Os Estágios de Crescimento e a Diretriz Estratégica*

Autor: Wilson Mauri de Bonfim  

Os Estágios de Crescimento da Tecnologia de Informação na Empresa

 

O uso da tecnologia de informação (TI) dentro das organizações tende a seguir um padrão previsível no tempo. Richard Nolan foi o primeiro a analisar estes padrões em relação à adoção de novas tecnologias de processamento de informação. Existem várias sugestões de outros padrões similares. Considerando que os estágios de crescimento de Nolan apareceram em primeiro lugar, logo, são mais conhecidos, nós os usaremos aqui, já que, embora não sejam a única versão, todas as variações deste tema levam a conclusões semelhantes.

 

 

A figura acima mostra os seis estágios do Nolan graficamente. O eixo horizontal é uma escala de tempo, enquanto o eixo vertical mostra o investimento da firma na tecnologia adotada. Por exemplo, uma tecnologia de informação "xyz" qualquer, usada por uma organização, se encontra em um dos seis estágios abaixo descritos:

  • Iniciação - Alguns pioneiros tomam conhecimento da tecnologia "xyz" e tentam usá-la. Seus esforços, freqüentemente, não são coordenados entre si e não contam com a bênção oficial. Alcançam resultados úteis com a nova tecnologia.
  • Contágio - Outros membros da organização, observando o que os pioneiros alcançaram, também decidem usar "xyz" em seus trabalhos. O uso da nova tecnologia cresce ao acaso sem nenhum controle central. Como mostra a inclinação da linha na figura, nesta etapa o gasto em "xyz" cresce rapidamente.
  • Controle - A gerência vê o que está acontecendo. Sabe que a firma está gastando muito dinheiro na tecnologia "xyz". Reage colocando controles. Freqüentemente, o primeiro passo é uma restrição nos gastos, seguida por padrões e procedimentos de aprovação para novas aplicações. Os gastos em "xyz" crescem lentamente.
  • Integração - Como a comunidade de usuários da tecnologia "xyz" cresce, até com os controles implantados, a organização percebe que pode ganhar integrando seus sistemas, compartilhando dados, aplicações e qualquer uso específico da tecnologia. Redes ou outras ferramentas apropriadas são necessárias para realizar a proposta. Os gastos crescem novamente.
  • Administração de Dados - A organização, agora sensível à quantia de dados compartilhados que a tecnologia "xyz" controla e seu valor para a organização, estabelece controles de gerenciamento sobre este recurso de informação. Isto difere do estágio de Controle porque os controles prévios são aplicados apenas aos produtos (hardware, software) próprios.
  • Maturidade. A tecnologia "xyz" é uma parte integrante do negócio na organização. Os procedimentos foram desenvolvidos de forma a proporcionar controle suficiente sem apreensões excessivas para o usuário. Os gastos se estabilizaram acompanhando o desenvolvimento dos produtos e seu uso crescente.

Uma organização pode estar em diferentes estágios devido o uso de tecnologias diferentes. No final dos anos 80, a maioria das empresas tinha atingido a maturidade no uso de seu SGBD em rede, tentavam controlar o uso de microcomputadores desktop e ainda não tinham iniciado o uso de sistemas cliente/servidor. Dez anos depois, a tendência era relacionar o SGBD com o estágio de integração, computadores pessoais no estágio da maturidade ou próximo dele, e processamento cliente/servidor em algum lugar entre contágio e integração.

Em 2000, novas tecnologias, tais como produção interna de CD-ROM, estavam no estágio de iniciação ou contágio, embora algumas organizações pioneiras já fizessem uso desta ferramenta há algum tempo. Web sites corporativos, em muitas organizações, estavam na integração ou estágio de administração de dados.

