer solução para certos problemas; por exemplo, como fazer melhores anemotécnicos, como conseguir mais rapidamente acendedores do Oeste( que é a nossa maior dificuldade!), como fazer estábulos de 8 andares ou mais, em lugar somente de 7, como até agora. Tem que melhorar o que temos e não mudá-lo. Traga-me uma proposta para que nossos bolsistas na Europa custem menos ou mostre-me como fazer uma boa revista para a análise profunda do problema da Reforma do Assamento. Isto é o de que necessitamos. Isto é o que o País necessita. Ao senhor, falta-lhe sensatez, sentido comum! Diga-me por exemplo, o que faço com o meu bom amigo(e parente), o presidente da Comissão para o Estudo do Aproveitamento Integral dos Resíduos dos Ex-bosques?

Realmente, eu estou perplexo! falou João.

Bem, agora que conhece bem o problema, não diga por aí que o senhor conserta tudo. Agora, o senhor vê que o problema é mais sério e não tão simples como o senhor imaginava. Tanto os de baixo como os de fora dizem: “Eu conserto tudo”. Mas tem que de estar dentro para conhecer os problemas e saber as dificuldades. Agora, entre nós, recomendo-lhe que não insista com sua idéia, porque isso poderia trazer problemas para o senhor no seu cargo. Não por mim! Eu falo pelo seu próprio bem, porque eu o compreendo, ou entendo o seu posicionamento, mas o senhor sabe que pode encontrar outro superior menos compreensivo. O senhor sabe como são, as vezes, não é?

João Sentido-Comum, coitado, não falou um “A”. Sem se despedir-se, meio assustado e meio atordoado com sua a sensação de estar caminhando de cabeça para baixo, saiu e nunca mais ninguém o viu. Não se sabe para onde foi. Por isso é que falam que, nestas tarefas de reforma de melhoria de Sistema, faltou o Sentido-comum.

Artigo originalmente publicado em Juício a La Escuela Cirigliano, Forcade Tilich Editorial Humanitas – Buenos Aires, 1976.