A história do Daniel

Autor: Arno Rodrigo Muller

Hoje recebi um e-mail de um ex-colega que trabalhou conosco há muitos anos. Isto me fez lembrar de uma história que passo a narrar a seguir.Nosso ex-colega me convidou para ir até à creche ver o desenvolvimento do filho dele. Enquanto ele conversava com as tias, fui até a janela olhar a criançada fazendo o maior reboliço no salão.

O Daniel (filho do nosso ex-colega) veio até a janela e passou a me narrar uma história que eu não compreendia. Afinal ele tinha uns 10 meses, eu acho.Ele deve ter percebido que eu não o compreendia e pacientemente repetia toda a história etapa por etapa, desde o início. Eu, pessoalmente, comecei a ficar preocupado com ele e cheguei a pensar se não havia alguma coisa errada. Pobre criança, será que ele um dia vai ficar inteligente? Uma coisa era constante, não faltava uma sílaba em todas as vezes que ele repetia a história.

A história:

Uma espécie de marchinha em que duas das notas eu me lembrava de já ter ouvido, mas não onde. A mesma marchinha acompanhada de palmas. Um sopro forte com algumas aspersões de baba. Mais palmas, gritaria e roladas pelo chão.Uma corrida trôpega com muitos tombos em direção a outro menino que estava por ali e um abraço nele. Uma volta para a janela para continuar a contar a história. O que me preocupava era a repetição obsecada dos mesmos movimentos.

A marchinha não me saía da cabeça. O sopro com bastante cuspe, que significava? Abraços, alegria, a repetição. Onde seria o começo da história repetida tantas vezes? Seria o cuspe, as palmas e o sopro? Ou o cuspe, o abraço e os tombos? Gritaria, talvez um acidente. Não, tinha alegria na coisa. Eu já não lembrava se o que estava ouvindo era o fim de uma história juntada ao começo da repetição da mesma.

Enfim, se tinha alguém que sabia o que estava dizendo era o Daniel. Ele lembrava bem de todos os detalhes. Ele tinha prazer em contar a história relatando todos os detalhes. Eu olhava seus movimentos e pensava. Cheguei até a concluir coisas que não me atrevo a dizer. Por fim, as duas notas musicais poderiam ser da linda canção “Parabéns a você”, desde que o sopro com baba fosse o apagar de velinhas. Isto justificaria os abraços, palmas e alegria geral. Será?

- Tia, houve algum aniversário por aqui?

- Sim, hoje comemoramos o primeiro ano do filho da Sara.

É, tinha lógica. Estava tudo certo. Fiquei até com vergonha do que havia pensado do menino.
Conclui que: “ O burro sabe que é inteligente porque não é inteligente para saber que é burro.”

Felicidades Daniel Koganas. Que Deus o proteja e mantenha sua inteligência tão boa quanto era antes do seu primeiro ano.