Também, organizações diferentes, com o uso de uma mesma tecnologia, podem estar, ao mesmo tempo, em diferentes estágios. Algumas organizações pioneiras usam novas tecnologias como uma estratégia deliberada ou como resultado de sua própria cultura. Estas passarão pelos estágios iniciais logo depois que uma tecnologia emergir dos laboratórios de desenvolvimento. Outras, mais conservadoras, podem levar anos para superar os estágios iniciais. Portanto, é importante olhar para estes estágios em termos do que está acontecendo em uma companhia específica, não em outro lugar, nem ao longe, no mundo. Estes estágios de crescimento são importantes para, como usuários, ter uma visão do que esperar com gastos em tecnologia de informação na empresa. Os estágios de crescimento não são alguma coisa que se possa chamar de gerência de planejamento. São os resultados de reações das pessoas a acontecimentos que estão ocorrendo ao redor delas. Como resultado, sua validade vai além do capricho ou até da vontade consciente de um gerente ou grupo de gerentes. Se constatarmos, por exemplo, o uso de uma tecnologia explodindo ao nosso redor, isto é, a fase de contágio, pode esperar a reação, ou seja, a fase de controle. Então, é aguardar e preparar-se para ela.

Os estágios também podem dar uma boa idéia sobre o que esperar se quisermos usar uma determinada tecnologia. Se a tecnologia escolhida estiver na etapa de iniciação em sua organização, você provavelmente terá permissão para fazer como desejar, contanto que exista aprovação do orçamento dentro de seu departamento ou divisão. Se a TI está no estágio de controle, podem existir restrições para o seu uso em novos projetos considerados importantes. Nos estágios posteriores, pode-se esperar um cerco maior com mais políticas e padrões de uso. Porém, com certeza, existirá uma infra-estrutura técnica e recursos humanos mais capacitados para apoiar seu uso.

A compreensão destes estágios é importante para o pessoal da gerência de sistemas de informação por razões similares. Eles devem estar preparados para amplas mudanças durante os primeiros estágios de desenvolvimento de uma tecnologia. Mais tarde devem estar preparados para desenvolver padrões para a tecnologia, apoiar seu uso comum e integrá-la na infra-estrutura da tecnologia corporativa.

Objetivos da administração tradicional para Sistemas de Informação

 

Enquanto todas as organizações caminham por estes estágios ou similares, seu nível de investimento na tecnologia de informação e seu nível de envolvimento administrativo variam.

Como uma organização deve enfocar este assunto?

É fácil falar que os investimentos na tecnologia de informação devem estar alinhados com a estratégia de negócio. Muitos estudos confirmam isto. O melhor caminho para isto se tornar realidade, entretanto, nem sempre é óbvio. Um gerente pode sentir que esta meta é mais facilmente alcançada via tecnologia de ponta (estado da arte). Outro pode pensar que o dinheiro seria mais bem aplicado com mais propaganda, empregando mais engenheiros de projeto, ou praticando preços mais baixos (gastam-no, com efeito, por nunca o receber em primeira mão). Estes argumentos podem ser discutidos durante horas sem se chegar a nenhuma conclusão.

Este estudo proporciona um meio lógico para a alta gerência encaminhar o assunto. Por não existir uma fórmula mágica, não proporciona respostas corretas para todas as alternativas possíveis. Apenas sugere um meio pelo qual um grupo de gerentes pode desenvolver a resposta apropriada para sua organização, em sua aplicação, com sua cultura. Também poderá ajudar um profissional iniciante ou gerente de nível inicial a entender porque a alta gerência comporta-se desta maneira.

Como estes objetivos são alcançados: diretrizes estratégicas

Cada gerente de alto nível da organização tem uma atitude coletiva em direção à tecnologia de informação. A atitude pode ser positiva ou negativa, favorável ou antagônica. Mas ela está lá, ela existe.

Esta atitude determina o enfoque da alta gerência para dirigir a organização no uso da tecnologia de informação. Podem dar a máxima atenção ou ignorá-la. Podem encorajar o uso das últimas tecnologias ou preferem ver como os pioneiros vão se sair. Podem apoiar aplicações avançadas ou relegá-las a um papel secundário. Este enfoque gerencial é fundamental à tecnologia de informação e é chamado de diretriz estratégica da organização (organization´s linking strategy), visto que liga estratégias corporativas com TI. As nuances fundamentais da diretriz estratégica de uma organização afetam os sistemas de informação.

