Nas asas da PANAIR

Autor:Toshikazu Hassegawa - DECOM 

- "ENQ?"

- "NAK."

- "ENQ?"

- "ACK."

...

- "ACK?"

- "ACK."

Tradução:

- "Estás pronto?"

- "Não."

- "Estás pronto?"

- "Sim."

...

- "Foi tudo bem?"

- "Sim."

Este diálogo acima aconteceu no início dos anos 80, durante a primeira experiência da CELEPAR em serviços remotos, mais precisamente de um micro de 8 bits, instalado em uma sala apertada e calorenta no antigo prédio da Prefeitura Municipal de Londrina, para o mainframe da CELEPAR, obviamente em Curitiba. Volte-se no tempo por algumas horas e mude-se o cenário para a sala de espera do Aeroporto de Londrina, onde eu me encontrava assistindo ao desembarque dos passageiros vindos num vôo sem escalas de Curitiba, pelas asas de um valente avião Bandeirante da Rio Sul (para quem não é desta época, o Bandeirante era um turbo hélice de fabricação nacional, cujos procedimentos de pouso literalmente incluíam o farejamento da pista de pouso, isto é, quando se aproximava da pista, as asas executavam um movimento de gangorra, típico, eu acho, dos aviões de menor porte, de modo que o bico do aeroplano fazia um vai-e-vem que lembrava um sabujo à procura de sua presa). Mais exatamente, estava à espera de 2 colegas da CELEPAR que chegariam naquele vôo - "D", que ainda é funcionário da casa e "S", que há muito tempo foi tentar a sorte em outras paragens. E lá vêm eles - "S" segurando uma maleta de ferramentas na mão esquerda e um embrulho de cor parda sob a axila do mesmo braço, e "D" com um cigarro recém-aceso na mão direita. A cor de ambos: pálido esverdeado. Cumprimentos habituais e "D" consegue proferir a primeira frase:

- "Neste treco eu não viajo mais."

- "Que nada... Depois de algumas vezes é até divertido.", disse eu querendo mostrar uma experiência que não tinha.

E lá fomos nós para a Prefeitura a caminho do fato histórico... Sucesso total!

- "Não é que esta coisa realmente funciona?"

- "Veja aqui, este relatório acaba de ser gerado na CELEPAR, em Curitiba, e já está sendo impresso aqui em Londrina!!!"

- "Mentira sua... Isto vocês puseram dentro deste micro e só imprimiram..."

- "Chama o doutor para ver..."

Estas foram algumas das frases proferidas em meio a uma dezena de cabeças que se espremiam na porta da exígua e mais calorenta ainda sala para assistir àquele acontecimento que deveria ter sido melhor documentado para a posteridade. Corte na cena. Volta para o aeroporto.

A cena seguinte transcorre no final da tarde, com nossos personagens sentados no bar do aeroporto. Falo eu:

- "Mas não é tão ruim assim...", tentando disfarçar meu próprio nervosismo. "O avião dá duas balançadas: uma logo que decola e outra quando está chegando a Curitiba... Inclusive, se você sentar na primeira fileira, na segunda balançada você vai conseguir ver a cidade toda, até o aeroporto..." (uma explicação - no Bandeirante, a separação entre a cabine e os passageiros era uma mera cortina de pano que estava sempre aberta de forma que os primeiros eram espectadores privilegiados de tudo que ocorria na cabine).

Procedimentos de decolagem.

- "Teste fogo."

- "Teste fogo."

- "Motor da direita."

- "Motor da direita acionado."

- "Motor da esquerda."

- "Chii...?!!! Negativo."

- "Vamos recomeçar..."

- "Teste fogo."

- "Teste fogo."

- "Motor da direita."

- "Motor da direita acionado."

- "Motor da esquerda."

- "Não pega mesmo..."

- "Ô fulano...", grita o piloto para alguém na pista, "Dá uma carga rápida que o gerador do motor esquerdo não está carregando!!!"

Não é preciso descrever o efeito do diálogo acima sobre o ânimo dos nossos personagens. Mas continuando os procedimentos de decolagens, a carga rápida deu certo e lá vamos nós taxiando pela pista, decola e primeira balançada. Vôo calmo, a velocidade de cruzeiro. Algumas luzes perdidas aqui e acolá. Mais adiante, um aglomerado maior de luzes. Será Castro? Ponta Grossa talvez? Segunda balançada.

- Veja agora pela cabine, "D". Já vai aparecer a cidade...

BRUMMM e um raio cinematográfico corta os céus de Curitiba. Oscar de melhores efeitos especiais. D? Só foi falar alguma coisa quando sob uma chuva torrencial descemos do táxi no estacionamento da CELEPAR.