Flagrantes: Embalagem unitária ou dupla?

Autor: Pedro Luis Kantek Garcia Navarro

 

Uma história do arco-da-velha. Fins dos anos 70, as empresas mais corajosas começam a comprar esse tal de computador. De marca nacional, que naquela época computador só com sotaque brasileiro. Esse, no caso, tinha sotaque francês, mas falava "leiTE quenTE". Lá fui eu meter o bedelho como convidado a dar uns palpites e ajudar na tal da informatização. A coisa até que andou bem, mas os anos passaram e hoje nem o fabricante nem a empresa existem mais.

O episódio não tem muito a ver com informática e sim com os confusos e inexplicáveis caminhos por onde anda a racionalidade (?) humana. A gente vê cada coisa...

Estava um dia na área de compras da empresa e peguei uma conversa de um telefonema. Não fui indiscreto, não, o sujeito é que falava aos gritos. Resumindo o papo, ele estava sendo comunicado pelo fornecedor que um determinado item que era necessário para a fábrica e era vendido em embalagens unitárias, devido a problemas inespecificados, passaria a ser entregue em embalagens contendo duas peças. O encarregado do almoxarifado enfureceu-se, subiu nas tamancas. Ele dizia que nessas condições deixaria de comprar a peça desse fornecedor e iria buscá-la diretamente no mercado internacional. A peça era pouco usada e muito cara, não tinha o menor sentido empurrar 2 unidades quando apenas uma era necessária.

O fornecedor deve ter ficado preocupado, pois como se disse a peça era muito cara, e esse comprador em especial, era um grande cliente, havia que tratá-lo com carinho. Não prometeu nada, mas disse que ia fazer gestões junto ao fornecedor dele. Era difícil, tratava-se de política mundial do fabricante, mas sempre é possível conversar. Essa foi a promessa.

Passaram-se os meses e, de vez em quando, eu perguntava como andava essa questão. A resposta sempre era mais ou menos assim: "ainda só querem vender de duas em duas, e desse jeito eu não aceito".

Mais tempo se passou, e esse tempo já vai ter importância na nossa história, a peça precisando ser comprada, mas quem mandou ser teimoso? Nem pensar em comprar as 2 unidades juntas.

Finalmente, vem o telefonema salvador. Depois de muita lábia e com gosto de vitória nos lábios, o interlocutor comunicava que... ufa!... foi difícil, mas o fabricante topou abrir uma exceção especial e continuar vendendo para esse cliente em especial as peças de uma em uma.

Aliviado, o encarregado do almoxarifado retrucou com um "que maravilha, podemos voltar a fazer negócio. Me mande duas peças unitárias".

Pano rápido.