A análise da diretriz estratégica é baseada em cinco suposições:

  1. Cada organização tem uma diretriz estratégica, independente dos seus gerentes estarem conscientes deste fato ou não.
  2. Uma diretriz estratégica apropriada melhora o retorno do investimento em TI.
  3. Informação e troca de idéias ajudam na escolha da diretriz estratégica adequada.
  4. Organizações diferentes são melhor servidas por diferentes diretrizes estratégicas.
  5. Uma diretriz estratégica adequada para uma organização específica pode ser escolhida com base na observação objetiva dos fatores externos sobre a dita organização.

Seis estratégias genéricas

Os pesquisadores que desenvolveram os conceitos da diretriz estratégica estudaram muitas organizações em diferentes aplicações. Eles classificaram este enfoque organizacional para a tecnologia de informação em seis diretrizes estratégicas fundamentais. Apesar da existência de áreas cinzas e casos que se situam na linha divisória, praticamente todas as organizações podem ser classificadas em uma das seis estratégias. A tabela abaixo, de McFarlan, McKenney e Pyburn (1983), mostra as seis diretrizes estratégicas e algumas características das empresas que usam cada uma delas. Da esquerda para a direita:

Planejamento Central

Tecnologia de Ponta (Inovação)

Livre Mercado

Monopólio

Recursos Escassos

Mal Necessário

Quadrante mais apropriado

Estratégico ou

Reestruturação

Reestruturação ou Estratégico

Reestruturação se os usuários são sofisticados; Suporte se não.

Manufatura ou Suporte (mais caro que necessário)

Suporte ou Manufatura

(risco de gastos abaixo do necessário)

Suporte (só para os níveis operacionais)

Requisitos

• Unidade com responsabilidade, autoridade sobre TI / Estratégia de negócios

• Conhecimento disponível; alta gerência envolvida

• Compromisso de Recursos

• Gerenciamento de TI inovativa e agressiva

• Interface para usuários

• Fortes habilidades técnicas

• Hábeis conhecimentos dos usuários se Administração Tecnológica

• Usuários Autônomos

• Remoção dos controles de orçamentos de TI

• Disposição para duplicar esforços

• Aceitação do usuário

• Políticas para impor fontes simples

• Uso de métodos de planejamento

• Capacidade em excesso

• TI com orçamento controlado

• Padrões e procedimentos supervisionados

• Política de controle de usuários

• Controle firme da TI

• Encontrando necessidades básicas

Gerencia-mento lógico

Administração Central toma melhores decisões

A Tecnologia criará oportunidades de negócio

O mercado toma a melhor decisão

Informação é um bem corporativo

Informação é um recurso limitado

Informação não é importante para os negócios

Atuação interna da TI

Link para os negócios em múltiplos níveis

Empurrar os limites tecnológicos em todas as frentes

Competir contra vendedores externos; desenvolver, vender e oferecer serviços lucrativos

Fonte única de utilidade; usuários satisfeitos

Manter sistemas, controle de custos, maximizar o uso de recursos

Administração conservadora dentro de capacidade e escopo limitados

Atuação do usuário

Identificação de oportunidades para TI em todos os níveis

Uso da nova tecnologia que está em desenvolvimento

Identificar e executar oportunidades para TI em todos os níveis

Utilizar informações internas quando

necessidades são percebidas

Identificar projetos com custo justificado, ser bastante passivo

Poucos usuários sem influência em TI

Planejamento Centralizado

A diretriz estratégica de Planejamento Centralizado é caracterizada pelo intenso interesse da alta gerência em tecnologia de informação, compromisso em usá-la e envolvimento em planejamento de sistemas relacionados à tomada de decisão. Os executivos organizacionais gastam tempo em auto-educação sobre tecnologia e, são freqüentemente, usuários de tecnologia com forte autocrítica.

Estão convencidos que este é o modo correto. Afinal de contas, esta é a nota oficial em curso sobre sistemas de informação e uma de suas premissas é que a tecnologia pode ser uma arma estratégica de negócio.

