Flagrantes:... e não vá perder a chave do ROSCOE...

Autor:

 Pedro Luis Kantek Garcia Navarro- GPT

Mais uma do tempo do rascunho da Bíblia. Há muitos e muitos anos a CELEPAR adquiriu a sua linha de terminais 3270. Hoje eles podem ser (e são) desdenhados. Até chamados de terminais burros. Pode haver jeito mais ofensivo de se referir a alguma coisa ligada à informática?

Mas em 76/77, eles eram a última maravilha tecnológica. Afinal, iam substituir as perfuradoras de cartões 029, o barulho, o peso, os picotes, as aranhas, a poeira e sujeira, e tudo mais que aquelas montanhas de cartões acumulavam. O impacto da chegada dos terminais foi muito, mas muito maior do que a entrada dos micros neste final dos anos 80.

Pois voltando à nossa história, para usar o moderníssimo hardware, a CELEPAR comprou um software chamado ROSCOE. Não sei se ainda hoje é usado, afinal os mainframes estão meio fora de moda, mas na época também era o must em matéria de programas produto.

Com ele vieram conceitos como privacidade das bibliotecas, sigilo de acesso, controle (logging) de entradas e saídas, e assim por diante, coisas desconhecidas e até meio misteriosas. Elas vieram substituir o ambiente onde, só para vocês terem idéia, a Rose (uma magnífica perfuradora - o antigo nome para digitadora - onde andará a Rose?),de tanto perfurar programas COBOL já conhecia enciclopedicamente a sintaxe da linguagem e não tinha nenhuma vergonha em consertar comandos errados que os programadores inadvertidamente escreviam. Era conhecida como "Rose, a pré-compiladora!".

Pois voltando de novo à nossa história, tão logo o ROSCOE foi instalado, todos foram avisados pelo suporte, (sempre eles, o suporte!) em um tom formal, respeitoso e até meio gongórico que deveriam arrumar uma chave de acesso. Foi um tal de um olhar para o outro se perguntando "que raio de chave é essa?" mas nem pensar em dar a torcer o braço para aqueles metidos a besta do suporte, perguntando do que se tratava a tal da chave.

Aí, o mais corajoso foi lá pedir a dita cuja. As figuras que trabalhavam no suporte, vendo que o ilustre freguês não sabia o que era a tal da chave, em vez de cadastrar a pessoa e a sua senha (o que é de fato a tal da chave), resolveram aprontar uma.

Os terminais 3270 tinham uma chave (chave comum, de metal, dessas que a gente usa no chaveiro para abrir a porta de casa), que no caso da CELEPAR não iria servir para nada, já que a segurança de acesso ao prédio sempre foi feita na portaria. Pois o analista de suporte entregou essa chave de metal para o corajoso (hoje diríamos "boi de piranha!") que tinha ido lá, com a recomendação de que tivesse cuidado com a chave, se a perdesse, precisariam pedir outra para os Estados Unidos. Daí o suporte todo foi atrás do pioneiro, que voltou para o "pool" de programação onde trabalhávamos, mais de 25 programadores, todo contente e feliz mostrando a chave de ROSCOE que ele acabava de receber. Festa, gozação e algum tempo depois a vítima foi avisada do logro. Sua resposta, esquentado que era, foi atirar a tal da chave nas fuças do metido a engraçadinho do suporte. Pois a chave era pesada e acabou raspando o cidadão alvo e pingando uma ou duas gotinhas de sangue.

Na história da humanidade, deve ter sido até hoje o único caso de alguém que se feriu com uma chave de ROSCOE.