Tal declaração é muito simplista. Cada minuto gasto por um gerente superior sobre tecnologia de informação representa um uso produtivo do tempo. Entretanto, aquele minuto é, também, um tempo que este gerente não gastou em algum outro processo produtivo, tais como estratégia de marketing, novas decisões sobre produtos, expansão global, métodos de financiamento, alianças estratégicas, planos de produção ou encontrar clientes-chave. Cada dólar que uma organização gasta na tecnologia de informação é, assim mesmo, um dólar que se deixou de gastar em outra coisa. Assim, a escolha do Planejamento Centralizado como diretriz estratégica reflete uma decisão consciente da parte da alta gerência que a tecnologia de informação vale este nível de investimento em relação a outros usos de tempo e recursos. Se isto é verdadeiro depende, como veremos, da atividade constante, sua posição e sua estratégia.

As companhias que usam um Planejamento Centralizado estão freqüentemente em atividades de informação intensiva, tais como serviços financeiros. Entretanto, elas não precisam estar envolvidas em alta tecnologia, tal como desenvolvimento de software. O adágio popular sobre "casa de ferreiro, espeto de pau" aplica-se à alta tecnologia tão freqüentemente quanto a qualquer outro lugar. Onde se aplica alta tecnologia em novas aplicações, tal como WEB sites corporativos, geralmente não foi por causa da liderança da alta gerência.

Tecnologia de Ponta (Inovação)

Gerentes que adotam esta estratégia dizem, com efeito: "nos esforçamos em ser os primeiros a usar novas tecnologias com alto potencial de valor". Suas razões é que os pioneiros em novas tecnologias se beneficiam colhendo maiores recompensas. Eles têm conhecimento que, quando a TI é um fracasso, perdem seu investimento, enquanto os que observam à margem podem evitar a armadilha. A suposição aqui é que os benefícios de alguns êxitos grandes excederão o custo de muitos inícios em falso. Esta estratégia requer uma cultura que tolera o fracasso e gerentes que estão dispostos a cortar suas perdas por admitir que uma idéia atraente não fez parte do cenário.

Usar a tecnologia de ponta por algum tempo não é o mesmo que adotar deliberadamente uma estratégia de inovação. Praticamente todas as empresas usam a última palavra em tecnologia de vez em quando. Com uma estratégia de inovação, o lema é "Primeiro a Tecnologia!". A empresa procura meios para explorar tecnologias de ponta como uma meta inerentemente desejável. Pode montar laboratórios nos quais os empregados podem experimentar novos hardware e software, servir como um local de teste para vendedores e deixar saber que não se intimidará com produtos não comprovados.

Usar a tecnologia de ponta em sistemas de informação não é a mesma coisa que a usar em um produto específico. Isto é óbvio quando um produto da organização exige, digamos, plásticos moldados: por que deveria o estado da arte da tecnologia em plástico moldado implicar em qualquer coisa sobre sistemas de informação? A mesma lógica se aplica quando alguns produtos da empresa envolvem a tecnologia de informação. Uma organização pode desenvolver (por exemplo) servidores Web baseados na última palavra em hardware, mas optam por um enfoque mais conservador em sistemas internos de informação. A tecnologia em produtos e a tecnologia de uso da TI são conceitualmente separadas.

Uma diretriz estratégica de tecnologia de ponta pode entrar em conflito com os padrões organizacionais. Os padrões, quase por definição, foram implantados antes de uma nova tecnologia e não pode refleti-la. E padrões significam prevenção contra experimentações sem limites. Padrões baseados em produtos de venda importantes podem, particularmente, trabalhar contra inovações, desde que estas inovações tendam a vir de pequenas empresas. Quando líderes de mercado desenvolvem novos produtos, a tendência é que esses produtos melhoraram o enfoque existente sobre processamento de informação, em vez de desbravar novos horizontes. Uma organização que adota uma estratégia de tecnologia de ponta não deve descartar padrões, mas deve ser flexível em aplicá-los.

Livre Mercado

Esta diretriz estratégica cria, como seu nome sugere, um mercado livre em serviços de informação. Gerentes, individualmente, podem encontrar suas necessidades em qualquer meio que vêem necessidade de ajustamento. O grupo de sistemas de informação corporativo deve ser tão competitivo para seu negócio do mesmo modo que qualquer outro vendedor. Sua existência continuada depende da sua capacidade de ganhar uma parte razoável do negócio. O enfoque do Mercado Livre é conveniente para empresas com uma cultura de gerenciamento descentralizada, onde os gerentes têm grande liberdade e poucos padrões a seguir. Nas companhias com independentes unidades de negócio em diferentes mercados freqüentemente assenta muito bem esta estratégia. Uma estratégia de Livre Mercado levada ao extremo pode criar tanta destruição que os sistemas de informação da empresa tornam-se quase impossíveis de serem desenvolvidos. Em vista disso, poucas empresas vão ao limite nesta direção. Antes, estabelecem padrões mínimos para interoperabilidade e dão liberdade aos gerentes dentro desses padrões. Em vez de falar, "você deve usar este sistema de contabilidade", dizem "você deve informar seus dados financeiros em tal-e-tal formato". Se os padrões são razoáveis, eles deveriam, ainda, permitir uma liberdade razoável.

Monopólio

A diretriz estratégica chamada de Monopólio coloca a organização interna do gerenciamento de sistemas de informação da organização no colo do dirigente. A alta gerência determina que todos os usuários devem receber seus serviços de processamento de informação da gerência de sistemas de informação ou de fontes aprovadas por eles. Reflete uma atitude algo paternalista em que o departamento de MIS presume saber o que é melhor para a organização. Se aquele departamento está sintonizado com necessidades do negócio, esta estratégia pode funcionar, mas, infelizmente, nem sempre é o caso.

Uma Estratégia de Monopólio não é um decreto de mão única, que só impõe obrigações aos usuários. Ela assegura a posição de "chefe da TI" para a Gerência de Sistemas de Informação da corporação, mas não deve parar aí. Também requer que o grupo proporcione alto padrão de satisfação para os usuários. Assim, enquanto os usuários estão em uma posição de "pegar ou largar", deveriam ir ao encontro das suas necessidades. A Estratégia do Monopólio tende a tomar lugar nas companhias que têm uma cultura organizacional centralizada. Os gerentes que são usados para responder pela central de serviços e liderança em seu trabalho considerarão natural responder também pela TI. Tais empresas podem obter economias de escala e eficiência operacional com este enfoque.

Recursos Escassos

A diretriz estratégica chamada de Recursos Escassos propõe que os recursos corporativos devem ser investidos com objetivo de retorno de lucro direto o maior possível. Os investimentos da tecnologia de informação devem ser justificados em termos de um retorno claro ao negócio, normalmente em termos financeiros. A especulação é que a melhor informação executiva poderia levar a melhores decisões não é uma justificativa adequada para instalação de um EIS (Enterprise Information System). A informação precisa, decisões específicas e o valor de melhoramento dessas decisões devem ser analisados em relação ao custo do EIS. Uma firma que usa esta diretriz estratégica pode se achar sucateada, com a tecnologia que outros já descartaram como obsoletas, mas, se a estratégia é conscienciosa e cuidadosamente escolhida, então fazê-la pode ser completamente lucrativo.

Desde que os benefícios dos sistemas estratégicos de informação são freqüentemente intangíveis, difíceis de quantificar, ou ambos, as firmas que usam esta diretriz estratégica tendem a não implementar tais sistemas até que seu valor seja comprovado pela concorrência. E se a concorrência que usa sistemas estratégicos obtém uma dianteira competitiva, enquanto a firma Recursos Escassos ainda está atrapalhada sobre usá-los ou não? Isso pode acontecer. Essa é a razão pela qual, como você logo lerá, a Estratégia de Recurso Escasso não é bem aceita pelas firmas onde a tecnologia de informação é encarada como uma arma competitiva.

Mal necessário

Esta diretriz estratégica tem uma filosofia previsível, ou seja, a tecnologia de informação não é usada, a menos que não exista outra alternativa. Sob esta estratégia, só as aplicações obrigatórias são automatizadas, tais como folha de pagamento e impostos a pagar. Esta atitude, freqüentemente, é resultado de experiências negativas precoces da alta gerência no uso da TI.

A grade da diretriz estratégica

Enquanto a quarta premissa de análise da diretriz estratégica diz que, para determinada organização, certas diretrizes estratégicas são mais adequadas que outras, a quinta premissa afirma que uma diretriz conveniente pode ser escolhida com base em fatores externos. Juntando estas duas, entendemos que conhecer as características de uma organização pode nos ajudar a selecionar uma estratégia adequada para ela.

A identificação de duas características ajuda na escolha de uma boa diretriz estratégica:

  • Qual a dependência atual da tecnologia de informação;
  • Quão fortemente a tecnologia de informação poderá afetar sua posição competitiva no futuro.

Cada uma destas características pode ser avaliada como alta ou baixa. O resultado das quatro combinações produz uma grade 2x2:

 

O eixo horizontal desta grade reflete quão dependente a organização está da tecnologia de informação para seu presente funcionamento e sua posição competitiva atual. A avaliação de uma organização não é absoluta, mas relativa a outras firmas. Hoje, todas as companhias são dependentes da tecnologia de informação, mesmo que em algum grau muito pequeno. Mas algumas firmas estão mais altamente comprometidas com a tecnologia que outras. Aparecem no lado esquerdo (Alto) da grade. Estas empresas, tipicamente, não sobreviveriam com o processamento de informação desatualizado sem sofrer um desastre econômico significativo. Firmas que são relativamente menos dependentes-não totalmente independentes, mas relativamente menos dependentes-aparecem no lado direito. Muitas destas firmas poderiam ficar sem computador por um ou dois dias com pequeno ou nenhum impacto nos negócios, além de algumas horas extras no escritório para posterior atualização.

O eixo vertical reflete a importância potencial da tecnologia de informação em fazer a firma mais competitiva no futuro. Uma firma só pode ser posicionada ao longo deste eixo no contexto de sua estratégia subjacente de negócio. Uma firma usando uma estratégia pode achar a tecnologia de informação vital para o sucesso. Uma firma com produtos semelhantes na mesma indústria, mas com uma estratégia diferente, pode achá-la quase irrelevante.

As firmas que vêem uma margem competitiva relativamente grande através de aplicações criativas de tecnologia de informação entram na metade superior da grade. Para aquelas que isto é menos significativo em termos de sua posição competitiva, entram na metade inferior.

Os desenvolvedores dos conceitos da diretriz estratégica designaram os rótulos para os quadrantes da grade. Estes termos podem parecer confusos, a partir do momento que têm outros significados em outros contextos. A palavra "Manufatura", usada como rótulo para um quadrante da diretriz estratégica, não quer dizer que uma firma neste quadrante tem uma Manufatura ou fabrica qualquer coisa. "Reestruturação" não significa que uma firma está trabalhando em negócios voltados para si mesma. O mesmo aplica aos nomes da diretriz estratégica: dizer que uma firma usa uma diretriz estratégica Monopólio não implica que tenha um monopólio. A melhor maneira de pensar sobre estas palavras é que são somente rótulos destituídos de qualquer significado. Embora não seja totalmente verdadeiro ajuda a reduzir a confusão.

Os quadrantes:

  1. Estratégico: firmas nas quais tanto as operações atuais como as vantagens competitivas futuras dependem fortemente da tecnologia de informação.
  2. Reestruturação: firmas nas quais operações atuais não são tão altamente dependentes da TI, mas as vantagens competitivas futuras serão.
  3. Manufatura: firmas que dependem da TI nas operações do dia-a-dia, mas não focam o ganho significativo de vantagens em novas aplicações de TI.
  4. Suporte: firmas que nem dependem extensivamente de TI atualmente e nem objetivam ganhos com vantagens competitivas futuras.

Relacionando as estratégias da grade

As introspecções reais da teoria de diretrizes estratégicas vêm do relacionamento entre a grade e as próprias estratégias. Certas estratégias são vistas como adequadas para empresas que estão em determinado quadrante da grade, mas não para outras que estão em outro quadrante. A adequação para diferentes diretrizes estratégicas nos respectivos quadrantes é mostrada na seguinte figura.

Para as firmas situadas no quadrante Estratégico, o ideal seria usar o Planejamento Central como diretriz estratégica. Este é o melhor meio de assegurar que a tecnologia de informação esteja plenamente integrada com a estratégia de negócios da empresa. Se não for prática, como poderia não ser, caso a gerência sênior não tenha o interesse necessário em TI, a estratégia de tecnologia de ponta é a melhor alternativa.

Entretanto, para firmas no quadrante de Reestruturação, a Tecnologia de Ponta é a melhor estratégia. Estas firmas devem desenvolver novas aplicações estratégicas, mesmo que elas não tenham orientação cultural em TI tão enraizada quanto uma firma com longa dependência em TI em suas operações deveria ter. A consciência do usuário do que é possível com TI não é tão grande quanto seria em uma firma no quadrante Estratégico. A estratégia de Tecnologia de Ponta produzirá aplicações que, em outras estratégias, não aconteceriam. Se esta Diretriz não é viável, ambas, Mercado Livre ou Planejamento Central, podem ser praticáveis para trabalhar.

As firmas na classe de Manufatura necessitam de serviços de TI que sejam confiáveis, consistentes e disponíveis. A diretriz estratégica de Monopólio é projetada para proporcionar este recurso. Pode-se trabalhar dentro de Recursos Escassos, porém corre-se o risco de baixa qualidade de suporte subjacente onde as necessidades de negócio são relativamente urgentes.

As firmas da classe de Suporte podem utilizar bem a estratégia de Recursos Escassos, porque não são tão dependentes de TI como uma empresa da classe Manufatura. A redução de custos que Recursos Escassos alcança através da eliminação da capacidade em excesso melhorará a rentabilidade corporativa com pouco ou nenhum efeito colateral negativo.

Usando os conceitos de diretrizes estratégicas

O uso dos conceitos das diretrizes estratégicas depende se você estiver usando-a para analisar uma estratégia existente ou selecionando uma nova estratégia.

Para analisar a estratégia existente em uma firma:

  • Compreender onde a firma está situada na grade - Estratégica, Manufatura, Reestruturação ou Suporte. Faça isto olhando onde ela fica nos dois eixos da grade. Não olhe para sua diretriz estratégica ainda, pois fazer isto pode dirigi-lo para fora da realidade.
  • Veja qual diretriz estratégica a firma utiliza para comparar seu comportamento com as características listadas na tabela e a linha de discussão seguida. Não considere sua posição na grade enquanto determina isto.
  • Finalmente, depois que você determinou o quadrante e a diretriz estratégica, independentemente uma da outra, olhe para as estratégias listadas em cada quadrante da grade na última figura para ver se a estratégia da firma combina com sua posição. Se coincidirem, então a firma fez uma escolha apropriada. Se não, a firma ou está desperdiçando recursos na tecnologia de informação ou não colhe os benefícios que deveria, ou ambos.
  • Se você suspeita que a firma poderia escolher uma mais apropriada, use o próximo procedimento.

Uma armadilha comum é supor que uma firma está usando uma diretriz estratégica apropriada - dizendo, por exemplo, "esta firma está no quadrante esquerdo superior, então, eles provavelmente estão usando uma diretriz estratégica de Planejamento Central". Infelizmente, o mundo não é todo certinho. As firmas nem sempre escolhem uma boa diretriz estratégica, mesmo que sempre escolham uma boa campanha publicitária ou estrutura de capital. O conceito de diretriz estratégica pode ser usado como uma ferramenta para diagnosticar erros nesta área.

Para selecionar uma boa diretriz estratégica para uma firma, iniciamos do mesmo modo como começaríamos a analisar a diretriz estratégica atual: localizando a firma no quadrante correto da grade. Aquele quadrante estreitará as escolhas, diminuindo-as para algumas estratégias convenientes. Então, baseie a escolha nas recomendações daquele quadrante da grade. Vá embaixo da primeira escolha sobre a base de:

  • Cultura da organização. Uma organização com forte controle central de gerenciamento não assimilará bem uma estratégia de Livre Mercado. Alguém com muita independência administrativa no nível operacional pode ter problemas com Planejamento Central. Uma organização que é conservadora em seus enfoques para outras áreas do negócio provavelmente não tolerará bem uma estratégia de Tecnologia de Ponta para a tecnologia de informação.
  • Preferências da alta gerência. Uma estratégia de Planejamento Central requer um compromisso de tempo e energia que alguns gerentes estão dispostos a fazer, enquanto outros não estão. Outras preferências podem argumentar a favor ou contra alguma outra diretriz estratégica.

O quadrante que uma firma se encontra tem implicações fortes para cada aspecto de sua estratégia de tecnologia de informação. Como F. Warren McFarlan, uma das origens da teoria da diretriz estratégica, discursa: "Companhias no quadrante estratégico devem pagar mais caro pela tecnologia de ponta. E entender que, se você está na borda, você pode, às vezes, ser soprado para fora da água. Você não está jogando para ganhar todas. De fato, necessita preocupar-se que você não está correndo risco suficiente. Por outro lado, o quadrante de Suporte é um lugar péssimo para estar jogando dados".

O papel dos usuários

Usuários de Sistemas de Informação têm papéis diferentes para atuar sob cada diretriz estratégica. Como um futuro usuário de TI pode compreender a diretriz estratégica do empregador, considerando que isto é importante para seu funcionamento eficaz? McFarlan resume-os:

  • Planejamento Central: contribuir para o uso construtivo de TI pela identificação de oportunidades para seu uso competitivo em todos os níveis.
  • Tecnologia de Ponta: fazer experiências com a nova tecnologia como julgar adequado, e usar a nova tecnologia como ela foi desenvolvida.
  • Mercado Livre: identificar e executar oportunidades para o uso competitivo de TI em todos os níveis. Distinguir esta execução do papel dos usuários da diretriz estratégica de Planejamento Central.
  • Monopólio: buscar a utilidade interna de informação da firma quando necessitar de algo.
  • Recurso Escasso: identificar a justificação de custo de projetos quando eles surgem.
  • Mal Necessário: numa firma deste tipo, são poucas as chances de usar TI. Se acontecer, espere receber só o necessário e pouca coisa mais.

O papel da alta gerência administrando TI

Uma diretriz estratégica da empresa, tal como estratégias de marketing ou financeira, é a chave determinante do futuro do seu negócio. Como a alta gerência tem a obrigação de estar envolvida na escolha dessas estratégias, também deveria estar envolvida na escolha da diretriz estratégica. Deveria então

  1. Estar ciente que a firma tem uma diretriz estratégica.
  2. Demarcar, ou confirmar o que já foi determinado sobre aquela diretriz estratégica.
  3. Verificar se a diretriz estratégica da empresa é apropriada para a sua situação e sua cultura.
  4. Comprometer-se pessoalmente a executar suas responsabilidades sob aquela diretriz estratégica.
  5. Assegurar-se que o resto da firma está ciente da diretriz estratégica, saber o que significa para eles e atuar consistentemente com ela.

Se a alta gerência de uma organização executa estas cinco responsabilidades, a firma estará centrada no uso eficiente da tecnologia de informação.

Como tudo se encaixa

As três determinantes da estratégia de informação da organização são:

  1. A atividade.
  2. Sua estratégia dentro daquela atividade.
  3. Sua posição, que engloba cultura, posição competitiva em sua atividade e o uso de tecnologia.

Estes três fatores determinam a diretriz estratégica apropriada para uma organização usar. A atividade e a estratégia determinam o potencial para a ajuda da tecnologia de informação - o eixo vertical da grade. Sua posição determina onde se encontra em relação ao eixo horizontal. Colocando-os juntos, define-se o quadrante. Sua cultura e preferências ajudam na escolha de uma estratégia específica. Além disso, estes três fatores são também a base para selecionar a arquitetura de sistemas de informação da firma. Esta arquitetura deve ir ao encontro das necessidades funcionais básicas da atividade da firma, apoiar sua estratégia e estar ao alcance de um custo prático para sua atual posição. A arquitetura, uma vez colocada em ordem, proporciona um contexto dentro do qual a firma pode escolher plataformas específicas, bases de dados e aplicações.

* Este texto é uma tradução livre do artigo de Mallach, cuja versão original está referenciada abaixo.

Referências

MALLACH, E. G. Management information systems. 1998. Disponível em: <http://www.kensingtongroup.com/_UMass/ gradmis-handout1.htm>. Acesso em: mar. 2002.

STRAUB, D. W. S. Page 1 - IT strategy and control of the IT resource lecture, outline of topics. 2001. Disponível em: <www.cis.gsu.edu/~dstraub/JMBA/MBA8473/2001/strat4ups.pdf>. Acesso em: jun. 2002.